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sábado, janeiro 31, 2009


Um alguém chamado ninguém?


Realidade que te venda os sentidos,
Livra-te dela
Poeira suja, negra... vazia.
De onde veio não sabes,
Não queres saber,
Não te incomoda.
É pequena, incapaz,
Como tu.
Porque sorris?
Estás descalço, despido de ti
Sentes a perda, como sempre,
Sentes-te alguém, quase nunca.
Conheces o frio que sentes?
É amargo como a tua lembrança,
Quente como a tua ferida,
Estás perdido?
Livra-te dela
Realidade suja, negra... vazia.
Despe-te dela,
Deixa-te sorrir.

terça-feira, novembro 11, 2008

E se o desafio for mudar as regras do jogo?


E se as palavras desafiarem as tonalidades da tua mente?
E se um jogo te levar num percurso descentralizado?
Ofereço-te umas pistas… Lê e pinta o teu quadro de pensamento =)


Permite-me que te faça um convite...
Permite-te cada ânsia de fazer, de cometer, de realizar que sem perceberes te toca o pensamento e te questiona a tua passividade,
Permite-te cada sonoridade de alma que absorve o teu querer, o teu saber,
Deixa-te levar num jogo de cores, pinta a tua personalidade...
E se o desafio for mudar as regras do jogo?
E se o cenário te introduzir uma linguagem que não entendes?
E se os objectivos que idealizaste te parecerem incolores?
Reinventa essa energia interior,
Fragmenta o entusiasmo que há em ti e que por momentos descansou fora de tempo,
Descobre-te nesse descentralizar de percurso,
Porque a unidade de ti te procura e o descolorar das tuas dúvidas te provoca.
Priviligia cada capacidade tua, cada desejo que vislumbras,
As pistas, essas encontras no trajecto,
E as personagens caricaturam cada passo,
Porque a tarefa de desvendar a pintura é tua,
E o modelar de tonalidades teu,
Porque és tu o actor na peça em que o pintor decide cada traço,
És tu quem decide se descansas ou não fora de tempo.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Ao ninguém que um dia vi, e nada disse...


Um vulto humano, esquecido, entrecorta a multidão. Está um calor tórrido e não há vento. Que pessoa se esconde ali, por trás daquele semblante, taciturno, polido de uma resignação inquietante? Que mistérios ocultam aqueles olhos, baços, espelhos de memórias longínquas?

  Talvez o céu azul o vislumbre de vermelho, vendo o negro, onde outros se cegam. Ou talvez já nem sinta. Talvez nem se saiba definir ou encontrar, nem sequer o local oculto onde enterrou as cores, as doces cores, e aquele horizonte, longínquo, definido. Todos se agitam em redor, sequazes de infindáveis inutilidades, mas ninguém se compadece. Um breve suspiro de vento ecoou na praça.

 Os passos são lânguidos, pesarosos, as mãos agitam-se num tremor contínuo. Já o peso do tempo lhe cai em cima. Pouco já retém do brilho da alvorada. Nada mais pode esperar do mundo que a ignora, senão a atroz solidão, e o fim, esse, está próximo...


Foto por Christian Alber

sexta-feira, agosto 29, 2008

O Adeus

Não te voltarei a ver, pelo menos desta maneira, intensa e saudosa, com que te perscruto.

Foi o último olhar, voltando-se lânguido e pesarosamente para o edifício, contemplando-o, já a muitos passos deste.

Não te odeio. É curioso, mas, inexplicavelmente, saboreio aquele sentimento ingénuo que tive quando te contemplei pela primeira vez. Como que tudo se desvanecesse e, no fim, apenas restassem as muralhas sobre as quais me ergui. Essas paredes inquebrantáveis que antes tanto mistério encerravam! A tua grandeza não é mais que a dessas paredes. Quase sufoquei nesse teu ambiente pesado e desconcertante. Cheguei mesmo a duvidar de mim mesmo.

Precisei de te ver, como da primeira vez, praticamen
te abandonada à mercê da colina. E hoje, é o adeus.

Não te odeio. E isso repugna-me. Mas o que resta é aquele lindo sentimento que me incendiou a alma meses, até ao delírio de te pisar. É assim que te vou recordar. E nada mais importa.


sexta-feira, maio 23, 2008

World hurts...
A lot.

Because of people.

Where's the cute little child?
The sincere smile...
Everyone shined in undiscovered rays.
Would play all day with a complete stranger
And be friends with him.
Now I barely see people's faces.

We change.
Who am I now?
A shading glimpse
Attenuated color.
We hurt and get hurt.
All the time.

sábado, maio 17, 2008

O céu está carregado.
Parece querer explodir.

Neste final de tarde de Outono, prostou-se absorto na ponte L., como costuma fazer, desde aquele evento. Os últimos raios de Sol, de uma ténue clareira do céu, abandonam-lhe a face, angular, polida, como que contemplando a dor que sentia. Ainda se conservam no exterior, tangendo de cor as pálidas fachadas das duas cidades, emprestando um fôlego de vida ao rio debaixo de si. Veículos amontoam-se por todo o lado, carcaças sujas de metal e plástico, penando vagarosamente por corredores intermináveis. Vultos anónimos agitam-se, indiferentes a tudo, como que sem rumo em labirintos sem fim.

Não somos quem somos. Esta é uma máquina implacável. Não somos quem somos... - Repetia, vezes sem conta, numa contemplação distante, etérea.

Se pudesse, uma lágrima ter-lhe-ia escorrido do magro rosto nesse preciso momento, imiscuindo -se na vermelhidão do rio. Mas um ataque febril corroeu-o sem mágoa. Laivos de negro mancharam o crepúsculo. A paisagem, tal como a vira, transformara-se num retrato estático, cinzento, manchado de poeira e de ecos moribundos marchando num ruído metálico, sujo, perturbador, cada vez mais intenso. O ar tornara-se tóxico, claustrofóbico, insuportável. O ruído começou a ecoar-lhe no cérebro, martelando-o num metrónome ensurdecedor, transformando-o num tumulto de descargas eléctricas. Abismava-se o colapso. Mitigava-se nesse transe espástico até que o seu olhar se fixa num cão moribundo que, assertivamente, percorria o outro lado da estrutura.

Não pode ser. Algo não está certo -
transpareceu do turbilhão de espasmos cerebrais, ao mesmo tempo que perscrutava o animal com uma curiosidade insaciável. Olhos fulminantes. Pele suada. Coração galopante. Um arrepio gélido soou-lhe na alma. Ele não pertence aqui. Ele sabe.

O bicho, com uma serenidade inescrutável, acabou por dirigir o olhar para o dele, fazendo um movimento lento com o pescoço. No momento em que se cruzaram, nada mais se opôs, dando azo a um silêncio sepulcral, como se o espaço e o tempo terminassem ali. Aquele olhar, aquele olhar! Reconheceu-o imediatamente. O terror invadiu-o. Era aquele olhar. Como se pudesse ainda ser salvo. Recordou aquele dia. Aquele olhar. Imergido numa agonia exasperante, o corpo cedeu. Tal como ele, o céu finalmente explodiu. Envolveram-se num uníssono prodigioso, como que numa sinfonia sobre-humana. Durante os longos minutos em que se abraçaram, parecia que tudo se havia concertado para que esse momento chegasse... De longe, a chuva parecia embalá-lo nos soluços, confundindo-se com ele.

(...)

Mais tarde, decidira passar na biblioteca. Já há muito que lá não ia, há muito que não desfolhava livro algum. Perdera o interesse em tudo, já só aguardava pelo fim. Por razões que o ultrapassam, decidira ir lá. Deambulou com o olhar pela secção habitual, captando o interesse num livro de cosmologia escrito pelo seu físico de eleição. Ao requisitá-lo, uma importante parte de si, tudo aquilo que já fora, já há muito confinada às profundezas do subconsciente, impregnou as derradeiras energias naquele momento. Nesse pequeno instante, transparecera uma aura inexplicável, como se por um décimo de segundo voltasse ao passado, ao que sempre fora, e que perdera naquele dia. O sorriso que muito tenuemente lhe esboçou, foi embebido de um sentimento inexcedível, como que transmitindo uma mensagem que ele próprio não foi capaz de traduzir.

Salva-me.