segunda-feira, outubro 05, 2009

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Porcupine Tree ::: The Incident (2009)

Seguindo as linhas orientadoras de “Insurgentes”, o álbum a solo de Steven Wilson editado uns meses antes, The Incident é um ciclo musical contínuo, diversificado por várias pequenas faixas dissonantes de um amplo espectro musical, desde pop (“Drawing the Line”) a rock extremamente pesado (“Bonnie the Cat”), com tudo o que há no meio. Ao contrário de “Insurgentes”, a fórmula, aqui, é notavelmente coesa, apesar de longe de funcionar como “uma única música”, como Wilson se referiu a este álbum.

Podemos afirmar que, ao longo dos anos, Steven Wilson construiu o universo de Porcupine Tree quase como Gestaltismo - a partir de dezenas de sonoridades do seu amplo conjunto de bandas de eleição, decompô-las, misturou-as e produziu-as, acabando por formar um todo, algo sempre de diferente, harmonioso, sentido e único – o seu espaço – um todo diferente das suas partes, apesar de cada uma delas não se afirmar como original. “Blackest Eyes”, do álbum In Absentia, é o epítomo desta arte: a maneira como os dois estados de espírito extremos se entrecruzam harmoniosamente é notável e único, mas se analisarmos individualmente cada riff, cada linha musical, nada de novo há ali.

The Incident, infelizmente, acaba por perder um pouco esta arte de Porcupine Tree. Retém muito das influências que o conceberam. . "The Yellow Windows of the Evening Train" soa demasiadamente parecido à introdução do album Takk dos Sigur Rós, por exemplo, enquanto que a linha de guitarra de "Great Expectations" é uma subtil variação do de "Just" (Radiohead, The Bends), uma das paixões de Wilson. Mas o exemplo mais flagrante encontra-se em “Time Flies”, a faixa principal do álbum, que, nos seus 11 minutos, a maioria dos quais poderiam constar do álbum “Animals” dos Pink Floyd: uma variação ligeira do riff de guitarra distinto de “Dogs” com o órgão distinto de “Sheep” – e está feito o cerne da música. O resto do álbum, na quase totalidade nada traz de novo, reciclando, muitas vezes, riffs e sons anteriores. É notório a tentativa de inspiração na arquitectura de In Absentia, no entanto acaba por ser uma versão muito pálida do álbum mais aclamado de Porcupine Tree. “The Blind House” é uma faixa-irmã de “Blackest Eyes”, com um riff extraordinariamente pesado contrastando com a doçura (talvez Wilson esteja cansado de tocar “Blackest Eyes” ao vivo), no entanto é notoriamente a irmã mais pobre, apesar de conter mais secções musicais. “Drawing the Line” é provavelmente a música mais pop de Porcupine Tree, com o seu refrão a la “Best of You” dos Foo Fighters, o que é uma surpresa na banda. “The Incident” uma variação fast-tempo de “Sleep Together” (última faixa de “Fear of a Blank Planet”), perdendo a complexidade que a tornava tão especial. “Circle of Manias” é, grosseiramente, uma simbiose de “Wedding Nails” com “Strip the Soul” (mais uma vez, In Absentia). As faixas “Octane Twisted/The Séance” são provavelmente as mais harmoniosas e libertas de indulgência, por isso mesmo as mais mágicas e especiais.

O melhor de The Incident está reservado para o 2º cd, com, especialmente, “Bonnie the Cat”. Dominada por uma estrutura anárquica e o riff de baixo marcante e pontuado, esta é uma faixa verdadeiramente original, e o oásis de salvação do álbum.

O álbum é conceptual, lidando com momentos inesperados nas nossas vidas (os chamados, incidentes) que nos marcam e nos alteram para sempre. Liricamente, contudo, Wilson não soube, de modo geral, dar corpo a esta história, sendo até, por vezes, ingénuo e infantil nas afirmações. Muito longe das metáforas extraordinárias de “In Absentia” ou, pegando numas mais simples, as do “Lightbulb Sun”, simples mas puras, verdadeiras, tornando tudo tão vividamente real.

Globalmente, The Incident acaba por desiludir. Não contém um elemento que o torne especial, único, como nos outros álbuns de Porcupine Tree. Comparado com os três últimos álbuns de Porcupine Tree, com sonoridade similar, é um espelho baço, um quadro sem cor. É um álbum demasiadamente obcecado com a produção, perdendo em creatividade e sentimento geral, perdido nos meandros do “ter que soar isto, ter que soar aquilo”. Fica a impressão que poderia ser um álbum muito melhor, se feito com mais tempo. Mas, para Steven Wilson, “time flies”.

5,5/10 (Trivial na sua globalidade, mas com um ou outro bom momento)

1 comentários:

O Shihan disse...

Desta vez também tenho de concordar, o Steven desiludiu - acontece invariavelmente quando as expectativas estão demasiadamente altas. Ao The Incident falta-lhe a beleza de um Lightbulb Sun, a virtuosidade de um In Absentia e, tentando aproximar-se de um universo Fear of Blank Planet, perde a eficácia da magia do seu antecessor.

Esquecendo as similitudes sonoras, gritantes para quem se compenetra há muito tempo nestas andanças musicais, não deixa de ser uma belíssima peça musical, muito aconselhável numa audição com a sua edição especial.