segunda-feira, março 24, 2008

Os melhores álbuns rock de 2007
(segundo Nimpo)




Porcupine Tree
- Fear of a Blank Planet


Há música. E há música com substância. Aquela que, de sentimento em sentimento, nos toca na alma. Arte. Nesta visão crítica a uma sociedade cada vez mais alienada, entregue à futilidade e ao materialismo e desprezando os mais altos valores humanos, este álbum encarna a perspectiva de um rapaz de 14 anos sobre a sua existência, desde a raiva inerente ao vazio que é a sua vida, na profícua e poderosa "Fear of a Blank Planet" até à libertação final na surpreendente "Sleep Together". Pelo meio, um encruzilhar de emoções e sentimentos, por vezes transitando entre si de forma abrupta, tanto no impressionante épico "Anesthetize" como em "Way Out of Here", traduzindo o conflito interior inerente a esta mente deturpada. E assim, este é verdadeiramente um "álbum", um "filme para os ouvidos", como se fosse uma única música de 50 minutos. Musicalmente, que há a dizer? Porcupine Tree consegue talvez os momentos mais pesados da sua carreira, com riffs verdadeiramente arrebatadores e bateria no máximo do humanamente possível, mas também não é menos verdade que a maior parte do álbum é num registo doce, suave e sublime, globalmente dinâmico e complexo, e apelando ao sentimento - a imagem de marca da banda. Uma última nota ao baterista Gavin Harrison que, com a sua performance no álbum, viria a ganhar o título de melhor baterista do mundo do Rock Progressivo.



Radiohead - In Rainbows

Um álbum nascido da polémica por ter sido disponibilizado de forma gratuita no próprio site da banda. Apesar de acabarem por não resistir à pressão das editoras, a mensagem foi clara. Os Radiohead regressaram, desta feita, numa nova simbiose electrónica / hard rock, num registo mais minimalista, inspirando-se muito provavelmente no post-rock (Tortoise, Sigur Ros, GY!BE). O álbum em si não traz nada de verdadeiramente revolucionário contrariamente ao que alguns críticos adiantam (o que já é normal no que toca a Radiohead), pelo menos para quem está familiarizado com o movimento post-rock. No entanto, o álbum no seu global, e mesmo não tendo nenhum single que se destaque, contrariamente aos álbuns anteriores, é de uma beleza intensa e intrigante, quase indefinível. Está também bastante coeso, ao contrário do álbum anterior, que pecou nesse aspecto, e a produção, mais uma vez, esteve impecável, com um cataclismo de efeitos sonoros que, a somar ao sentimento envolvente, deliciam qualquer par de ouvidos.



Panda Bear - Person Pitch

Panda Bear, um projecto lateral de Noah Lennox dos Animal Collective, apresenta-nos com um primeiro álbum cheio de experimentação, uma notável desconstrução de música pop e electrónica. Melodias são baralhadas com batidas repetitivas e excêntricas, remanescentes da era dance-music, enquanto que os vocals são harmonizados e embebidos, por todo o álbum, de uma fragrância energética e intensa, à imagem africana, mas, paradoxalmente, do mesmo modo capturando a angústia existencial da sociedade ocidental, transformando-se numa mistura perturbadora (particularmente evidente nas primeiras duas faixas). A sucessão de harmonizações vocais, ritmos, efeitos de som, e variedade de utilizações instrumentais criam um contínuo dinâmico, imprevisível e intrigante, apesar dos padrões repetitivos. Lennox acabou por fazer, acidentalmente ou não, uma respeitável obra que mistura diversas culturas - o calor com o vazio, melodia com experimentação - traduzindo, talvez, as vivências na sua actual morada, a ecléctica Lisboa.



Battles - Mirrored

O primeiro álbum desta jovem banda britânica traz talvez a sonoridade mais original do ano, muito embora num registo difícil de digerir de forma regular. Uma fusão de música electrónica com post-rock e rock alternativo, com alguns pormenores originais, particularmente na voz, como que uma paródia aos Looney Tunes. Apesar do tom experimental, vai buscar elementos tanto ao rock progressivo (Van der Graaf Generator) como ao krautrock. O hit "Atlas" é talvez a música do ano.



Ulver - Shadows of the Sun

Conhecidos pelos seus mundos bizarros, abstractos e cacofónicos, confesso que surpresa maior não poderia ter tido ao ouvir o último álbum dos Ulver. Mas no fundo trata-se, talvez, da banda que mais radicalmente muda de álbum para álbum (já foram uma banda de Black Metal!). Desta vez, em oposição aos sons futuristas e mecânicos dos álbuns anteriores, este é guiado por uma flagrância intensa - uma densa e melancólica nostalgia, uma catarse perturbadora aludindo aos actos mais bárbaros do ser humano, como que um apelo desesperante no limiar de ser tarde de mais. O álbum é guiado essencialmente por piano clássico e violinos, pintando em conjunto autênticas atmosferas sublimes, com pinceladas de bateria (de bom nível aliás), baixo e esparsa guitarra recordando que estamos perante um álbum rock. Numa era em que a música parece não ter mais que um par de anos de "validade", e em que originalidade sem dissonância parece tão difícil de atingir, este álbum é, verdadeiramente, uma pérola...



The National - Boxer

Boxer estará algures na linha entre o catártico e o metafísico, construído densamente sobre uma intimidade intrigante, acrescentando dessa forma um tom intenso ao álbum. Por vezes fazendo lembrar o songwriting intenso e genuíno de Nick Drake e Nick Cave ou a poesia lírica de Kozeleck (Red House Painters), outras vezes apelando à ecléctica miríade instrumental de Tom Waits, o álbum evolui numa envolvente, quase acústica, nostalgia, sumanizando os sentimentos mais profundos. "Fake Empire", "Racing Like a Pro", "Ada" e "Gospel" são standouts neste conjunto de músicas lindamente orquestradas.



Arcade Fire - Neon Bible

Perdeu muito do efeito surpresa que o álbum de estreia da banda apresentava, com a maior parte das faixas a assentarem agora na estrutura básica do "pop-rock". No entanto, "Intervention" não deve nada em poder e sentimento intenso ao álbum anterior. "No Cars Go" e "My Body is a Cage" são boas faixas e sentidas, terminando o álbum numa resplandecente atmosfera, mas são pouco para apelidar o álbum de "brilhante" pois as restantes nada trazem de novo. Apesar de tudo, era difícil superar "Funeral" e este é um álbum bom que não desilude, mantendo os ingredientes originais que os tornaram conhecidos.



Artic Monkeys - Favourite Worst Nightmare

A jovem banda britânica do momento regressou, um ano após, com mais um álbum repleto de rock'n'roll moderno e vigorante, captando a essência dos The Kinks, The Monks, Beatles, Sex Pistols, e, mais recentemente, Strokes e Franz Ferdinand, numa sucessão de faixas de energia contagiante. Apesar de sem dúvida, originalidade não ser a tour-de-force deste trabalho, estes jovens músicos têm o mérito de provar, ao mesmo tempo, que o rock mais cru ainda tem uma palavra a dar.


Outros álbuns merecedores de registo:

65DaysOfStatic - The Destruction of Small Ideas
Animal Collective - Strawberry Jam
Blackfield - II
Explosions in the Sky - All of a Sudden, I Miss Everyone
Nine Inch Nails - Year Zero
P.J.Harvey - White Chalk
Smashing Pumpkins - Zeitgeist
Spoon - Ga Ga Ga Ga Ga

10 comentários:

Anónimo disse...

eu acho bem!!! mas não posso realmente deixar escapar este ardor que sinto sempre que vejo uma selecção de álbuns que exclui de forma caluniosa esta grande preciosidade que é "Julio (o filho do recluso) e Leninha - Cantam sentimentos e alegrias"!!! http://www.portalpimba.com/?p=353

Anónimo disse...

Prezado e ilustríssimo amigo, essa preciosidade, como refere, foi sujeita a uma avaliação aprofundada. No entanto quis-me parecer que não se enquadrava no âmbito do post que coloquei... Apesar de tudo, tenho que admitir que tudo isto se reveste de subjectividade e que eu próprio me imiscuo de uma ignorância reles, de modo que nem eu próprio sei como pude ousar postar tal farsa abominável. Sujeito-me assim de boa vontade a todos os impropérios e admoestações físicas que podem provir deste acto.

We Are Machines Of God disse...

De tanto aprovar os posts do nosso grandioso Nimpo, tinha de vir com esta mania das classificações musicais, no mínimo DESPROPOSITADAS, e que não dignificam o panorama musical internacional.. quer-se dizer de todas as classificações que já vi deste homem os PT figuram no 1º posto, quer faça chuva quer faça sol.. e depois mete-me o álbum de RH em 2º lugar..este álbum, atrevo-me a apelidá-lo de álbum (nem sei bem como).. o que dizer de tão audaz perspicácia? Não me apetece responder.. não vou responder a provocações.. não Nimpo não leverás a melhor.

2007 foi SÓ o ano do "Renascimento" se é que me faço entender ;p

Anónimo disse...

venha o próximo, i'm a bouncing punch bag : D

Amendoim do Ricky disse...

Meus amigos no meu entender este é um top não só olhando para a qualidade que me parece óbvia de todos os citados, mas também para o inevitável gosto pessoal por isso é que no título está "segundo Nimpo".

De qualquer das formas subscrevo as opções principalmente o primeiro lugar que para mim é incontornável. Quanto à ordenação dos restantes abstenho-me de comentar por não conseguir ordenar por ordem de preferência. Não conheço Battles mas estou curioso, o zeitgeist de Smashing Pumpkins para mim figurava na desilusão do ano (SIM EU TENHO A NOÇÃO QUE É DIFÍCIL DE OUVIR ISTO PARA CERTAS E DETERMINADAS PESSOAS :P)
Já agora neste top rock progressivo experimental, indie ou o que lhe quiserem chamar não faltará Artic Monkeys?

De qualquer das formas as opiniões são como os Ss cada um com o seu.

Amendoim do Ricky disse...

Obrigado por me ouvir caro Nimpo, mas mesmo assim o Zeitgeist ainda está como álbum merecedor de registo pela positiva, quando na nossa opinião devia ser pela negativa.

.-.

Anónimo disse...

lolol que "salganhada". Para o ano prometo que será uma coisa ainda mais séria, pelo menos nós os 3 faremos em conjunto a selecção dos melhores 5, se assim o desejarem : D

Amendoim do Ricky disse...

Estou disponível para tal empreitada.
Para isso e para o top5 dos melhores filmes.

Anónimo disse...

Se ouvissem D´zrt e as novas pupilas dos morangos é k viam o k era musica...agora isto....

Ai..tenham dó...ai....são cá uns teclas 3...

We Are Machines Of God disse...

Retiro o que disse no post acerca do Pinto da Costa, no qual se pode ler "shihan és GRANDE!!!".. afinal és pequeno, pequenino pequenino, minúsculo, mínimo, ínfimo, átomo,...


Par de áses.