sábado, novembro 28, 2009

Para memória futura!

Boys on the Beach (1910) Young Boys on the Beach – Joaquín Sorolla (1910)

O espanhol Joaquín Sorolla é conhecido por ter captado cenas de praia; explora a luz e os contrastes das suas cores, como poucos. O efeito pictórico dos seus quadros traz-nos à recordação lembranças comuns a todos nós, guardadas nos espaços mais remotos da nossa memória, dos tempos de inocência.

A minha memória ainda é o que era, e é hoje mais do que antes foi. E sublinho hoje porque o amanhã desconheço.

Percebo agora que o título deste texto não faz sentido - mas como é bonito vou deixar ficar na mesma -, não existe isso da memória futura, porque não podemos ter memória do que ainda não aconteceu e, pensando bem, tudo o que fazemos poderá ser passível de memória futura. Uma recente série americana (altamente aconselhável) explora este conceito que na realidade não passa de um vazio retórico.

O tempo acaba por apagar muitas das recordações, persistindo aquelas que resistem à força da passagem do tempo e a esse complexo mecanismo psicológico de arquivo a que recorremos sempre que necessitamos - a chamada memória presente, a única que realmente existe.

Da mesma forma que de um único lugar temos apenas uma perspectiva, e só vemos a partir desse sítio, até onde a nossa vista alcança, o presente é o lugar de onde se observa e de onde se imagina o futuro e se lê o passado, em função das emoções do momento, que nos faz ter a multiplicidade de sentimentos vividos no presente.

A nossa capacidade de regeneração e crescimento é admirável. Sou diferente de ontem mas igual a amanhã, no fundo, sou o que sou hoje sem prejuízo para a minha memória, e enquanto isso acontecer, descanso na lembrança.

2 comentários:

Mariana disse...

Gostei deste poema...

"Olhei as nervuras das folhas caídas e nelas vi
marcas, imagens, textos, memórias, confissões,
palavras gravadas de fresco hoje,
gravadas de fresco ontem,
de fresco há muito tempo,
palavras gravadas de fresco no futuro pelo pó dos sapatos.
Deu-se então o meu apercebimento
de ser aquela a árvore dos testemunhos.
Talvez por isso vi chegar a pergunta:
o que uma mão de homem pode
seria capaz de abanar a árvore dos testemunhos?
Não ficou em mim nenhuma infância depois disso."

Hélder Aguiar disse...

vocês os dois estão numa fase bem poético-filosófica =) Adorei o post e o poema : )