sexta-feira, novembro 28, 2008

Aproveitando a onda e desanuviando um pouco as atenções do já moribundo Barba Ruiva e dos comentários a que teve sujeito depois de mais essa gostosa review do Nimpo, sugiro agora que todos aqueles que se gladiaram no referido possam seguir com os seus ditos após a minha singela sugestão cinematográfica que não resisti a partilhar com vocês, seja pelo pouco espaço de tempo que mediou entre o meu visionamento e a altura em que aqui escrevo, seja pela oportunidade sugerida pelo meu ímpeto em partilhar o que se afigurou até hoje como um dos filme que mais me tocou na alma.

Ivanovo detstvo de Andrei Tarkovsky (1962)
Género: Drama

Ivanovo detstvo, ou a “Infância de Ivan” é a adaptação do realizador russo Andrei Tarkovsky de um pequeno conto baseado em factos reais do escritor russo Vladimir Bogomolov. Aclamado pela crítica de então, esquecido pelo grande público, logrou arrebatar o Leão de Ouro no festival de Veneza em 1962, sendo considerado por muitos o melhor relato de guerra que existe e, na minha opinião, é o com todo o mérito.

Este filme é todo ele uma desoladora e angustiante viagem à história de Ivan um rapazinho de 12 anos de idade que vê os seus pais e irmã mortos às mãos das tropas nazis, tornando-se depois um dos muitos jovens soviéticos usados na segunda guerra mundial, neste caso como batedor e elemento intrusivo nas hostes alemãs.

O pequeno Ivan é uma das personagens mais extraordinárias da história do cinema, principalmente tendo em conta que se trata de uma criança de 12 anos que consegue imprimir uma carga dramática sublime a uma personagem amargurada e devastada pelo sofrimento da perda da sua família. Movido pelo ódio de vingança, enceta um martírio interior em busca da justiça às mãos do seu próprio país, criando uma individualidade, maturidade, postura e linguagem mais adulta do que a dos próprios adultos em todo o filme , usando-o como que se de um abrigo protector fosse para a sua inocência escondida.

Neste filme, a rivalizar com o pequeno Ivan, só mesmo o próprio Tarkovsky e a forma como nos estampa toda a acção. As alternâncias entre os sonhos idílicos de infância, os pesadelos de vingança e as cenas de guerra e devastação, premeiam os intentos de Tarkovsky na forma como explora de forma única os efeitos da guerra na mente e no espírito do ser humano.

Este é o exemplo em que de uma história simples por vezes se consegue emergir um grande filme, sem muitos efeitos visuais, ornamentos artísticos ou técnicos, consegue-nos mostrar os maiores horrores que a guerra leva a alcançar sem exibir uma única bomba, glória ou majestosas batalhas, só o deleite visual de um cenário extinguido de vida e a compassiva existência de uma criança.



"I attempted to analyze the condition of a person who is being affected by war. When personality is disintegrating, then we have the collapse of the logical development, especially when we are dealing with the personality of a child. I always conceptualized Ivan as a destroyed personality pushed by the war from the normal axis of development."
Andrei Tarkovsky

12 comentários:

Anónimo disse...

excelente review! A parte onírica do Ivan é simplesmente das coisas mais sinceras e puras já colocadas em tela. Mais uma obra prima do Tarkovsky.

Anónimo disse...

Para o melhor de Tarvosky, o Pior de Godard, Peseudo-obras.

Hélder Aguiar disse...

Obrigado Shihan por esta brilhante review, não a teria feito melhor! Também vi à pouco este filme, e tocou-me mesmo muito. O verdadeiro conflito deste filme é sentido, verdadeiramente, no interior de Ivan. A sua personalidade é um autêntico campo de batalha entre a criança feliz e inocente que já fora, e o Homem brioso, destemido e resoluto em que se tornara, com apenas 12 anos, fruto de uma sede de vingança a quem lhe tirou tudo na vida, tão precocemente...

É um filme que revela uma dor tão profunda, faz considerações tão subtis como terríveis e angustiantes sobre esta tão evitável miséria humana, que nos esmaga literalmente como seres humanos. Faz-nos pensar que monstros horrendos seremos nós, capazes de destroçar de forma tão atroz o que há de mais puro e verdadeiro - a inocência de uma criança. Este filme vale por anos de existência, agradeço não ter morrido sem deixar de o ter visto.

Anónimo disse...

Bem, a minha visão sobre cinema, poderá ser diferente de todas estas obras de Tarvosky, sem querendo ofender que aprecie as obras deste realizador.Nunca me fez muito sentido ver os filmes dele, estar a gravar paisagens ou imaginar cenários para além do real. A minha visão sobre cinema é que o cinema é a verdade por 24 segundos tal como na vida.
A frase que se encontra em cima, colquei numa faixa quando andava nos tempos de secundário, "Para o melhor de Tarvosky, o melhor de Godard", a minha visão cinematográfica vem inspirada neste realizador, que pronuncia duas vezes o fim do cinema em Wekeend, e na doentia obra da Histoire du cinema, e é assim o cinema partilhar informações, discutir e procurar sempre mais, devo confessar quando conheci Godard deixei de amar a sétima arte, mas sim a começar a vive-la.

P.S O segundo comment foi um lapso, ao escrever carreguei em enter

Hélder Aguiar disse...

Bem vindo caríssimo Companheiro de Quarto de Eucinéfilo com as suas sugestões pertinentes e conhecimentos fascinantes. Godard merecerá certamente menção nesta rúbrica.

Caro Eucinéfilo, será tão impossível ter-se dado o caso de ter tido, em algum momento da sua vida, um companheiro de quarto? Será assim tão insecto que ninguém houvesse ousado partilhar da sua companhia? Relembre-se dos seus tempos de estudante (se é que ainda não o é), ou de uma qualquer viagem sua às Antípodas...

Anónimo disse...

Fazia agora aqui uma sugestao ao Shihan e ao Nimpo....Facam tambem reviews de filmes, bons e claro, mas nao tao rebuscados aos olhos da maioria e tentem tirar a essencia k ha neles...

Isto e so no intuito de haver reviews da globalidade do cinema, e nao de so um autor ou so de uma maneira de arte...procurem arte tambem noutros campos...

Em relacao ao post propriamente dito, execelente review...confesso k n vi o filme ainda....mas fikei com agua na boca...

Abraco

Amendoim do Ricky disse...

Skykodak, filmes bons é o que não faltam para aí, mas como não sou nenhum crítico cinéfilo limito-me a dirigir o meu tempo - que não é tão tanto quanto isso -, a dissecar aqueles que mais me tem marcado, assim como o Nimpo tem feito, penso eu. A rubrica é mesmo essa, notáveis da 7ª arte, a escolha é pessoal, subjectiva e influenciada por aqueles que mais recentemente temos visto e de outra forma não pode ser, tendo em conta as conjecturas da vida de cada um.

Já lancei o repto de se criar o espaço: deploráveis da 7ª arte, mas não sei se teremos arcaboiço para tal empreitada.

Beijinhos

Anónimo disse...

Esclarecido

Eucinéfilo disse...

Mais uma vez refiro que o único eucinéfilo é aquele que escreve sob registo.
Eucinéfilo sempre viveu sozinho, jamais teve companheiro de quarto e as únicas mulheres que com ele partilharam a intimidade foram prostitutas. Paga para se irem embora assim que deseja.

Tenho dito

Até breve

Anónimo disse...

Tenha umas boas ferias Menino Eucinefilo...

Fico feliz por seguir os meus conselhos e sair da toca....Aproveite as ferias...

Divirta-se

Anónimo disse...

Ye fell into the mistake of taking your advice, and watching this film. Yo've won, my dear portuguese people. Ye have lost ma life, scattered restlessly between bullits, anger, blind patriotism.. Ye see now.. What is all this, in the very end? Nothing. Oh, I'm so empty.. In those boy's eyes ye saw my desolation as a human being. We could all live so well, despite all this anger. There's plenty for all. Americans, Soviets, Arabs, Portuguese people... Why all this?

Ye am nothing. Nothing! Thank you.

Ye must leave now. This is the end, ma portuguese folks... Not my end as a living entity, but as ye lived till this present day.

Ye wish the best the Lord can give you.

Goodbye.

Hélder Aguiar disse...

Nunca é tarde para o Homem mudar. Fico absolutamente radiante que tenha encontrado a via da Humanidade, por entre toda a futilidade e demagogias de ódio que o rodeavam...

Que no resto da sua vida possa encontrar a paz e a verdadeira felicidade. Adeus, Park Ranger...