quinta-feira, setembro 10, 2009

Ler, mais que ver 389x152

A Quinta dos Animais de George Orwell (1945)

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“0s animais diante da janela olhavam dos porcos para os homens, dos homens para os porcos, e novamente dos porcos para os homens: mas era já impossível distingui-los uns dos outros.”

A Quinta dos Animais, Animal Farm, no título original, ou o Triunfo dos Porcos, como ficou mais conhecido em Portugal, é uma fábula criada por George Orwell, nos anos 40, como metáfora ao mito soviético vivido na Inglaterra do pós-guerra. Orwell acreditava no socialismo, não como modelo teórico, mas como consequência prática das desigualdades entre os homens. Precisamente, Orwell viu o desvirtuar dos seus ideais, na evolução da revolução socialista, culminar na bárbara e ditatorial União Soviética de Estaline, e na Guerra Civil Espanhola, na qual participou.

Nesta história, os animais de uma quinta revoltam-se contra o seu proprietário humano, incentivados pelas ideia revolucionária dos porcos - todos os animais deveriam ser considerados como iguais, e livres da tirania do Homem.

A harmonia inicial entre os animais, estabelecida por uma série de princípios a que os porcos chamaram “Animalismo”, resumida em 7 mandamentos, é lentamente substituída pela hierarquização e tecnocracia imposta pelos porcos, que, dissimuladamente, assumem a liderança da quinta, por força da sua superioridade intelectual, a que nenhum outro animal se consegue impor.

Remetidos a um papel de chefia, sem nada de concreto realmente fazerem, os porcos começam a adoptar, lentamente, virtudes humanas, que com o tempo, astúcia e indefectíveis exortações, vão logrando os outros animais, até, finalmente se equilibrarem em duas patas, adquirirem vícios humanos e, resumirem os princípios do Animalismo num só:

Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros.        

Ler esta pequena história de Orwell é ler uma exímia alegoria à revolução russa, entre os anos de 1917 e 1943, uma sátira que mascara os principais actores políticos – Karl Marx, Lenine, Trotsky, Estaline –, os vários sectores da sociedade russa – a igreja ortodoxa, o proletariado –, os seus vizinhos, aliados e beligerantes – a Alemanha Nazi, o mundo ocidental –, reduzindo um país a uma quinta e o mundo a uma vila e, uma pertença fatalidade biológica a um vício fatal do homem pelo despotismo, mesmo quando este, aparentemente, parte dos mais nobres princípios.

d0fbde0c0865224b_landing Estaline, ditador russo, líder da União Soviética e um dos principais alvos das críticas de Orwell.

Mas o que encerra esta fábula, vai muito mais para além da analogia com um período da história mundial, e da crítica acérrima ao estado soviético e ao seu partido único – o partido comunista –, evoca, sem proselitismos, a força da propaganda e das armadilhas do discurso como meio de persuasão dos menos preparados, e portanto, mais fracos – hoje em dia, mais do que nunca, a principal arma ao serviço da política.

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