segunda-feira, março 23, 2009

Ler, mais que ver

O Corvo de Edgar Allan Poe (1845)

O Corvo - Edgar Allan Poe

Pelas mãos de Edgar Allan Poe (1809 – 1849), nasceram os romances policiais, o thriller psicológico, uma nova forma de construir poemas – mais curtos e objectivos –, nasceu um novo olhar sobre o sobrenatural e o mistério, sempre com o especial cuidado de não descurar os conhecimentos científicos prementes. Foi o autor do primeiro conto de uma viagem espacial com base científica: “Um homem na lua”, no poema em prosa “Eureka!” compilou as suas considerações críticas das modernas teorias cosmogónicas, e com os contos policiais “Os Crimes da Rua Morgue” e “A Carta Roubada”, conquistou a universalidade dos seus apreciadores.

O seu pioneirismo criou uma autêntica escola inspiradora de autores tão insuspeitos como Dostoiévski, Arthur Conan Doyle, Júlio Verne, e de todos aqueles que nas mais variadas criações artísticas usaram\usam o fantástico e\ou a ficção científica como matéria – o trabalho de Hitchcock é um dos exemplo disso mesmo. Faz parte do grupo restrito de indivíduos que acrescentaram algo mais à criação humana e, só por isso, merece toda a consideração e atenção que lhe possam ser dispensadas.

O Corvo é um dos mais conhecidos poemas da literatura norte-americana, e como tantos outros poemas, foi traduzido para várias línguas pelos maiores nomes da literatura mundial, atraídos pelo seu fascinante mundo. Em português, Fernando Pessoa e Machado de Assis assinaram diferentes e inspiradoras traduções do Corvo, demonstrando a particular singularidade do texto.Edgar Allan Poe

Numa meia-noite de Dezembro, um homem tentado aliviar a sua mágoa pela amada “Lenore” para sempre perdida, busca distracção em livros de ciências ancestrais. Na sua modorra, houve um bater na porta, ao abri-la, vê escuridão e nada mais. Suspirando por Lenore, volta para dentro com a alma a arder. Um novo bater na janela, fá-lo abrir a vidraça, e eis que, com muita negaça, entra grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais, pousando no busto de Atena. O corvo, para surpresa do homem, responde às suas perguntas apenas com um lacónico “nevermore”.

Esta interacção do narrador com o corvo, símbolo de uma sabedoria negra e desconhecida, e as suas respostas, enunciadas no final de cada estrofe, apenas com a palavra Nevermore, adquire de cada vez um diferente sentido, princípio da beleza do texto e resultado da mísera auto-tortura do narrador, revelando um dos principais impulsos da natureza humana: interpretar sinais que na realidade nada querem dizer.


"And the Raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid Bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seming of a demon's that is dreaming,
And the lamp-light o'er him streaming throws his shadow on the floor;
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Shall be lifted - nevermore!"


"E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demónio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
E a minh'alma d'essa sombra, que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!"

2 comentários:

Hélder Aguiar disse...

Obrigado por mais esta excelente sugestão my friend ; )

Mariana disse...

Good review!