segunda-feira, novembro 30, 2009

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Hadji-Murat de Lev Tolstói (1911)

Hadji-Murat

“No serviço e em casos tão embrulhados, é difícil, se não impossível, seguirmos só um caminho directo, sem arriscarmos errar e sem carregarmos com a responsabilidade; mas quando o caminho nos parece directo temos de o seguir – e seja o que Deus quiser.”

O famoso escritor russo Conde Lev Nikolayevitch Tolstói é mundialmente famoso pelos seus romances Guerra e Paz, e Anna Karénina, dois exemplares maiores da literatura mundial. Porém, em 1904, terminou este livro, que viria a ser a sua última obra, publicada em 1911, já a título póstumo.

Durante a sua juventude Tolstói serviu o exército imperial russo na guerra da Crimeia e do Cáucaso; experiências que acabaram por ter uma importância decisiva nos seus trabalhos literários posteriores. Em 1896, quando fazia um passeio por um terreno lavrado, viu-se a recordar os anos em que esteve alistado às ordens do déspota imperador russo Nicolau I e reparou num bonito cardo partido e torcido pelo lavrar da terra, o qual tentou salvar, sem sucesso. Este episódio acabou por tornar-se uma metáfora com a vida de um famoso chefe e guerreiro muçulmano, da região do Cáucaso, que Tolstói conheceu – Hadji Murat.

L.N. Tolstoy. Petersburg, 1856.Tolstói ao serviço do exército russo, em 1856.

Hadji-Murat, ou mais precisamente Hadji Murad, na pronúncia russa, foi um nome bem conhecido das tropas russas e um herói para as gentes do Cáucaso. Defendeu acerrimamente o seu povo e lançou o terror nas tropas russas, numa guerrilha feita a partir das montanhas. Pertencia à corrente mais pacífica do islamismo, fazendo da honra, da educação e do estrito respeito pelos seus costumes a sua bússola orientadora.

Apanhado entre o fanatismo islâmico do senhor da guerra Imam Shamil, com pretensões em dominar toda a região, e os esforços russos de expansão do seu controlo na zona, acaba por ver a sua família aprisionada e perseguido com os seus homens, por Shamil. Nesta obra é narrada a sua rendição aos russos, com o intuito de ajudar os russos a derrubar Shamil. 

Pequeno em tamanho, quando comparado com as obras-mestras de Tolstói, Hadji-Murat é um mordaz e sarcástico, e ao mesmo tempo frio e distante relato do encontro entre duas culturas muito diferentes, da denúncia da Natives_of_the_Caucasus,_north_of_Mingrelia_(A)corrupção moral e espiritual da monarquia e das elites russas, contrastantes com a simplicidade e o vigor espiritual do “bárbaro” Hadji-Murad.

A tragédia de Hadji-Murad é só mais um apontamento da arte e da visão de Tolstói. Uma história cativante, contada com a mestria de um dos grandes autores russos do século XIX, que torna o desafio da leitura um prazer único, preenchida de experiências, princípios, pensamentos e intenções que vão muito para além da simples prosa. Não deixa de ser irónico de como estes eventos, de 1851, ainda hoje podem ser revisto no recente conflito entre russos e tchetchenos, volvido mais de século e meio.

O tempo e a modernidade vieram a dar razão às convicções de Tolstói. Só uma boa educação moral e técnica, baseada no respeito pela liberdade individual política e religiosa, poderia ser um garante de um futuro melhor para a Rússia e suas gentes. Como último exemplo, Tolstói não quis de deixar de prestar a sua homenagem a Hadji-Murad, um símbolo de auto-sacrifício pela sua comunidade, de polidez e honradez; de como pode ser a vida arrastada por uma tal força e que desperdício é ver essa força tão facilmente destruída pela fraqueza das outras.

sábado, novembro 28, 2009

Para memória futura!

Boys on the Beach (1910) Young Boys on the Beach – Joaquín Sorolla (1910)

O espanhol Joaquín Sorolla é conhecido por ter captado cenas de praia; explora a luz e os contrastes das suas cores, como poucos. O efeito pictórico dos seus quadros traz-nos à recordação lembranças comuns a todos nós, guardadas nos espaços mais remotos da nossa memória, dos tempos de inocência.

A minha memória ainda é o que era, e é hoje mais do que antes foi. E sublinho hoje porque o amanhã desconheço.

Percebo agora que o título deste texto não faz sentido - mas como é bonito vou deixar ficar na mesma -, não existe isso da memória futura, porque não podemos ter memória do que ainda não aconteceu e, pensando bem, tudo o que fazemos poderá ser passível de memória futura. Uma recente série americana (altamente aconselhável) explora este conceito que na realidade não passa de um vazio retórico.

O tempo acaba por apagar muitas das recordações, persistindo aquelas que resistem à força da passagem do tempo e a esse complexo mecanismo psicológico de arquivo a que recorremos sempre que necessitamos - a chamada memória presente, a única que realmente existe.

Da mesma forma que de um único lugar temos apenas uma perspectiva, e só vemos a partir desse sítio, até onde a nossa vista alcança, o presente é o lugar de onde se observa e de onde se imagina o futuro e se lê o passado, em função das emoções do momento, que nos faz ter a multiplicidade de sentimentos vividos no presente.

A nossa capacidade de regeneração e crescimento é admirável. Sou diferente de ontem mas igual a amanhã, no fundo, sou o que sou hoje sem prejuízo para a minha memória, e enquanto isso acontecer, descanso na lembrança.

sexta-feira, novembro 27, 2009

Hoje sinto-me assim:

I never wanna be old
And I don't want dependents
It's no fun to be told
That you can't blame your parents anymore.

I'm finding it hard to hang from a star
I don't wanna be...
Never wanna be old
.

Sullen and bored the kids stay
And in this way wish away each day
Stoned in the mall the kids play
And in this way wish away each day

I don't really know
If I care what is normal
And I'm not really sure
If the pills I've been taking are helping

I'm wasting my life
Hurting inside
I don't really know
And I'm not really sure...

Sullen and bored the kids stay
And in this way wish away each day
Stoned in the mall the kids play
And in this way wish away each day

E não é tão mau assim…

domingo, novembro 22, 2009

Melhor concerto do ano…

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Porcupine Tree.

The Incident Tour,  no Teatro Sá da Bandeira.

Os adjectivos são poucos para descrever o último concerto desta banda, em Portugal.

Excelentes músicos, trechos musicais inesquecíveis, mesmo os que mais recentes que haviam esfriado os ânimos dos fanboys que existiam dentro de nós. A alma e o cuidado com todos os pormenores (música, vozes, vídeos) estão lá, como sempre estiveram.

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Sâo os Porcupine Tree, com uma dinâmica que parece renovar-se com a passagem dos anos, tornando, para todos os que tiverem a felicidade de estarem presentes, a noite de ontem um momento memorável, conquistado com as virtudes com que sempre nos habituaram, mas com um carisma novo e totalmente surpreendente, para quem conhece o carácter humilde dos seus protagonistas.

quinta-feira, novembro 19, 2009

A “Brasileirinha Perigosa”

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S. João da Madeira tem mais uma razão para ser a melhor cidade do Norte do país para se viver (estudo UBI 2009)! Desta vez, aos habitantes do centro de São João da Madeira tem sido oferecidos filmes pornográficos de uma certa "brasileirinha perigosa".

Regininha Poltergeist é o nome da artista de variedades que tem deixado um rasto de comiseração nos habitantes de São João da Madeira ainda não contemplados com a  bondade do filantrópico anónimo que tem distribuído,  gratuitamente, pelas caixas do correio, filmes com pornografia gostosa, onde a “brasileirinha” (que fala muito pouco) e os “seus inseparáveis companheiros” empreendem uma série de aventuras fantásticas de concúbito e promiscuidade inenarráveis.

A dona Ana Maria já recebeu 6 DVDs diferentes e teme que algum dos seus filhos descubra. Minha cara amiga, se está a ler Os Amendoins do Ricky, nada tema, os seus filhos na casa dos 30, já visitaram – isto com uma probabilidade a roçar os 90% –, o NightStars em Bustelo, ou o Felina, ali a 300 metros da Nossa Senhora dos Milagres. Acredito, por isso, que não será nenhum milagre que os seus filhos, largadotes já da papa maizena, vai para uns anitos, tenham já entrado em contacto com a natureza extravagante do sexo feminino.

O assunto está rotulado de delicado e sensível pelas autoridades e ”vítimas” deste “mundo estranho”. Concordo completamente, a insatisfação de uns pelo realizar do sonho de outros, faz-nos perceber o quão desfigurada pode ser a escala de valores e de importância das pessoas, reforçando a acepção da palavra ingratidão.

Não obstante, e imbuídos por este anónimo benfazejo de entrega à sua comunidade, apresentamos, em baixo, uma foto da querida Brasileirinha Perigosa, pronta para justificar o seu nome – Poltergeist, em posição de indelével talento e de compenetrado esmero pelo seu ofício.

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 Etiquetas Extra: São João da Madeira; Qualidade de vida; Filantropia; Qualidade de vida; Brasileirinha; São João da Madeira; Qualidade de vida; Dona Ana Maria; Qualidade de vida; Papa Maizena; São João da Madeira; Qualidade de vida; Homens de 30 anos que não sabem o que é um clítoris; São João da Madeira; Qualidade de vida; Sexo Gostoso; Qualidade de vida; Castro de Almeida; São João da Madeira; Qualidade de vida; Oliva Porno Factory; São João da Madeira; Qualidade de vida; Perigosas; Paços da Cultura de São João da Madeira; São João da Madeira; Qualidade de vida; CTT; Grátis; São João da Madeira; Qualidade de vida; Dica da Semana; A PSP tem mesmo muito que fazer; São João da Madeira; Qualidade de vida;

segunda-feira, novembro 16, 2009

Porcupine Tree – The Incident Tour

Próximo dia 20 e 21 de Novembro, no Incrível Almadense e Teatro Sá da Bandeira, respectivamente.

 

 

Se tiverem em casa Ipods para destruir, tragam-nos. O Steven terá todo o gosto em os inutilizar; é uma das suas especialidades, a par da composição musical.

Hello my name is Steven Wilson, and i am also handy at doing this: 

 

The moon shook and curled up like gentle fire
The ocean glazed and melted wire
Voices buzzed in spiral eyes

Stars dived in blinding skies

Stars die. Blinding skies.

Tree cracked and mountain cried
Bridges broke, window sighed
Cells grew up and rivers burst
Sound obscured and sense reversed

Idle mind and severed soul
Silent nerves and begging bowl
Shallow haze to blast a way
Hyper sleep to end the day

 

Much better Steven, much better…

 

Até sábado!

quinta-feira, novembro 12, 2009

O Cão Meio Submerso

half-submerged dogPerro semihundido  (1821 – 1823) de Goya. 

A vida é um grande enigma, uma roleta russa de acasos, um sortido de escolhas, sortes e azares. Os caminhos que se trilham nem sempre são perceptíveis, e as rasteiras pelo caminho tem a virtude de nos expor às nossas indubitáveis fragilidades.

Um cão afundado num terreno, com a cabeça de fora, atrás de um declive, a olhar para cima e com um olhar quase humano, expõe o paralelo entre a fragilidade e o enigma.

É impossível de determinar o genuíno propósito de Goya com esta pintura, possivelmente inacabada e retirada da sua “Quinta del Sordo” no conjunto de quadro negros, já aqui abordados.

O vasto espaço vazio que ocupa grande parte da pintura, acima de uma pequena cabeça isolada de um cão, e a fitar algo que parece estar fora da pintura, potenciada pela escassez de adornos, ajuda a  transmitir uma sensação de desassossego e ansiedade, que se tornou uma das maiores fontes de inspiração para muitos artistas contemporâneos, em vários domínios da arte.

O seu minimalismo e a sua completa falta de organização formal constituiu um precedente na pintura abstracta, mas também um precedente no olhar compadecido pelo sentir da vida.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Um muro e várias bananas

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Diz um miúdo da Alemanha Ocidental para outro, do lado de lá do muro:

Eu tenho uma banana! Eu tenho uma banana!

O miúdo do lado leste queixando-se, diz ao pai:

- Oh pai! Está ali um menino do lado ocidental a dizer que tem uma banana.

Responde o pai:

- Diz-lhe que tens o socialismo, filho.

No dia seguinte, o miúdo do lado ocidental lá estava a repetir o mesmo:  Eu tenho uma banana! Eu tenho uma banana!

Retorquiu o de leste: Mas eu tenho o socialismo.

Eu também o vou ter - disse o de ocidente.

Ao que derradeiramente respondeu o miúdo de leste: E vais ficar sem a banana! E vais ficar sem a banana!

domingo, novembro 01, 2009

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A Segunda Guerra Mundial de Martin Gilbert (1989)

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Conhecer o passado é fundamental para perceber o presente. Conhecer o nosso passado recente é inevitável para que nos possamos situar no presente, e entender realidades e sensibilidades para além das nossas, que por ignorância não compreendemos e rejeitamos. Conhecer a história é bem mais do que saber meros números e factos, é aprender sobre origens, princípios, fundamentos, direitos e deveres. Conhecer e ter memória pode ajudar-nos a ser melhores do que aquilo que somos, e é por este pormenor escapar ao entendimento da maioria das pessoas, que a história continua a ser vista com tanto desdém e relegada para uma posição subalterna do que se estipula que devam ser os vulgares conhecimentos de um indivíduo.

Have you ever heard these words? Portão de entrada de Auschwitz, um dos mais conhecidos e conservados campos de concentração alemães com a inscrição: “O trabalho vos libertará.”

O conceituado historiador inglês, Martin Gilbert, biógrafo oficial de Winston Churchill e autor de livros sobre a história mundial, como: História de Israel, A Primeira Guerra Mundial e Churchill: Uma Vida, promove, de forma impar, um acervo de informação sobre esse devastador e horripilante acontecimento da história contemporânea, que foi a Segunda Guerra Mundial. Mais de 1000 páginas dos 2174 dias de guerra e posteriores meses, aos quais dedica dois capítulos intitulados: “Retribuição e memória, 1945-1952” e “Um caso interminável, 1953-1989”, dedicado às cicatrizes e feridas por sarar que a guerra deixou nos homens e países que nela participaram. A ilustrar toda a narrativa há 130 fotos e 28 mapas, preparados especialmente pelo autor para este livro, revelando as centenas de lugares mencionados no texto, dos mais conhecidos, aos mais longínquos.

The Manila Bomb Uma entre os milhões de bombas largadas em cidades europeias, durante o conflito, devastando e mudando a face destas regiões para sempre.

Uma leitura seguida e compulsiva, deste livro, não é para todos os estômagos, principalmente, e tendo em conta a narração extensa e minuciosa de um role interminável de mortandades. No entanto, Martin Gilbert teve o cuidado de organizar este livro de forma a que este pudesse ser também uma fonte de consulta acessível e esporádica, com uma inteligente divisão de capítulos e um eficaz índice remissivo.

A guerra começou a 1 de Setembro de 1939 - fez neste ano, de 2009, 70 anos – com a invasão da Polónia pela Alemanha Nazi, sob o pretexto fabricado de “um assalto polaco” à estação de rádio, da cidade alemã de Gleiwitz. A partir daí foi dado o mote para a desmedida violência que as tropas alemãs, e os seus aliados, impuseram às dezenas de estados que invadiram, capitais que cercaram e povos que subjugaram. A superioridade técnica e militar, aliada à cumplicidade soviética dos primeiros anos da guerra, permitiu que rapidamente toda a Europa Central e do Norte estivesse de joelhos perante os exércitos de Hitler e Estaline. Do outro lado, os Aliados, liderados pela Inglaterra de Churchill viam mais uma das suas potências cair perante a força dos países do Eixo – a França, ao mesmo tempo que a Itália do interesseiro e cobarde Mussolini se juntava aos seus parceiros déspotas. Ao mesmo tempo que Hitler e as suas SS criavam as suas máquinas de extermínio, a Alemanha declarava guerra ao seu anterior aliado Soviético. Os Estados Unidos, apesar de sempre terem apoiado as potências Aliadas, com o fornecimento de material militar e civil, manteve-se neutral, mesmo quando os submarinos alemães já afundavam navios mercantes americanos. Só com a declaração de guerra alemã é que Roosevelt assumiu a entrada na guerra, empurrada pelo ataque japonês a Perl Harbour. Se os países do eixo espalhavam o terror pela Europa, no oriente era o Japão imperial tomar como modelo os métodos alemães, espalhando o terror pelo Pacífico e conduzindo uma guerra sangrenta e suicida, mesmo quando a derrota era certa.

Conferência de TeerãoRoosevelt, Churchill e Estaline na Conferência de Teerão, a 30 de Novembro de 1943. O bolo de aniversário era para comemorar o 68.º aniversário de Churchill. A conferência tinha começado no dia anterior.

Se a inicial supremacia militar alemã foi fundamental para o desenvolvimento dos acontecimentos, a arma decisiva dos aliados, desde o inicio da guerra, foi o decifrar das mensagens secretas Enigma, pelos cripto-analistas britânicos de Bletchley, e de todos os códigos subsequentes, que as autoridades políticas e militares do Eixo trocavam entre si, proporcionando que uma grande quantidade de informações fossem conhecidas por antecipação às acções no terreno, permitindo aos Aliados, não raras vezes, estarem um passo à frente dos seus beligerantes.

Dos dois lados, a aposta no desenvolvimento tecnológicos das armas de guerra era uma preocupação constante, que acabou por culminar, com a construção das primeiras bombas atómicas, pelos Estados Unidos. Uma arma com um poder de cerca 20 000 a 30 000 toneladas de TNT, largadas, durante a guerra, sob Hiroshima, a 6 de Agosto de 1945 e Nagasaki, a 9 de Agosto de 1945, levando à rendição do até então insubmisso Japão, três meses após a tomada de Berlim.

Ghost Prisioneiros de guerra alemães, das gulags soviéticas, campos de trabalho que se estima que tenham feito tantas vítimas como os campos de extermínio alemães.

A esta guerra não se compara nenhuma outra. Além de ter percorrido todos os continentes, pela primeira vez na história, uma guerra não se limitou a opor exércitos contra si, colocou como propósito e no centro da batalha populações, grupos étnicos, homens, mulheres, velhos e crianças, perseguidos e exterminados, em nome de um ódio racial propagandeado por um grupo de fanáticos. Hitler e os seus pares conseguiram despertar o que de mais vil e sádico pode encerrar o espírito humano, conduzindo uma das maiores infâmias da história da humanidade.

Hitler and Himmler

À direita, Hitler, o Führer da Alemanha nacional socialista, autor do livro Mein Kampf, onde difundiu as suas ideias racistas e anti-semistas, ideologia que o guiou na Segunda Guerra Mundial. À sua esquerda, Heinrich Himmler, um dos seus maiores apoiantes, responsável pela resolução da questão final judaica.

As marcas, deste conflito, ainda são hoje visíveis, nas linhas que traçam as fronteiras dos países, nas organizações mundiais que se criaram num esforço de paz, nas guerras regionais que se vieram a observar, anos mais tarde, na política e nos dirigentes que fazem a nossa história recente e nos traumas físicos, psicológicos e sentimentos recalcados que se continuam a observar nos dias de hoje, nos descendentes desta guerra. Ainda recentemente tivemos um exemplo bem elucidativo deste clima de desconfiança que continua a pairar sobre muitas sensibilidades, com a exigência  da República Checa, à União Europeia, para que os alemães e húngaros, expulsos do território, após a Segunda Guerra Mundial, não tenham o direito de reivindicar devoluções ou compensações, de forma a ratificarem o Tratado de Lisboa.

Hungry Citizens Episódio transcrito, no livro, do relato de um oficial polaco, durante o cerco alemão a Varsóvia: “Assisti hoje a uma cena reveladora. Um cavalo foi atingido por uma bomba e caiu na rua. Quando, uma hora mais tarde, tornei a passar pelo mesmo sítio, já só restava o esqueleto. A carne tinha sido tirada pelas pessoas que viviam nas imediações.

A narrativa atraente, cronológica e detalhada, deste livro, recupera todos os acontecimentos relevantes da guerra, em todas as frentes (terra, mar e água), cruzando documentos oficiais, resumos de estratégia militar, memórias de diários e relatos, na primeira pessoa, de sobreviventes. Histórias de coragem, heroísmo, desespero e grande sofrimento, em que a políticos, generais, soldados e civis anónimos é dada a mesma importância, no cenário de horrores que foi estar atrás das linhas sob ocupação e em todos os lugares onde o barulho das bombas e os gritos desesperados de morte se fizeram sentir.