A Vida Dramática dos Reis de Portugal
de José Brandão (2008)
“Conhecer-se a si próprio foi, desde a mais remota Antiguidade, a principal condição de virtude.”
O grosso da história de um país chamado Portugal foi vivido sob o domínio do regime monárquico - o único que durante séculos garantiu uma unidade possível entre os diferentes povos, quando as suas aspirações e as dos seus contrários assim o permitiam. Eram estes monarcas os representantes de uma identidade e de uma soberania venerada que punha e dispunha ao sabor da sua vontade, abençoada pela Santa Madre Igreja das “crueldades pias e atrocidades santas”.
Este compêndio de José Brandão é uma nova forma de abordar a história. O costume e a prática apresentou-nos livros de história em formato de calhamaço, de tamanho proporcional ao tempo que percorria na relembrança e aos detalhes com que se importavam. A Vida Dramática dos Reis de Portugal é uma leitura fácil que percorre cronologicamente a história dos 30 reis e duas rainhas que nasceram portuguesas e governaram (ou foram a face visível dessa governação), durante quase oito séculos, o então Reino de Portugal.
São 32 os capítulos, correspondentes cada um a um monarca (ficaram de fora os Filipes de Espanha). Neles se contam as suas histórias, desde o nascimento até à morte. A narrativa é solta e precisa, percorrendo, com insistência, os feitos, polémicas, intrigas, traições e crimes, talhando as índoles dos 30 homens e 2 mulheres que se viram por força da ditadura da hereditariedade, ou pela simples motivação de uma ambição tomar em braços os destinos de um país e de um povo.
D. Afonso VI, o retrato de um rei diminuído, de um autor desconhecido, no Museu dos Coches.
Revendo a promiscuidade da forma como os diferentes reinos entre si desposavam, por conveniências políticas, as suas mais ilustres filhas, José Brandão exibe o papel importante que muitas amantes e filhos bastardos dos nossos reis tiveram na História do país, assumindo muitos deles grandes posições na nobreza e no clero, chegando um deles – D. João I (o de Boa Memória) – a rei, dando início à segunda Dinastia. Dos 32, só D.João II (O Príncipe Perfeito) era filho de mãe e pai português, casando-se também com uma portuguesa. O resultado de casamentos de primos, com primas, sobrinhos com tias, cunhados com cunhadas e de netas com tios-avôs, além dos muitos enfermos a que deu origem, deu à nossa história perversos, visionários, indolentes, adúlteros, facínoras, criminosos, bígamos, um pouco de tudo, para o quais devemos olhar com a atenção dos valores morais de então.
De Afonso Henriques (O Conquistador) - o filho que batia na mãe; autoproclamado rei de Portugal em 1139, após a batalha de Ourique contra os mouros, a despeito dos reis de Castela e Leão -, até D. Manuel II (O Desventurado) – o último que se vê obrigado a abandonar o reino, pouco depois do dia 5 de Outubro de 1910, deixando para trás já uma república –, são registadas com este livro um conjunto interessante de factos curiosos deste importante conjunto de personalidades que governaram a nossa soberania na conquista, na abundância e na tragédia de uma vida dramática que por cá continuará.
1 comentários:
Certamente, uma forma interessante e bastante divertida de rever a nossa história!
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