segunda-feira, abril 27, 2009

Notáveis 7ª arte


Mysterious Skin de Gregg Araki (2004)

Género: Drama

Adicionar imagem dias tive o prazer de assistir em casa a este filme, Mysterious Skin, Pele Misteriosa na deliciosa tradução para português. Comecei a vê-lo com poucas (ou mesmo nenhumas) expectativas, seduzido por algumas opiniões favoráveis e alguns quantos prémios ganhos em festivais importantes, mas sem pesquisar, sequer, o assunto principal retratado. Bastaram poucos minutos de filme para perceber o seu tema e ficar colado ao ecrã. Um autêntico murro no estômago.

Gregg Akari teve a coragem de ousar realizar um filme sob o pesado e difícil tema da pedofilia. Optou, inteligentemente, por uma abordagem "psicanalítica" do assunto, afastando-se de qualquer juízo, relatando a história de dois seres, como que dois filmes diferentes, e como o(s) acto(s) hediondo(s) se repercutiram nas suas vidas de formas completamente diferentes. É uma narrativa fluida, realista e muito dreamy, inspirando-se claramente em referências como Elephant ou Requiem for a Dream, a perfeita alusão à inocência obliterada, com um toque de Magnolia. Mas, não tirando o mérito ao realizador, metade do encanto do filme deve-se a Joseph Gordon-Levitt. Foi a interpretação perfeita para o "personagem perfeito" - assustadoramente convincente, parecendo talhado para o papel, e preenchendo verdadeiramente o ecrã com a sua aura. Retrata fielmente a dualidade interior de uma infância arruinada: libertino, sem regras, roçando o vilão, mas no fundo, humano como qualquer um de nós, e carente como qualquer criança destroçada. A meu ver, o que o salvou de uma existência em espiral decadente, foi a amiga, Wendy (Michelle Trachtenberg).

Ainda que ele não o perceba, foi ela o seu suporte de sanidade, toda a sua vida. Algo de inexplicável a fez, ainda em tenra infância, não se afastar dele, mesmo quando percebeu o seu segredo. Qualquer outra criança teria fugido. Mas ela não. E esta foi a sorte maior da vida do Neil. Foi a sua única confidente. Durante longos anos foi o seu elo de ligação à realidade, da sua separação entre o bem e o mal, e é graças a ela que ele hoje é humano. Ela foi a sua amiga, a sua mãe, foi tudo para ele. Ela ama-o... sempre o amou! Quanto a ele, mesmo sendo como é, também a ama. Mas não o sabe. Talvez nunca o saberá.

O amor platónico de Wendy por Neil.

"Queria dizer-lhe que tudo tinha acabado e que estava tudo bem. Mas era mentira... Quem me dera haver uma maneira de ir ao passado, poder mudá-lo! Mas não há. E não há nada que possa fazer a esse respeito. Desejo por tudo que pudéssemos deixar tudo para trás. E nos elevássemos, como anjos na noite, e magicamente, desaparecessemos... ", Neil

1 comentários:

O Shihan disse...

Como ainda não vi o filme, tenho de me abster, por agora, de o comentar. Fica a saudação para o regresso do Nimpo e as suas crónicas sempre tão particulares. Esperemos que o tempo, a paciência, e a inspiração se alinhem, para que este regresso não seja fugaz.

Salud! =)