A Segunda Guerra Mundial de Martin Gilbert (1989)
Conhecer o passado é fundamental para perceber o presente. Conhecer o nosso passado recente é inevitável para que nos possamos situar no presente, e entender realidades e sensibilidades para além das nossas, que por ignorância não compreendemos e rejeitamos. Conhecer a história é bem mais do que saber meros números e factos, é aprender sobre origens, princípios, fundamentos, direitos e deveres. Conhecer e ter memória pode ajudar-nos a ser melhores do que aquilo que somos, e é por este pormenor escapar ao entendimento da maioria das pessoas, que a história continua a ser vista com tanto desdém e relegada para uma posição subalterna do que se estipula que devam ser os vulgares conhecimentos de um indivíduo.
Portão de entrada de Auschwitz, um dos mais conhecidos e conservados campos de concentração alemães com a inscrição: “O trabalho vos libertará.”
O conceituado historiador inglês, Martin Gilbert, biógrafo oficial de Winston Churchill e autor de livros sobre a história mundial, como: História de Israel, A Primeira Guerra Mundial e Churchill: Uma Vida, promove, de forma impar, um acervo de informação sobre esse devastador e horripilante acontecimento da história contemporânea, que foi a Segunda Guerra Mundial. Mais de 1000 páginas dos 2174 dias de guerra e posteriores meses, aos quais dedica dois capítulos intitulados: “Retribuição e memória, 1945-1952” e “Um caso interminável, 1953-1989”, dedicado às cicatrizes e feridas por sarar que a guerra deixou nos homens e países que nela participaram. A ilustrar toda a narrativa há 130 fotos e 28 mapas, preparados especialmente pelo autor para este livro, revelando as centenas de lugares mencionados no texto, dos mais conhecidos, aos mais longínquos.
Uma entre os milhões de bombas largadas em cidades europeias, durante o conflito, devastando e mudando a face destas regiões para sempre.
Uma leitura seguida e compulsiva, deste livro, não é para todos os estômagos, principalmente, e tendo em conta a narração extensa e minuciosa de um role interminável de mortandades. No entanto, Martin Gilbert teve o cuidado de organizar este livro de forma a que este pudesse ser também uma fonte de consulta acessível e esporádica, com uma inteligente divisão de capítulos e um eficaz índice remissivo.
A guerra começou a 1 de Setembro de 1939 - fez neste ano, de 2009, 70 anos – com a invasão da Polónia pela Alemanha Nazi, sob o pretexto fabricado de “um assalto polaco” à estação de rádio, da cidade alemã de Gleiwitz. A partir daí foi dado o mote para a desmedida violência que as tropas alemãs, e os seus aliados, impuseram às dezenas de estados que invadiram, capitais que cercaram e povos que subjugaram. A superioridade técnica e militar, aliada à cumplicidade soviética dos primeiros anos da guerra, permitiu que rapidamente toda a Europa Central e do Norte estivesse de joelhos perante os exércitos de Hitler e Estaline. Do outro lado, os Aliados, liderados pela Inglaterra de Churchill viam mais uma das suas potências cair perante a força dos países do Eixo – a França, ao mesmo tempo que a Itália do interesseiro e cobarde Mussolini se juntava aos seus parceiros déspotas. Ao mesmo tempo que Hitler e as suas SS criavam as suas máquinas de extermínio, a Alemanha declarava guerra ao seu anterior aliado Soviético. Os Estados Unidos, apesar de sempre terem apoiado as potências Aliadas, com o fornecimento de material militar e civil, manteve-se neutral, mesmo quando os submarinos alemães já afundavam navios mercantes americanos. Só com a declaração de guerra alemã é que Roosevelt assumiu a entrada na guerra, empurrada pelo ataque japonês a Perl Harbour. Se os países do eixo espalhavam o terror pela Europa, no oriente era o Japão imperial tomar como modelo os métodos alemães, espalhando o terror pelo Pacífico e conduzindo uma guerra sangrenta e suicida, mesmo quando a derrota era certa.
Roosevelt, Churchill e Estaline na Conferência de Teerão, a 30 de Novembro de 1943. O bolo de aniversário era para comemorar o 68.º aniversário de Churchill. A conferência tinha começado no dia anterior.
Se a inicial supremacia militar alemã foi fundamental para o desenvolvimento dos acontecimentos, a arma decisiva dos aliados, desde o inicio da guerra, foi o decifrar das mensagens secretas Enigma, pelos cripto-analistas britânicos de Bletchley, e de todos os códigos subsequentes, que as autoridades políticas e militares do Eixo trocavam entre si, proporcionando que uma grande quantidade de informações fossem conhecidas por antecipação às acções no terreno, permitindo aos Aliados, não raras vezes, estarem um passo à frente dos seus beligerantes.
Dos dois lados, a aposta no desenvolvimento tecnológicos das armas de guerra era uma preocupação constante, que acabou por culminar, com a construção das primeiras bombas atómicas, pelos Estados Unidos. Uma arma com um poder de cerca 20 000 a 30 000 toneladas de TNT, largadas, durante a guerra, sob Hiroshima, a 6 de Agosto de 1945 e Nagasaki, a 9 de Agosto de 1945, levando à rendição do até então insubmisso Japão, três meses após a tomada de Berlim.
Prisioneiros de guerra alemães, das gulags soviéticas, campos de trabalho que se estima que tenham feito tantas vítimas como os campos de extermínio alemães.
A esta guerra não se compara nenhuma outra. Além de ter percorrido todos os continentes, pela primeira vez na história, uma guerra não se limitou a opor exércitos contra si, colocou como propósito e no centro da batalha populações, grupos étnicos, homens, mulheres, velhos e crianças, perseguidos e exterminados, em nome de um ódio racial propagandeado por um grupo de fanáticos. Hitler e os seus pares conseguiram despertar o que de mais vil e sádico pode encerrar o espírito humano, conduzindo uma das maiores infâmias da história da humanidade.
À direita, Hitler, o Führer da Alemanha nacional socialista, autor do livro Mein Kampf, onde difundiu as suas ideias racistas e anti-semistas, ideologia que o guiou na Segunda Guerra Mundial. À sua esquerda, Heinrich Himmler, um dos seus maiores apoiantes, responsável pela resolução da questão final judaica.
As marcas, deste conflito, ainda são hoje visíveis, nas linhas que traçam as fronteiras dos países, nas organizações mundiais que se criaram num esforço de paz, nas guerras regionais que se vieram a observar, anos mais tarde, na política e nos dirigentes que fazem a nossa história recente e nos traumas físicos, psicológicos e sentimentos recalcados que se continuam a observar nos dias de hoje, nos descendentes desta guerra. Ainda recentemente tivemos um exemplo bem elucidativo deste clima de desconfiança que continua a pairar sobre muitas sensibilidades, com a exigência da República Checa, à União Europeia, para que os alemães e húngaros, expulsos do território, após a Segunda Guerra Mundial, não tenham o direito de reivindicar devoluções ou compensações, de forma a ratificarem o Tratado de Lisboa.
Episódio transcrito, no livro, do relato de um oficial polaco, durante o cerco alemão a Varsóvia: “Assisti hoje a uma cena reveladora. Um cavalo foi atingido por uma bomba e caiu na rua. Quando, uma hora mais tarde, tornei a passar pelo mesmo sítio, já só restava o esqueleto. A carne tinha sido tirada pelas pessoas que viviam nas imediações.
A narrativa atraente, cronológica e detalhada, deste livro, recupera todos os acontecimentos relevantes da guerra, em todas as frentes (terra, mar e água), cruzando documentos oficiais, resumos de estratégia militar, memórias de diários e relatos, na primeira pessoa, de sobreviventes. Histórias de coragem, heroísmo, desespero e grande sofrimento, em que a políticos, generais, soldados e civis anónimos é dada a mesma importância, no cenário de horrores que foi estar atrás das linhas sob ocupação e em todos os lugares onde o barulho das bombas e os gritos desesperados de morte se fizeram sentir.
1 comentários:
Sir Martin Gilbert é um grande historiador, estou certo que é um livro bastante preciso e minucioso.
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