quarta-feira, abril 29, 2009

Ler, mais que ver 389x152 A Ciganita de Miguel de Cervantes (1613)

A Ciganita - Miguel Cervantes

“Os ciganos e as ciganas, parece, vieram a este mundo só para serem ladrões; nascem de pais ladrões, criam-se entre ladrões, estudam para ladrões e, finalmente, saem-se ladrões sabidos em qualquer situação e o desejo de roubar e o facto de roubar são, neles, acidentes inseparáveis, que só perdem quando morrem.”

Inserindo-se na compilação: Novelas Exemplares", “A Ciganita” é o maior dos 12 contos elaborados por Cervantes, pequenas histórias político-sociais da Espanha renascentista. Cervantes é mais conhecido pela sua famosa obra: Dom Quixote de La Mancha, enobrecida como uma das mais importantes obras da literatura mundial. Não obstante isso, Miguel de Cervantes não se furtou a registar o seu olhar perspicaz em várias dinâmicas sociais; no caso a apresentar, nos itinerantes grupos ciganos e na nobreza do princípio do século XVII.

A prerrogativa de Cervantes começa no seu estilo de prosa: elaborada, tem uma dimensão poética única, dona de um ritmo muito próprio, elevando-se como uma melodia, tal e qual uma canção com uma harmonia musical universal. A ironia e a ambiguidade são as constante transversais nos textos de Cervantes, sempre repicados de um astuto ridículo, transformando a mensagem numa divertida comédia jocosa, sem nunca ser flagrante.cervantes portraitEste conto é particularmente marcado pelo idealismo, também este uma marca do estilo de Cervantes. Preciosa é a pequena cigana, encantadora, tanto pelos seus atributos de beleza, como pela formosura das suas cantigas, enfeitiçando todas as  gentes com as suas virtudes. Dona de um espírito livre, pouco comum entre os da sua etnia, leva André Cavaleiro, um jovem fidalgo, a abdicar da sua vida de nobre e seguir a vida cigana, para provar o seu amor por Preciosa.

DEHODENCQ, Alfred (Paris, 1822 – Paris, 1882)

No interesse da narrativa encontra-se entrincheiradas uma série de questões morais que vão para além do contexto histórico em que Cervantes a escreve, estendendo-se até à actualidade. Para lá de uma evidente história de amor, temos um par de personagens que iludem o próprio destino, contradizendo o estereótipo e o arquétipo  dos grupos a que pertencem, libertando-se dos rótulos a que o sujeito está imposto, por pertencer a um determinado grupo social. Uma lição desconceituada de um espanhol da idade moderna.

Para os menos atentos, o perfil irónico de Cervantes pode levar a conclusões erróneas, se olhado superficialmente. Mas, a sua poética, acaba por deixar a  descoberto as virtudes individuais da liberdade moral, da obsessão, da nobreza espiritual e da honra, principalmente, quando estas assentam numa consciência e em princípios morais bem delineados, infelizmente, pouco habituais à grande maioria dos homens. 

P.S: Para terem uma ideia da influência que o estilo de Cervantes pode imprimir na escrita de alguém, ver a novela inacabada Amendoins com Azeite XXX, escrita por Nimpo, um registo ficcional das aventuras e desventuras de Lord Pilinhitas e Belica del Toboso. Arde nos olhos, mas queima no coração.

segunda-feira, abril 27, 2009

Notáveis 7ª arte


Mysterious Skin de Gregg Araki (2004)

Género: Drama

Adicionar imagem dias tive o prazer de assistir em casa a este filme, Mysterious Skin, Pele Misteriosa na deliciosa tradução para português. Comecei a vê-lo com poucas (ou mesmo nenhumas) expectativas, seduzido por algumas opiniões favoráveis e alguns quantos prémios ganhos em festivais importantes, mas sem pesquisar, sequer, o assunto principal retratado. Bastaram poucos minutos de filme para perceber o seu tema e ficar colado ao ecrã. Um autêntico murro no estômago.

Gregg Akari teve a coragem de ousar realizar um filme sob o pesado e difícil tema da pedofilia. Optou, inteligentemente, por uma abordagem "psicanalítica" do assunto, afastando-se de qualquer juízo, relatando a história de dois seres, como que dois filmes diferentes, e como o(s) acto(s) hediondo(s) se repercutiram nas suas vidas de formas completamente diferentes. É uma narrativa fluida, realista e muito dreamy, inspirando-se claramente em referências como Elephant ou Requiem for a Dream, a perfeita alusão à inocência obliterada, com um toque de Magnolia. Mas, não tirando o mérito ao realizador, metade do encanto do filme deve-se a Joseph Gordon-Levitt. Foi a interpretação perfeita para o "personagem perfeito" - assustadoramente convincente, parecendo talhado para o papel, e preenchendo verdadeiramente o ecrã com a sua aura. Retrata fielmente a dualidade interior de uma infância arruinada: libertino, sem regras, roçando o vilão, mas no fundo, humano como qualquer um de nós, e carente como qualquer criança destroçada. A meu ver, o que o salvou de uma existência em espiral decadente, foi a amiga, Wendy (Michelle Trachtenberg).

Ainda que ele não o perceba, foi ela o seu suporte de sanidade, toda a sua vida. Algo de inexplicável a fez, ainda em tenra infância, não se afastar dele, mesmo quando percebeu o seu segredo. Qualquer outra criança teria fugido. Mas ela não. E esta foi a sorte maior da vida do Neil. Foi a sua única confidente. Durante longos anos foi o seu elo de ligação à realidade, da sua separação entre o bem e o mal, e é graças a ela que ele hoje é humano. Ela foi a sua amiga, a sua mãe, foi tudo para ele. Ela ama-o... sempre o amou! Quanto a ele, mesmo sendo como é, também a ama. Mas não o sabe. Talvez nunca o saberá.

O amor platónico de Wendy por Neil.

"Queria dizer-lhe que tudo tinha acabado e que estava tudo bem. Mas era mentira... Quem me dera haver uma maneira de ir ao passado, poder mudá-lo! Mas não há. E não há nada que possa fazer a esse respeito. Desejo por tudo que pudéssemos deixar tudo para trás. E nos elevássemos, como anjos na noite, e magicamente, desaparecessemos... ", Neil

domingo, abril 26, 2009

raeliano

O Movimento Raeliano Português, em resposta ao artigo: "A fé de todos", do néscio OSHIHAN, pede o obséquio da divulgação da seguinte mensagem:

Caros concidadãos terráqueos:

Toda a vida sobre a Terra, incluindo o homem, foi criada cientificamente em laboratório graças ao domínio perfeito da engenharia genética e do ADN por esses seres vindos de um outro planeta; os Elohim. A Bíblia, que relata a obra desses seres, é o livro ateu mais antigo do mundo. Nela se encontra  a palavra Elohim, figurando na versão original, que significa em hebraico “aqueles que vieram do céu”. Os Elohim confiaram a Raël a missão de difundir essa revelação revolucionária e de construir uma embaixada, onde eles virão num futuro próximo, oficialmente, em companhia dos grandes mensageiros que eles enviaram, tais como Jesus, Moisés, Buda e Maomé, que se encontram em vida sobre o seu planeta, graças à clonagem, o segredo da vida eterna.

O QUE ACONTECEU?

A 13 de Dezembro de 1973, o jornalista Francês, Rael, foi contactado por um visitante de outro planeta e solicitado para estabelecer uma embaixada com o fim de receber essas pessoas de regresso à Terra.

O ser humano extraterrestre, tinha pouco mais de 4 pés de altura, longos cabelos pretos, olhos com forma de amêndoa, pele de azeitona e exteriorizava  harmonia e humor. Rael descreveu-o recentemente dizendo simplesmente, "Se estivéssemos a caminhar por uma rua no Japão, ninguém se teria apercebido dele." Por outras palavras, eles parecem-se connosco e nós parecemo-nos com eles. Na verdade, nós fomos criados por eles "à sua imagem" tal como explicado na bíblia.

Ele disse a Rael que:

"Nós fomos aqueles que conceberam toda a vida na Terra"
"Vocês confundiram-nos com deuses"
"Nós estivemos na origem das vossas principais religiões"
"Agora que vocês possuem maturidade suficiente para entender, nós gostaríamos de estabelecer contacto oficial através de uma embaixada"

Curvem-se, perante os vossos criadores, com amizade e o beneplácito da nossa infinita omnipotência.

Fim da transmissão.

**A responsabilidade deste comunicado é da exclusiva responsabilidade do Movimento Raeliano Português, nenhum dos autores deste blog se responsabiliza pelo seu conteúdo. Continuaremos a dar voz a todos aqueles que nos solicitarem, usando para isso o email habitual para o efeito.*** Saudações!

sexta-feira, abril 24, 2009

Diz que houve uma revolução.tanque25

Está preste a começar, já começou, ou realizou-se, conforme o dia em que o visitante estiver a ler estas linhas, os rituais anuais do estado português de comemoração da Revolução de 25 de Abril, repetindo-se por todas as vozes a palavra liberdade nascida naquela dia. Eu, como a maioria daqueles que não eram nascidos àquela data ou, por serem jovens de mais em idade no momento, temos a “vantagem/desvantagem” de olhar para a data de forma menos apaixonada dos que tem mais de 45 anos e se orgulham de colocar um cravo na lapela.

Convém recordar, apesar do preconceito que isso representa para a maioria da sociedade portuguesa, que a revolução levada a cabo pelos militares teve como origem o desgaste de uma guerra colonial absurda e consequente desterro da juventude portuguesa nas províncias ultra-marinhas. A insatisfação de algumas chefias militares motivaram a revolução de Abril, aproveitada, e bem, pelos opositores ao regime e intelectuais, alguns no exílio, para inserirem a palavra liberdade na boca das pessoas, uma inconstante lógica no acto, facilmente difundida por entre todos, letrados e iletrados. Tanto é assim que só depois de 25 de Novembro de 1975, ficamos “livres” de cair novamente numa ditadura, dessa vez comunista. Graças a homens moderados e heróis como Vasco Lourenço, podemos falar hoje de liberdade, sem que isso nos tenha custado uma guerra civil com desfecho imprevisível.

Conseguidos os propósitos de quem pensou ser possível uma democracia em Portugal, vivemos até hoje com o estigma daqueles que se dizem os libertadores e responsáveis do 25 de Abril, que com a complacência do poder político, santificaram-se, vivendo à sombra de um estatuto conseguido em 1974. Otelo Saraiva de Carvalho é um desses casos. Líder operacional da organização terrorista FP-25 de Abril, julgado, provado e depois ilibado em tribunal por prescrição e amnistia, da morte vil de 17 pessoas, em pleno estado de direito, após a revolução e com a boca cheia da palavra liberdade, foi promovido este ano, para ajudar à festa das comemorações, a coronel pelo ministério da defesa e das finanças. Esta vergonhosa notícia é bem reveladora da visão sectária, facciosa e do tabu social imposto pelo poder político, que ludibria a opinião pública portuguesa a seu belo prazer.

portugal democracia de sucesso Este poder político, é o mesmo poder político que resultou do falhanço que foi partidarização em Portugal. Hoje a política é uma profissão de onde se servem milhares de portugueses que chegam com pouco e saem com muito, a prova essencial que a palavra liberdade e democracia não é tudo.

Argumentemos que trinta e cinco anos de democracia é muito pouco tempo. É-o de facto. É pouco tempo para nos resignarmos tão facilmente com as soluções que nos fazem parecer como inevitáveis, e mesmo que não fosse, nunca seria motivo para nos resignarmos à falta de valores e às desigualdades a que hoje assistimos. Nada está perdido, porque hoje temos na boca mais do que a palavra liberdade que se berrou no 25 de Abril. Justiça e igualdade foram conquistas que surgiram depois, muito para lá do que muitos supunham em 74, por isso, bem mais importante do que festejar o 25 de Abril e as suas conquistas, principalmente para quem a ele não assistiu, é lembrar o que ainda há para conquistar, mas isso, a minoria dos partidários dos partidos recusam tomar parte, bajulando o passado, esquecendo o futuro e festejando o 25 de Abril.

quinta-feira, abril 23, 2009

Gerichtsdiener in Acryl

Franz Kafka Der Prozess, Gerichtsdiener in Acryl

“Um burocrata é alguém que escreve um documento de dez mil palavras e lhe chama sumário.”

Franz Kafka

sábado, abril 18, 2009

“Minis” da RITA

rita_andrade

Já é de todos conhecida a histeria jornalística da profícua imprensa do social, mas pior do que ter jornalistas pagos a escrever sobre a vida de outras pessoas, é colocar donas de casa, leitoras dessas mesmas revistas - outrora nas janelas das nossas ruas –, a fazer o mesmo, com o agravante de neste último particular, esta “senhora” se encontrar: INDIGNADA.

Atentem, portanto, na sobranceria da dona Maria, de Guimarães que, do alto da sua excitada inquietude, escreveu o que se apresenta em baixo, numa autêntica ode à mesquinhez e à inveja, com o prejuízo de causar às mentes mais lúcidas, uma pungente e aborrecida coceira na parte posterior do toutiço. 

“Na minha opinião, a Rita Andrade abusa dos vestidos curtos. Agora que é casada e, pelo que constato, o marido é mais velho, não fica bem. A Rita pode dizer que, apesar de ser casada, é jovem, mas minha cara amiga, jovem é aos 15 ou 16 anos, agora com 23 já é adulta. Na inauguração de um bar, além do vestido ser curto, estava todo amarrotado. O ferro serve para passar a roupa.”

Maria, Guimarães

E toma! Primeiro casada com um homem mais velho, desavergonhadaaa! E ainda tem lata para usar vestidos curtos, que pouca vergonhaaa! Depois pensa que é jovem por ter 23 anos, caquécticaaa! Jovem é quem tem 15 ou 16 anos, se eu tivesse o teu corpo, usava era uma burca, feiaaa!

Estocada final: Aprende é a passar a ferro, leviaanaaa!

O Edy Crazy já ripostou, dizendo:

“Oiiiiiiiii…
a Rita éé MuitO GATA..!!
nunka vii mulher mais linda antes.!

Abençoada vc viu.!

bjOss”

Por nós, nenhum problema que a menininha continue a vestir roupa curta e amarrotada. Pela pertinência do assunto, fica a garantia dos Amendoins, que continuaremos a acompanhar esta situação de perto, apesar, da aborrecida coceira no toutiço.

quinta-feira, abril 16, 2009

A Coroação de Josefina

Consecration of the Emperor Napoleon I (detail)

Pormenor do quadro de Jacques Louis David, no Louvre, registando um dos mais importantes momentos da história europeia, o primeiro acto de laicização de um estado: a coroação da imperatriz Josefina por Napoleão I, perante o Papa Pio VII, na Catedral de Notre-Dame (até ali, estava reservado ao clero o direito exclusivo de coroar um monarca). Virtudes da Revolução Francesa.

terça-feira, abril 14, 2009

Notáveis 7ª arte

Young Mr. Lincoln de John Ford (1939)

Género: Drama

young mr. lincoln

“Law. That´s the rights of persons and the rights of things. The rights of life reputation and liberty. The rights to acquire and hold property. Wrongs are violations of those rights.“

Abraham Lincoln foi o 16º presidente dos Estados Unidos da América, e conduziu o país antes e depois da guerra civil americana, até ser assassinado poucos dias após o fim desta. O seu nome ficou mais conhecido na história por ter sido o responsável pela abolição da escravatura – um dos motivos para que alguns estados do Sul abandonassem a Federação e levasse a que Lincoln lhes decretasse guerra, após infrutíferas negociações, em nome da unidade nacional que tanto prezava.

Este retrato feito pelo mestre John Ford é uma peça ficcionada dos anos de vida do jovem Lincoln. Não é história, é uma estória sobre o mito de um dos mais adorados presidentes americanos, uma composição sobre o ideal americano, uma pintura épica de Ford sobre o retrato da efervescente América e os seus levantamentos populares no princípio do séc. XIX. Young-Mr-Lincoln_lInterpretado pelo jovem Henry Fonda, a dar os seus primeiros passos na sua inolvidável carreira, o jovem Lincoln, originário de uma família modesta, chega do nada, pela sua perseverança e espiritualidade a advogado e mais tarde a cargos legislativos. A acção do filme desenrola-se inicialmente com Lincoln a confrontar-se com os seus ideais, espicaçado por um livro de direito, ainda com o seu primeiro amor em vida. Após a morte deste, já estabelecido como advogado, voluntaria-se para defender dois jovens acusados de homicídio, filhos da mulher que lhe ofereceu o seu primeiro livro de direito. Aqui centra-se a essência do filme, na sala de tribunal, em disputa com a selvajaria popular e o deturpado sentido de justiça reinante no país. Lincoln evidencia-se como um hábil orador, um defensor da liberdade e da justiça, da civilidade moderna, um homem intrinsecamente bom, obstinado, mas ao mesmo tempo de uma enorme rectidão. O esboço de um futuro líder, de um mito edificado pela história e consagrado em obras como esta.

sábado, abril 11, 2009

A Fé de Todos Emile Nolde (1867-1956) - Crucifixion 1912 Crucifixion de Emile Nolde (1912)

Há coisas que só a fé salva, a fé, a teimosia, a ignorância e a estupidez, por isso se edifica estruturas burocráticas e administrativas para reger a fé. Falo de fé religiosa, claro está, a fé atávica da crença e das crendices, do dogma trazido e escrito por aqueles que vêem aquilo que escolhem ver, dos que fazem da fé uma carreira, não por ser apenas sua, mas dos outros.

Visto-me de roxo, por ao roxo pertencer a mortificação, de branco, por ao branco pertencer a paz, liberte-me o corpo do senhor deste mal. Não posso mais.

A estupidez tem limites.

Poderia ter, não existisse a fé, não tivesse o nosso pensamento ancorado à perversidade do medo e do sofrimento, ao fanatismo do porque sim, à condenação da crença e da descrença, não se assenhoreasse de um dos mais altos valores humanidade, tão frequentemente violado, o respeito pelo outro. Há algo mais absurdo do que as guerras entre religiões? A luta da estupidez, da batalha e da morte pelo mesmo Deus, sim, porque se Deus existe é igual para todos, mudem os ícones e os ritos, mas não se contradigam.

Não sei se Deus existe, sou um agnóstico educado na religião católica apostólica romana, não posso negar nem afirmar aquilo que não sei. Acho que só um estúpido não seria crente se a existência de Deus fosse aritmeticamente, matematicamente, filosoficamente demonstrada. Mas isso é impossível. No dia em que se chegar a Deus pela razão, espero não estar cá, seria mais um louco. À fé, já o homem chega pela razão, em raros casos, pela “iluminação interior?!?”, essa fé dos crentes, aparentemente tão divergente da dos descrentes ateus, mas ao mesmo tempo tão parecida, a redundância dos opostos, dos que discordam da fé dos crentes, usando precisamente o mesmo argumento, o de uma espécie de fé, a fé da certeza absoluta que Deus não existe.

Neste ano podemos lembrar-nos de como um lord protestante ferrenho, demoliu o criacionismo, há 150 anos. Charles Darwin demonstrou que o homem e todos os outros seres vivos sofreram um processo evolutivo, tendo em comum, a mesma origem. Lá se foi o ensinamento da bíblia que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, deixando a nu a crua realidade que não somos assim tão importantes e especiais como os animais que temos presos em casa e pagamos para ver no jardim zoológico. O que Darwin não respondeu, nem nunca ninguém irá responder é à génese das géneses e a essa, a razão que comanda o homem, nunca se irá sobrepor.

terça-feira, abril 07, 2009

Espelho meu, serei eu mais curioso do que eu?

Dante Gabriel Rossetti - 1879 - pandora Pandora de Dante Gabriel Rossetti (1879)

Diz-se que a curiosidade matou o gato. Diz-se que a curiosidade levou Eva a colher o fruto proibido e a dá-la ao parvalhão do Adão, conhecendo assim o pecado e a vergonha. Diz-se que Zeus como castigo a Prometeu, por este lhe ter roubado o fogo e o ter entregue ao Homem, criou a primeira mulher, Pandora. A esta foram dados os dons de todos os deuses do Olimpo, moldada por Hefestos, embelezada por Afrodite e com a curiosidade de Hera, recebeu de Zeus uma caixa, com a promessa absoluta de não a abrir. Prometeu, desconfiado do presente, acabou por a entregar ao seu irmão Ephimeteus. A irresistível curiosidade de Pandora e o ardil dado por Zeus, levou-a a roubar a chave da caixa ao marido, e ao abri-la, libertou todos os males da humanidade, estava completo o castigo de Zeus.

Com o fogo, o Homem evoluiu e diferenciou-se dos outros animais, deus do próprio destino, tem agora sobre a cabeça o frio, a fome, a inveja, a guerra, a miséria, a dor. Falta, para terminar o dito, dizer que lá no fundo, depois de todos os males invadirem a humanidade, algo muito brilhante sobrou, uma réstia, um cintilar, a esperança. Não é a condição plena de felicidade, mas é o melhor que a inevitabilidade nos têm para oferecer.

segunda-feira, abril 06, 2009

Blue(Moby Dick) de Pollock

pollock.moby-dick

quarta-feira, abril 01, 2009

Notáveis 7ª arte

Casablanca de Michael Curtiz (1942)

Género: Drama / Romance

casablanca

“The greats of today would not exist without the greats of yesterday”

Com o avanço das tropas Nazis sobre Paris, durante a Segunda Guerra Mundial, a França ocupada tornar-se-ia um terreno tão desabrido como o resto da Europa, restando como última via possível de escapatória rumo à liberdade dos Estados Unidos da América, o trajecto via Casablanca – Lisboa, mas apenas durante um curto espaço de tempo, até a estrutura nazi controlar completamente a Marrocos francesa. Sob este pano de fundo decorre um dos topos de gama do cinema mundial, pertencente à galeria dos clássicos imortais, aqueles, tal como Citizen Kane, que rivalizam pelo título de melhor filme de sempre.

O austro-húngaro Michael Curtiz foi o construtor desta “máquina” meticulosamente construída e oleada o suficiente para imprimir uma fluidez narrativa proporcional ao acompanhamento normal da atenção do espectador, preenchida com diálogos inteligentes, muito humor e tensão, num dos maiores romances de sempre com o mais realista e “inesperado” final possível.

Casablanca “I remember every detail. The Germans wore gray, you wore blue.”

Ao volante da interpretação, Humphrey Bogart, com um dos personagens mais cools de sempre do cinema, Rick Blaine, dono do Rick’s Cafe Americaine, local de passagem para todo o tipo de indivíduos em Casablanca, jogadores, oportunistas, pequenos ladrões, autoridades locais, conspiradores, nazis, franceses patrióticos. É aqui que se toma lugar grande parte das transacções de vistos e autorizações de saída para Lisboa, apesar de Rick gerir o negócio distanciado de tudo isto, não arriscando o seu pescoço por ninguém, como faz questão de dizer. Rick é o americano, o tipo anti-fascista, ex-soldado da fortuna vindo de Paris disposto a assentar em território neutro após ter sido abandonado pelo seu grande amor. É um homem amargo e o gerente ideal para aquele lugar: descomprometido com o mundo, a política e as autoridades.

551casablancarains Claude Raines é Captain Renault, o perfeito da polícia de Casablanca, que desenvolve com Rick uma relação curiosa, pautando-se por uma primorosa neutralidade no exercício das suas funções, corruptível, no entanto, ao jogo e a belas senhoras dispostas a tudo para conseguir vistos de saída para a sua família, de Casablanca. As suas cenas com Rick, carregadas de cinismo, são das mais hilariantes do cinema, completando o papel principal de Bogart, tornado inesquecível esta parelha. As outras duas personagens principais são: Ingrid Bergman, uma esplendorosa sueca ao estilo de divina de Hollywood, com o papel de Ilsa Lund, o amor de Rick em Paris que o abandonou sob o mistério da sua vida e Paul Henreid, um importante dirigente idealista da resistência, perseguido pelos nazis, marido de Ilsa Lund, chegados a Casablanca com o mesmo objectivo de tantos outros, encontrando-se ironicamente com a vida nas mãos de Rick, enquanto o tempo escasseia.

Às vezes um beijo não é só um beijo – neste caso, é para sempre e certamente, o início de uma beleza amizade. Em pouco mais de 100 minutos, o filme que a maioria dos filmes gostariam de ser.

“Play it again, Sam...”