terça-feira, março 31, 2009

O Aqueduto

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Há dias falou-se aqui em obras públicas, e pensei que uma boa forma de introduzir “alguma coisa de jeito”, na nossa falta de jeito para tratar de assuntos, ou inclusivamente de introduzir algo de interessante, mesmo sabendo que para alguns na sua pura indolência o interessante é simplesmente coisa nenhuma vindo daqui, seria olhar para O Aquedudo das Águas Livres.

Foi precisamente a primeira grande obra pública, a primeira que não teve por trás interesses de carácter religioso, ou fins militares. Tanto foi assim, que acabou por ser financiada exclusivamente pelo povo, através de um imposto especial, apesar de nos cofres do reino não faltar ouro ao Magnânimo soberano, D.João V, bem mais partidário em enterrar a riqueza do reino em faustos – é disso exemplo O Real Convento de Mafra, dono de uma riqueza arquitectonicamente tão invejável como inútil -, do que em melhorar as condições de vida do seus súbditos.

Estava inaugurada assim, no século XVIII, a história das grandes obras públicas portuguesas, e com elas as 3 regras dos seus vícios, apenas tidos como normais neste canto da Europa: a obra demora sempre mais do que o previsto inicialmente; o orçamento é sempre ultrapassado; o habitual é que haja confusão entre empreiteiros, subsidiários e outros ários lá metidos, levando à inevitabilidade das duas primeiras regras.

No final das contas, nem tudo é mau, e no caso desta primeira obra o resultado foi fabuloso: uma obra de engenharia ímpar com 14km de extensão, 58km contando com as condutas secundárias, o maior arco de pedra do vão do mundo e uma maravilha da técnica que deu de beber ao povo e perdurou até 1968 cumprindo a sua função inicial, tão primordial que nos acaba esquecida quando olhada para o convento de Mafra.

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sábado, março 28, 2009

Tivemos, temos, teremos...


problemas
.


E agora, quem é este?


O primeiro a responder, nos comentários, recebe um retrovisor de automóvel novinho em folha.* **

*A participação no passatempo implica o depósito de 50€ no NIB: 023 076232 9213 137, após a confirmação dos resultados.
**Reservamo-nos no direito de escolher a marca do respectivo retrovisor e de oferecer ou não o prémio.

quinta-feira, março 26, 2009

Chatice, parece que estamos endividados…

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Hoje a dívida externa portuguesa já vai em 161 mil milhões de euros, mais de 97% do PIB (valor monetário do que se produz). Ao ritmo dos últimos 4 anos, em 2014, vamos para algo tão assustador como produzir menos do que aquilo que já devemos ao exterior. Será isto falência? Tecnicamente parece que sim, felizmente as verdades vulgares nem sempre se aplicam a um Estado agarrado a uma moeda a 16 países e a uma União Europeia a 27.

Portanto, estejamos descansados, continuaremos a viver à custa dos pobres alemães, afinal foram eles que nos pagaram tantos quilómetros de auto-estrada, senão quiserem ir ao fundo também nos safam desta alhada.

longeardonkey Bem, fosse eu da família dos Equus asinus, até acharia alguma piada às medidas propagandeadas pelo governo Português como resposta à crise; porque para os maiores pensadores a quem demos o direito exclusivo de nos governar a solução é:

MAIS INVESTIMENTO PÚBLICO, no formato de obra pública.

(TAM! TAM!)

Não é necessário fazer um desenho, pois não senhor leitor?

Podíamos pensar em baixar impostos, melhorar a competitividade das nossas empresas, proporcionar um estímulo às nossas exportações, naaaaahh!! Isso é capaz de não ser vistoso o suficiente. Olha! Manda vir mais obras do regime. Sim, isso mesmo, o TGV, afinal só para a linha Porto-Lisboa são 4 mil milhões de euros - o volume de negócios do Grupo Sonae num ano -, a bem do desenvolvimento económico que Espanha e França esperavam e não tiveram com a mesma solução noutros tempos. Ah? Eu tenho aqui os relatórios! São dos anos 80. E estes de 2000? Esquece, esses espanhóis e franceses tiveram azar, aqui em Portugal é que vai ser, afinal qual foi a obra de regime que nunca nos trouxe benefícios? Haja fé, bem vistas as coisas são os alemães que nos vão construir isto, no pior dos cenários são só mais uns mil milhões no prego.

P.S: Para os mais distraídos, a Alemanha foi/é o principal financiador dos fundos europeus recebidos por Portugal desde os anos noventa. Ninguém vos manda ser tão ricos e trabalhadores…

Nazis!

Vou ali para o sol.

segunda-feira, março 23, 2009

Ler, mais que ver

O Corvo de Edgar Allan Poe (1845)

O Corvo - Edgar Allan Poe

Pelas mãos de Edgar Allan Poe (1809 – 1849), nasceram os romances policiais, o thriller psicológico, uma nova forma de construir poemas – mais curtos e objectivos –, nasceu um novo olhar sobre o sobrenatural e o mistério, sempre com o especial cuidado de não descurar os conhecimentos científicos prementes. Foi o autor do primeiro conto de uma viagem espacial com base científica: “Um homem na lua”, no poema em prosa “Eureka!” compilou as suas considerações críticas das modernas teorias cosmogónicas, e com os contos policiais “Os Crimes da Rua Morgue” e “A Carta Roubada”, conquistou a universalidade dos seus apreciadores.

O seu pioneirismo criou uma autêntica escola inspiradora de autores tão insuspeitos como Dostoiévski, Arthur Conan Doyle, Júlio Verne, e de todos aqueles que nas mais variadas criações artísticas usaram\usam o fantástico e\ou a ficção científica como matéria – o trabalho de Hitchcock é um dos exemplo disso mesmo. Faz parte do grupo restrito de indivíduos que acrescentaram algo mais à criação humana e, só por isso, merece toda a consideração e atenção que lhe possam ser dispensadas.

O Corvo é um dos mais conhecidos poemas da literatura norte-americana, e como tantos outros poemas, foi traduzido para várias línguas pelos maiores nomes da literatura mundial, atraídos pelo seu fascinante mundo. Em português, Fernando Pessoa e Machado de Assis assinaram diferentes e inspiradoras traduções do Corvo, demonstrando a particular singularidade do texto.Edgar Allan Poe

Numa meia-noite de Dezembro, um homem tentado aliviar a sua mágoa pela amada “Lenore” para sempre perdida, busca distracção em livros de ciências ancestrais. Na sua modorra, houve um bater na porta, ao abri-la, vê escuridão e nada mais. Suspirando por Lenore, volta para dentro com a alma a arder. Um novo bater na janela, fá-lo abrir a vidraça, e eis que, com muita negaça, entra grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais, pousando no busto de Atena. O corvo, para surpresa do homem, responde às suas perguntas apenas com um lacónico “nevermore”.

Esta interacção do narrador com o corvo, símbolo de uma sabedoria negra e desconhecida, e as suas respostas, enunciadas no final de cada estrofe, apenas com a palavra Nevermore, adquire de cada vez um diferente sentido, princípio da beleza do texto e resultado da mísera auto-tortura do narrador, revelando um dos principais impulsos da natureza humana: interpretar sinais que na realidade nada querem dizer.


"And the Raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid Bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seming of a demon's that is dreaming,
And the lamp-light o'er him streaming throws his shadow on the floor;
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Shall be lifted - nevermore!"


"E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demónio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
E a minh'alma d'essa sombra, que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!"

domingo, março 22, 2009

Harmony Korine - Steven Wilson


Rain, come down, and fall forever
Drain, the dirt, into the wasteland
Pray, for sound, to quiet the howling

Feel, no shame, too brave
Feel, afraid, to wait forever

Kneel, to fade, the day’s corrosion
Crawl, depart, towards perdition
Gray, the part, the bruise within you

Feel, no shame, too brave
Feel, afraid, to wait forever

Forever

Feel, no shame, too brave
Feel, afraid, to wait forever

sexta-feira, março 20, 2009

Notáveis 7ª arte

12 Angry Men de Sydney Lumet (1957) 12angrymenub5

“I don’t know what the truth is. I don’t suppose anybody will ever really know”

Um dos pressupostos e pilares essenciais de uma sociedade democrática e organizada, protegida pelo chapéu de leis, das regras essenciais que garantem os direitos e deveres aos seus membros, é a justiça. Desde os primórdios, das mais remotas civilizações, o sistema judicial era aplicado pelas personalidades mais importantes, antigas, ou mais representativas da comunidade.

Esta história, de Reginald Rose, é sobre isso mesmo: a aplicação da justiça por um grupo júris, cidadãos comuns, nomeados por um tribunal. Doze homens à luz dos factos apresentados em tribunal decidem o destino de um jovem oriundo de uma classe desfavorecida, acusado do homicídio do pai, e com todos os indícios e testemunhas contra si. Se considerado culpado é condenado à morte por electrocussão, caso contrário, é absolvido e libertado.

As evidências apontam para a certeza da sua culpa, assim estão convencidos 11 dos 12 jurados, com a excepção do jurado número 8 (Henry Fonda), o único que tenta colocar dúvidas legitimas sobre o unânime caso, fazendo o que seria lógico e humano fazer antes de condenar um jovem à morte - debater e ponderar todos os aspectos do caso. Com a certeza de ser impossível encontrar a verdade absoluta por trás do caso, o jurado número 8 (assim são conhecidas as personagens), introduz a óbvia razoabilidade da dúvida, desmontado grande parte dos factos, e conquistando os outros membros do júri, abrindo um campo de batalha de razões, conceitos e preconceitos, desumanidades, ódios e ignorância.

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O mais extraordinário deste filme é a forma de como Sydney Lumet e os doze actores nos transportam para dentro do filme, numa lição de expressividade sem precedentes, assente em inteligentes diálogos, uma perspicaz realização, e nas interpretações de Henry Fonda, Lee J. Cobb, E. G. Marshall, Jack Warden, ou Ed Begley. Toda a acção do filme se concentra numa apertada sala, num dia de calor claustrofóbico, mais de uma hora e meia de filme com doze homens a discutir no mesmo cenário. Enfadonho? Bem pelo contrário, interessante o suficiente para prender o espectador ao ecrã e fazê-lo esquecer o tempo. É também apelativo o suficiente para todos os tipos de público, como atesta a sua nona posição no top do IMDB. Talvez o preceito perfeito de que o cinema entretenimento não está de forma alguma desassociado da originalidade, da experimentação e do fastígio da crítica.

10/10

quarta-feira, março 18, 2009

krampfnotoldman Março é o mês em que tanto durmo como faço e, com o calor que está, pelo menos agora, abandonámos por este mês a nossa onanística petulância de demonstrar que sabemos mais do que um ancião de 90 anos, delegando essa responsabilidade a Robert Krampf.

Pedagogo e cientista, tem dedicado a sua vida à divulgação da ciência, e nessa batalha solitária durante anos a fio, desenvolveu abordagens simples e descomplexadas de responder ao porquê de muitos dos acontecimentos do dia-a-dia que nos rodeiam. Sempre de forma humorada, demonstra que a física, biologia e química não são matérias apenas ao alcance de alguns, mas, pelo contrário, a explicação dos mais simples fenómenos da natureza, fundamentais para nos compreendermos a nós próprios e ao mundo que nos rodeia.

Com legendagem de Carlos Portela, blogger do Vídeos para o Ensino da Física e da Química, mostramos três exemplos de vídeos didácticos da autoria de Robert Krampf, disponíveis no seu sítio da internet (clicar em Robert Krampf no primeiro parágrafo).

Porque é que os microondas aquecem os alimentos?

Porque é que certas coisas fazem bang?

O efeito Doppler.

terça-feira, março 17, 2009

O nosso amigo Magalão, representante da Adidas, mostra-nos uns vídeos que fez com esta, The Atheletes Foot (TAF), Sport Zone e a EA Sports.

Launch of F50 with Liedson and Fifa Interactive World Cup (FIWC) at TAF Alfragide:





FIWC at TAF Almada:



FIWC Porto - TAF Gaishopping:



Launch of adiPure with Nuno Gomes and Alvim and FIWC at Sport Zone Colombo (Lisbon):



segunda-feira, março 16, 2009

Ler, mais que ver

Metamorfose de Franz Kafka (1915)

Metamorfose de Kafka

“Quando Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho agitado viu que se transformara, durante o sono, numa espécie monstruosa de insecto.”

Esta é uma das obras mais emblemáticas de Franz Kafka, um homem amargurado e violentado pelo seu ser, durante toda vida. O caso particular da Metamorfose é paradigmático, o espelho perfeito das terríveis tormentas e angustias do autor pela sua existência, usado quase como uma autobiografia da conturbada convivência com o pai, a doença vivida aos cuidados da irmã, o seu sentimento de alienação com o mundo.

Este pequeno livro está dividido em 3 partes, construído como uma tragicomédia sobre o absurdo de um homem, Gregor Samsa, ao acordar um dia transformado numa espécie de insecto gigante, contudo, mantendo o senso humano, com única preocupação imediata de estar atrasado para o trabalho e de não desiludir a família, já que este é o principal sustento dela. Desenvolve-se assim, na primeira parte, como uma paródia, em que Gregor Samsa, fechado no quarto, tenta convencer a família e o patrão que está tudo bem, numa rejeição da realidade, apesar das profundas transformações sofridas, que o impedem inclusive de comunicar. A partir daqui, adensa-se a narrativa, desenvolvendo-se uma espiral de rejeições por parte da família. Gregor é fechado no seu quarto pelo pai, alimentado pela irmãzinha, escondido dos hóspedes, maltratado pela emprega; e na medida em que o tempo passa e vai desaparecendo o seu reconhecimento como homem, em prejuízo da imagem do bicho que olhos mostram, até ser considerado apenas um estorvo para os seus.

Kafka, com este livro, explora os recantos negros da mente humana, de como insignificante e vã pode ser uma vida, por muito importante que ela seja numa determinada altura para os outros. A imagem do insecto é o símbolo da condição humana, de uma identidade pessoal perdida, o sentimento de culpa fracturante da personagem, conduzindo o seu trabalho e vida para cuidar da família, até a morte pela rejeição, consumida pela culpa de não ser o que a família quer e precisa.

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Aqui estão traduzidas as motivações e principais reflexões de Kafka, espalhadas por toda a sua obra – a impotência do homem perante uma realidade absurda e as forças exteriores que escapam ao seu controlo.

sábado, março 14, 2009

Gays everywhere!

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Uma das novas bandeiras propagandistas de Sócrates passou, em 2 meses, de assunto sem grande interesse, e sem discussão sustentada suficiente, para mais uma empoeirada promessa de campanha eleitoral. Já todos nós nos habituamos a estas estratégias políticas, neste caso, o efeito do assunto é bem capaz de lhe sair avesso. Há por aí mais extremistas homofóbicos do que pessoas com o mínimo de decência e bom-senso para decidirem o sentido do seu voto em assuntos que não necessitam de grandes campanhas e debates. É preciso de passar à frente de certas assuntos que, só são fracturantes na cabeça de alguns.

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Do melhor que temos; a luz do sol, o azul do mar, o amor dos outros.

quinta-feira, março 12, 2009

Ler, mais que ver

Jerusalém de Gonçalo M. Tavares (2004)

Jerusalém

Jerusalém, encruzilhar de civilizações e de culturas, palco de horrores e motivo de outros tantos; terra santa por força de definição, ali confluem crenças e esperanças, ali foi entregue e reconhecido pela comunidade internacional a capital de estado do povo historicamente mais perseguido e alvo dos maiores e mais frequentes horrores por parte de outros povos. Jerusalém de Gonçalo M. Tavares, é também o chão, o espaço da existência humana, da sua dor, dos seus horrores, do medo e da maldade, das loucura transversais a todos os homens, povos, raças, sociedades, em diferentes períodos de tempo e nos contextos mais diversos.

Gonçalo M. Tavares, jovem escritor português, é dos mais originais romancistas portugueses. Apesar da sua juventude – 38 anos, tem já uma “extensa” obra publicada, editada e traduzida em vários países, sendo fonte de inspiração para obras de artistas plásticos e peças de teatro. Jerusalém, insere-se na tetralogia “O Reino”, concedendo-lhe já vários prémios literários; recentemente foi nomeado para o Cévennes Prize 2008, que distingue o melhor romance europeu, publicado em França.

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Sob o ideal do mal, a tetralogia “O Reino”; o reino do homem, Jerusalém, abre caminho a um circuito fechado a percorrer pelo leitor. Um circuito circular desenhado por Mylia - esquizofrénica, internada como louca pelo seu médico e marido Theodor Busbeck - investigador reputado, que busca a fórmula que resume as causas da maldade que existe sem o medo, essa maldade terrível; quase não humana porque não justificada. Mylia dá à luz Kaas, rapaz de pernas frágeis, adoptado por Theodor Busbeck e filho biológico de Ernst, louco, deficiente físico e companheiro de Mylia na clínica. Hanna, a prostituta frequenta a casa de Hinnerk Obst, o homem que guarda uma pistola na parte da frente das calças e tem medo dos outros. Todos são assim colocados à mesma distância. À distância de um mesmo ponto, do centro onde habita a dor, a insanidade, o medo, o pensamento moral, o aceitável e o inaceitável, convergindo para uma noite. A noite em que a matéria muda à velocidade da sua diferença, a urina a mais no corpo dói, a temperatura da noite alarga os ossos, e em que tudo começa e tudo acaba.

black glassYanni Stratoudaki – Black glass

“Quem comete um erro é excluído; é fechado dentro de uma caixa. Quem está fora vê apenas a caixa. Mas quem está fechado, excluído, consegue ver cá para fora. Vê tudo, vê-nos a todos.

Em cada compartimento há dezenas de caixas. Milhares de caixas por todo o lado. A maior parte delas vazia. Outras têm lá dentro pessoas excluídas. Ninguém sabe quais as caixas que têm pessoas.

As caixas são tantas que ninguém lhes dá importância. Pode estar lá uma pessoa, até a que amas, mas nem olhas. Já não produzem efeito. Passas por elas centenas de vezes.”

terça-feira, março 10, 2009

unita vale

É caso para dizer, que não lá limites para a burrice, tonhice e tudo o resto acabado em ice, desta vez foram os angolanos da UNITA, valha-nos isso. Para quem só agora “aterrou a sua nave” neste planeta, João Vale de Azevedo, advogado, ex-presidente do GLORIOSO, burlão por natureza, corrupto de vocação, julgado e condenado por burlas e falsificações em Portugal já por inúmeras vezes, actualmente a viver luxuosamente em Inglaterra, usufruindo de mansões e carros que nunca pagou, e provavelmente nunca pagará, continua a sua feroz demanda pela honra e defesa do seu bom nome, ao mesmo tempo que faz o que sabe melhor – enganar os outros.

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Já todos ouvimos falar do caso da Dona Branca, senhora prendada e idosa que enganou meio Portugal, Vale e Azevedo, historicamente já rivaliza com esta mítica burlona. Vale é hábil nas palavras, denomina a câmara, não enjeita um bom debate, é a verdadeira instituição nacional da falta de vergonha, o remate do que chamamos o chico-espertismo português.

Por falar em chicos-espertos, Jorge Nuno Pinto da Costa está a ser sujeito a mais um julgamento por corrupção. Desta vez, no entanto, o delírio chegou a atingir proporções só comparadas a cenários imaginados por Matt Lucas e David Walliams. Quando inquerido sobre o porquê da visita de dois árbitros a sua casa, precisamente, na véspera de apitarem jogos da equipa da qual é presidente, Pinto da Costa, alegadamente (que palavra bunita!), justificou que os senhores juízes de campo, só ali tinham ido para tratar de “assuntos familiares”.

Assuntos familiares podem, de facto, abranger um grande espectro de enigmas que urgem resolução, aceitando-se por isso racionalmente a pertinência de tais visitas, lá se costuma dizer: a família está primeiro do que tudo, ainda mais a família, que evidentemente, não surge de um fortuito biológico, afinal, são estes relacionamentos, fruto de uma escolha individual e personalizada ao longo da experiencia de vida, os verdadeiros afectos, livres das muitas vezes injustas amarras da Natureza.

A completar o ramalhete desta falta de vergonha, bem ao jeito do que se discute dentro do tribunal, fora das instalações é montado todo um circo popular, acompanhado de perto por todos os meios de comunicação, com particular cuidado do diário Correio da Manhã - a defesa dos pobres, o ensejo dos famosos, o ópio da indignação do povo, a ralé jornalística fonte de inspiração de qualquer humorista que queira ter piada.

Vejamos o que se tem passado para lá:

Ainda no fervor informativo do Correio da Manhã, pode-se ainda ler numa das notícias sobre este assunto:

SUSTO: IDOSO ADORMECEU

O árbitro Domingos Vilaça estava a ser ouvido quando um idoso adormeceu em plena sala de audiência. A demora do homem em acordar ainda provocou algum pânico nos presentes.

Não sei o que vos suscita este apontamento, a mim comove-me; é o cuidado com o preciosismo, o rigor no informar, o pormenor de não deixar nada por dizer, ah Correio da Manhã, obrigado por existires!

TAM!! TAM!!

segunda-feira, março 09, 2009

Bailarico_no_Bairro_1936 - Mário Eloy

Mário Eloy- Bailarico no Bairro (1936)

sábado, março 07, 2009

A escritora Deana Barroqueiro, autora do livro: "O Navegador da Passagem", teve a amabilidade de deixar um comentário às palavras que aqui deixámos sobre o seu trabalho, e que passo a transcrever:

Não sei se chegou a receber o meu comentário, por isso lho escrevo de novo.
Venho agradecer-lhe o generoso comentário que fez no seu blogue ao meu romance O Navegador da Passagem, pois sinto-me felicíssima por ver que tenho na bloguesfera um grupo cada vez mais numeroso de leitores dos meus romances.

Embora seja autora de 9 romances históricos e de 2 livros de contos (além de outras obras no âmbito da minha profissão de professora de Literatura), como não pertenço aos circuitos dos media ou das associações de escritores e publicava numa pequena editora que não dava visibilidade à minha obra, apesar de ter os contos traduzidos e publicados em várias línguas, aqui em Portugal pouca gente me conhecia.
Porém, quando em 2006 a Porto Editora escolheu o meu romance D. Sebastião e o Vidente para se lançar na ficção, deu-me essa visibilidade que é imprescindível para que um livro chegue aos leitores. O prémio da Máxima também ajudou, como é óbvio.

No entanto, o que me agrada mais de todas estas referências, por serem mais genuínas e espontâneas, são as dos blogues. É como se um amigo recomendasse a outro a leitura de uma obra que lhe agradou e isso não há publicidade que pague! Nem maior elogio, para mim.
Por isso, meu caro leitor, muito, muito obrigada! Sinto-me recompensada pelos 2 anos de trabalho que me levou este livro a investigar e a escrever (não contando com outros tantos anos em que escrevi os dois livros de aventuras - Uraçá, o Índio Branco e O Cometa - que tratavam do mesmo tema e me serviram de base para O Navegador da Passagem, e mais quinze de estudo deste período dos Descobrimentos que já tinha para o meu trabalho de escrita criativa com os meus alunos).
Na minha página http://deanabarroqueiro.blogspot.com disponibilizei o Uraçá em download gratuito para os meus leitores, porque ele completa a vida de algumas personagens de O Navegador da Passagem, desvendando mesmo o mistério do "grumete da cicatriz".

Assim, bem haja e boas leituras!
Com um abraço virtual de uma autora muito grata
Deana Barroqueiro

quinta-feira, março 05, 2009

Ler, mais que ver

Os Maias – Episódios da vida romântica

de Eça de Queirós (1888)

Os Maias

Chega a uma determinada altura da nossa instrução, e somos obrigados a ler determinadas obras para a disciplina de português, precisamente na fase da nossa vida em que temos a cabeça cheia de outros interesses que não a leitura de histórias de um senhor do outro século; e logo histórias de 700 páginas preenchidas de letras bem mais minúsculas do que as da Hobby Consolas, ou da Bravo (para a versão feminina). É um verdadeiro atentado esta imposição absurda ao tempo - já de si curto –, da adolescência. Muito a sério, já conhecemos bem os não resultados da imposição de leituras de obras reputadas, extensíssimas e descontextualizadas dos programas curriculares: poucos são os que as lêem - refugiando-se no famosos resumos -, e aqueles que o fazem, a muito custo, porque querem ir para medicina, pouco na sua essência aproveitam.

Os Maias de Eça de Queirós é um dos desses exemplos. Depois de relido por iniciativa própria e já com outra maturidade, é um maná imperdível para os apreciadores deste género de literatura.

eçaJosé Maria de Eça de Queirós, o maior romancista português de todos os tempos, viveu em pleno século XIX, nos anos do chique e dos francesismos, do diletantismo ocioso aristocrata, na decadência de um Portugal a meio gás, a ver a Europa e Estados Unidos da América, a viver o fervor da revolução industrial.

Eça assistiu de perto a este definhar da sociedade portuguesa. Por muitas vezes se insurgiu contra esta decadência - os seus romances e crónicas, são a materialização do seu desassossego, mesmo ao serviço do estado (como administrador de distrito e cônsul), bateu-se contra o estado das coisas. Rendido à sua impotência como estadista, não hesitou em parodiar e depreciar a política e os cargos políticos por toda a sua obra e nas suas habituais crónicas de magazine.

A prosa de Eça é ágil, minuciosa, detalhada, assombrosamente actual; as suas tragédias românticas: críticas, satíricas, carregadas de humor lacónico. Os Maias, inserem-se nesta grande feição, ao lado do Primo Basílio, A Tragédia da Rua das Flores e o Crime do Padre Amaro.

Edvard MunchEve on Karl Johan de Edvard Munch

A família Maia, que dá o nome à obra, uma família Beirã, rica, de grandes tradições, é o centro de toda a narrativa. Afonso da Maia é o patriarca da família, vê a sua mulher, religiosa fervorosa, a criar o seu filho Pedro da Maia nas aflições da pureza e castidade. Impotente perante a força da debilidade de sua mulher, Afonso vê Pedro crescer como um fraco, e como adulto a ser arrebatado por um amor dúbio, findado em tragédia. Afonso, sozinho com o seu neto Carlos da Maia (personagem principal), cria-o fora dos rituais de educação proteccionista e religiosos da época, tornando Carlos um indivíduo diferenciado, forte e culto (ao contrário de Eusébiozinho, rapaz da mesma idade de Carlos, e a antítese deste, aos 7 anos já a declamar versos de cabeça, embrulhado no xaile da mãe). Carlos forma-se em medicina e torna-se um dandy da sociedade lisboeta, ocupa-se de várias senhoras até se apaixonar por Maria Eduarda, paixão que finda em tragédia; como toda a história dos Maias, que haviam decido habitar o seu casarão em Lisboa – o Ramalhete.

A história é rica, vasta, habitada de dezenas de personagens, todas caracterizadas metodicamente, representando as principais classes sociais da época, com particular incidência sobre a classe média e alta, numa sociedade emergida em snobismo, aristocratas, poetas ébrios e decadentes, políticos ambiciosos e pretensiosos socialités. Quase tão importante quanto um Maia, João da Ega, o melhor amigo de Carlos da Maia, é daquelas personagens imortais e únicas, proclama filosofias, ideais, leis, teorias, modas, ciências e estilos, ao longo do romance, enriquecendo a narrativa em debates com outras personagens caracterizadoras das correntes de pensamento da época, e, por isso, não menos interessantes.

dandies Os Maias, é o maior reflexo do espelho queirosiano da sociedade Portuguesa dos finais do século XIX, uma implícita análise crítica à aristocracia, à monarquia, à igreja católica, ao buraco em que o país se enterrava e continuou a enterrar, mas, também, ao sentido do rumo individual do homem literato.

“Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduziria da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear… Não se abandonar a uma esperança – nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo até reentrar-se perder no infinito do Universo… Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.”

terça-feira, março 03, 2009

Bem como o pessoal pode constactar pela minha imensa participação e assiduidade para com este maravilhoso "jornal", venho por este meio e em dedicação ao nosso Bertinho dar os meus PARABÉNS
Seu que não é nada de maravilhoso, mas é sentido e do fundo do coração.

Tudo de bom para ti meu amigo.

الستة والعشرين

(Vinte e seis em árabe)

Esquecendo os nossos queridos anónimos puristas de pensamento único, universal e anti-filmes de 1940 ou o raio, hoje é o dia em que se lembra uma pessoa que nos é muito especial. Mesmo estando longe, estará sempre nos nossos corações e pensamentos.

Bem ao seu jeito, aproveito para arremessar umas boas tiradas de filosofias sociais, dignas do nosso brioso, próprias para escandalizar qualquer anónimo muito zeloso dos comentários das “massas”.

1ª revelação escabrosa: A Amália era um homem!

2ª revelação escabrosa e que me irá impedir de algum dia trabalhar na função pública nos próximos 4 anos: O Sócrates é gay!

3ª revelação escabrosa, ainda o Nimpo jogava CM e percebia de futebol: O padre de São João guarda naifas por baixo da sua batina.

E agora a internacional socialista:

Have a shrimp!

118608527_b219d51c01_o You know who you are english boy. =)

segunda-feira, março 02, 2009

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Slumdog Millionaire de Danny Boyle (2008)

Género: Drama, Romance

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O milionário cão vadio de Danny Boyle - baseado na novela Q&A do diplomata/romancista Vikas Swarup -, vencedor do Óscar de melhor filme 2009, é o exemplo perfeito do produto ultra promovido, que aparenta ser mais do que é.

Um improvável concorrente do famoso concurso “Quem quer ser Milionário?”, proveniente de um dos muitos bairros pobres de Mumbai, está prestes a ganhar o prémio final; pela desconfiança que levanta tanta certeza de acerto, é detido e interrogado pela polícia para confessar a sua batota. A partir deste ponto, revendo todas as perguntas que lhe saíram em sorte – estranhamente relacionadas com diferentes episódios da sua vida -, Jamal, a personagem principal, recorda a sua história pessoal; desde a pobre e trágica infância – num claro paralelismo com o dia-a-dia de grande parte das crianças indianas -, vivida com o irmão e, mais tarde, também com uma menina órfã - o seu futuro amor -, até à actualidade, vivida na busca do amor perdido, e razão da sua participação no programa.

slum460 Extremamente bem realizado, com uma narrativa apelativa mas, ao mesmo tempo, demasiado previsível e trivial, vale, principalmente, por um par de cenas marcantes, destacando-se a primeira meia-hora, protagonizada por miúdos das favelas indianas, imprimindo um forte realismo a toda a acção, toda ela muito estilizada: o pequeno Jamal a mergulhar num charco de excrementos para não perder um autógrafo de um ícone de Bollywood, é a metáfora perfeita de um argumento inteligente.

A acção frenética – com a câmara sempre em movimento, o viajar entre os flashbacks do jovem Jamal, a narrativa vertiginosa, aparece de forma extremamente eficaz na mensagem que tenta pensar; é o entretimento perfeito para chegar a todos os públicos: a fábula amorosa da busca da felicidade, independentemente dos valores materiais.

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Salvo pela poderosa FOX de entrar directamente para o circuito DVD, sem passar pelas salas de cinema (em boa hora, seja dito!), conseguiu passar pelo filtro político/crítico da academia de Hollywood, até chegar à nomeação e suprema consagração cinematográfica ocidental. Deixa a impressão de um claro piscar de olho da indústria cinematográfica americana a um grande filão até agora inexplorado: o vasto mercado indiano, à gigantesca Bollywood, e a rentabilização de um negócio que, como a maioria dos negócios, nos últimos anos, já viu melhores dias.

7/10

P.S: Escrevi as linhas anteriores sob protesto, o protesto dos enganados, dos ludibriados pelos desmandos publicitários óscarianos, que nos apresentam expectativas, mais tarde, implacavelmente goradas.Ninguém me manda ser crente.