sexta-feira, março 21, 2008


O Processo de Franz Kafka


Franz Kafka (1883-1924), célebre escritor Checo (na altura Império Austro-Húngaro), sempre me intrigou pelas suas narrativas no limiar do irreal (se não mesmo irreais), histórias aparentemente absurdas e sem nexo, reveladoras de uma personalidade perturbada, insegura, e em sofrimento perante o mundo em que vive. Tal havia de se revelar notório quando, em 1922, perto da sua morte (de insuficiência cardíaca, apesar de padecer de tuberculose) pediu a um seu grande amigo, Max Brood, que queimasse todas as suas obras (escrevendo mesmo este seu desejo no seu testamento). Embora perto desse trágico desfecho, felizmente tal não aconteceu. Todas as obras que se conhecem do autor acabariam por ser publicadas post-mortem.

Numa crítica paradoxalmente conspícua mas mordaz ao Homem, Kafka, em O Processo, "evidencia o problema da alienação do indivíduo, que anseia pela liberdade absoluta e por uma vida em plenitude, mas que se encontra submetido à máquina implacável do mundo" (in Visão). Apesar de alguns capítulos estarem inacabados, e mesmo de a sua ordem não se saber se será a mais correcta, é reconhecido como um dos mais importantes livros mundiais (presente nas principais selecções dos melhores livros do mundo). A sua narrativa reveste-se ainda de "natureza existencial, como uma parábola, ou como uma profecia das violências da burocracia e do totalitarismo", um autêntico "pesadelo" que "contribuiu decisivamente para a adopção do adjectivo kafkiano como sinónimo de tudo aquilo que é labiríntico, absurdo e terrível" (in Clássicos da Literatura).

Neste registo surrealista, a história centra-se à volta de um personagem, Josef K., que é acusado por um crime que ignora, de uma forma quase anedótica, por uns funcionários da justiça "acriançados" e mimados e que duvidam das suas próprias razões, envolto num processo que nunca tem acesso, numa Justiça paralela, sediada em sótãos claustrofóbicos de edifícios sociais em ruína, e que dificilmente absolve os acusados ("se é que há memória de alguma absolvição"), servida de Juízes que orientam decisões fulcrais com base no que se "ouve por aí", e de advogados de defesa que "pouco podem fazer" e que só por uma condescendência transcendental defendem os seus clientes (por vezes sujeitos a humilhações abomináveis por parte destes). Como se pode depreender, estes ingredientes fazem com que, apesar da mensagem perturbadora, a narrativa evolua com bastante humor, apesar de subtil, e explorando o ridículo.

Por todos estes motivos, esta obra não pode ser descrita como nada menos que essencial.

Amen

4 comentários:

Amendoim do Ricky disse...

Kafka a personificação da crise existencialista humana, o medo, angústia e a solidão pelo ponto de vista de um austro-húngaro judeu. A ler.

Anónimo disse...

uma das obras primas de kafka

Joana disse...

Um dos meus livros preferidos de sempre. A ler e a reler.

Anónimo disse...

Nem dos mais sãos, reais e seguros indivíduos se fazem os maiores génios deste mundo. E muitas das suas personagens se afiguram homossexuais...
Um senhor que dizia "Não tenho nenhuma das qualidades necessárias para vencer na vida" e hoje é considerado de uma existência e pensar notáveis =)