sexta-feira, janeiro 08, 2010

A expectativa

Reclining Nude, 1929 - Max BeckmannReclining Nude de Max Beckmann (1929)

Conduz-se pelo desejo e trai-nos maioria das vezes. É a expectativa que nos ajuda a bulir numa determinada direcção - certa ou errada, pecaminosa ou sacra, mais ou menos prosaica (dependendo dos olhos de quem a observa), dá, na pior das hipóteses e a título de dote afiançado, o conforto no dever cumprido.

Só o tempo revela as apostas gastas e as goradas, nesse espírito de quem passa veloz, rápido, mas que se recusa persistentemente, e de forma obstinada, a não sair da frente. O senso comum diz-nos que é a busca do prazer que nos dá o ímpeto para agir. Uma mulher nua pode ser o objecto do reforço necessário para agir, assim como o é a droga para um toxicodependente, mesmo sabendo-se destruído e no caminho da dor e do sofrimento, ou o é o dinheiro, como forma de justificação das maiores indignidades humanas.

Há um paradoxo revelado pela bioquímica que contraria a filosofia do senso comum. A dopamina é uma molécula que se liberta nos nossos neurónios, sempre que as coisas estão a correr no sentido da expectativa desejada. Quando o prazer é alcançado a libertação de dopamina cessa. A expectativa, só por si, não é o suficiente para nos levar a agir, muito menos o próprio prazer, mas sim o esforço feito para alcançar o fim. Por isso, é a dificuldade, os passos dados, as barreiras a ultrapassar que fazem a diligência, intensificam a vontade e nos fazem mexer.

É no adiar da recompensa que se fortalece o desejo, impele-se o ânimo e se termina com a expectativa criada pelo retrato de um texto, que mostra aquilo que não é.

2 comentários:

Hélder Aguiar disse...

Bonita reflexão : )

Johnny Sorato disse...

muito bom... mas onde se encaixariam a filosofia malandrista do homem e da mulher de ninguém a não ser a quele na sua frente e o outro na sua frente. Ou ainda como encarar o habito, o apego e a construção?