segunda-feira, maio 18, 2009

Notáveis 7ª arte

The Curious Case of Benjamin Button de David Fincher (2008)

Género: Drama / Fantasia

O som do tabaco a arder, o silêncio da noite e eu. O fumo envolve-me, teias de névoa deslizando pela suave brisa. E ponho-me em considerações como a vida é de facto bela, como sou afortunado, como tudo e todos à minha volta parecem finalmente tomar o seu rumo na felicidade idealizada. Como somos jovens, e como tudo existe à nossa frente. E mesmo que tudo corra mal, podemos recomeçar tudo de novo. E reinventar. E outra vez. Tudo é possível! O mundo aí está, cheio de infindáveis oportunidades, cidadãos do mundo! E porém, tudo acaba. Nada é eterno, penso. O que realmente importa, neste curto fôlego de vida, é a forma como a celebramos, como tiramos inteiro proveito dela. Ao ritmo das inspirações e expirações profundas sinto-me leve, quase despegado do mundo. 

E se nascessemos velhos e morressemos novos? Que diferenças implicaria na nossa visão da vida? É este axioma que O Caso Curioso de Benjamim Button utiliza, inspirando-se na pequena história com o mesmo nome de 1921 de Scott Fitzgerald. Benjamin nasce velho, na apoteose da noite do final da 1ª Guerra Mundial, surgido do romantismo idílico de um homem que, na esperança de ver de volta o filho roubado pela guerra, constrói um relógio com o movimento ao contrário. 

A vida de Benjamin é contada de início ao fim, lida do seu diário, e já no leito de morte de Daisy, a fiel conhecedora do seu segredo. Precocemente conhece-a, ambos nos extremos opostos da aparência, apesar da mesma idade. Logo desenvolvem um afecto mútuo que os marcará para toda a vida. Muitos mais personagens Benjamin vai encontrando na sua interessante vida. Gente que nasce, muita gente que morre, sobretudo muita gente esquisita... Todos, no entanto, sequentos de viver e rejubilando pela vida, mas transtornados por um ou outro motivo, nunca completando por completo o ciclo da felicidade. Benjamin passa por todos, retendo a sua impressão e aprendendo algo com cada um deles, desde o prazer, o amor, à amizade... É interessante observar o quão mais adulto, ponderado e reflexivo Benjamin se torna à medida que rejuvenesce. E de quando em vez a sua vida intercruza-se com a de Daisy, várias, muitas vezes, até ao ponto em que as suas vidas se atingem no momento em que aparentam a mesma idade... E nada será como dantes. Mas tudo acaba, nada é eterno. Ambos bem sabem.

O argumento do filme não desilude, está cheio de diálogos e citações marcantes, bem como as interpretações, ou não estivessemos a falar de dois actores consagrados. Os efeitos especiais surpreendem, vemos Brad Pitt passar de 90 para 15 anos com uma naturalidade fora do comum. A cinematografia também tem uma palavra a dizer, com utilização de interessantes efeitos sepia/animados em flashbacks.

Ao viver a vida de forma oposta ao comum, Benjamin aproveita-a o melhor que soube, vagueando pelo mundo saborando cada forma de vida, cada momento (até em plena 2ª Guerra Mundial), cada cultura, e em cada impressão sua é possível retirar interessantes ilações sobre a a forma como atingimos uma felicidade (sempre passageira) de diferentíssimas formas, e como geralmente desperdiçamos a vida na falsa segurança das rotinas. E, como tudo o que um dia é belo e cheio de força e energia, acaba por sucumbir ao efeito inexorável e demolidor do tempo. Daisy foi um dos poucos eixos, senão mesmo o único, que permaneceu do início ao fim da sua vida, e por isso mesmo o motivo maior da mágoa da sua existência.

Este é um daqueles filmes que, pelo conteúdo, mensagem ou teor, nos deixam uma impressão bonita e uma mensagem edificante, passível de ser interpretada de variadas formas. A meu ver, tem mais valor em relação a filmes como Quem Quer Ser Bilionário, também um bom filme, poderia ser um óptimo filme, mas cujo final fechado e obsoleto é completamente desapontante, ao alcance de qualquer telenovela do meio da tarde da TVI... Este é, sem dúvida, o melhor dos dois filmes, e deveria, a meu ver, ter ganho.

3 comentários:

O Shihan disse...

O filme mais mediatizado dos Óscares, tão mediatizado que chegou a exaurir até enjoar. Certamente um grande filme, a ver.

Carla disse...

Um filme que recordo com a sensação de um génio passado e presente, sensível, que se conhece e se sente.
Um imaginário que recomendo vivamente! :) (não planeei a rima! =P)

Mariana disse...

De tanto já ter ouvido falar, e sobretudo pela diversidade de opiniões com qual me tenho deparado, confesso ter curiosidade em vê-lo. Para breve...