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sexta-feira, janeiro 08, 2010

A expectativa

Reclining Nude, 1929 - Max BeckmannReclining Nude de Max Beckmann (1929)

Conduz-se pelo desejo e trai-nos maioria das vezes. É a expectativa que nos ajuda a bulir numa determinada direcção - certa ou errada, pecaminosa ou sacra, mais ou menos prosaica (dependendo dos olhos de quem a observa), dá, na pior das hipóteses e a título de dote afiançado, o conforto no dever cumprido.

Só o tempo revela as apostas gastas e as goradas, nesse espírito de quem passa veloz, rápido, mas que se recusa persistentemente, e de forma obstinada, a não sair da frente. O senso comum diz-nos que é a busca do prazer que nos dá o ímpeto para agir. Uma mulher nua pode ser o objecto do reforço necessário para agir, assim como o é a droga para um toxicodependente, mesmo sabendo-se destruído e no caminho da dor e do sofrimento, ou o é o dinheiro, como forma de justificação das maiores indignidades humanas.

Há um paradoxo revelado pela bioquímica que contraria a filosofia do senso comum. A dopamina é uma molécula que se liberta nos nossos neurónios, sempre que as coisas estão a correr no sentido da expectativa desejada. Quando o prazer é alcançado a libertação de dopamina cessa. A expectativa, só por si, não é o suficiente para nos levar a agir, muito menos o próprio prazer, mas sim o esforço feito para alcançar o fim. Por isso, é a dificuldade, os passos dados, as barreiras a ultrapassar que fazem a diligência, intensificam a vontade e nos fazem mexer.

É no adiar da recompensa que se fortalece o desejo, impele-se o ânimo e se termina com a expectativa criada pelo retrato de um texto, que mostra aquilo que não é.

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Agora a sério.

Feliz Navidad

The Birth 1597 - Barocci The Nativity (1595) de Frederico Barocci

Para lá das questões artificias desta época natalícia, o ressurgimento a cada ano dos valores da partilha, da solidariedade e da “família”, mesmo encobertas pelo ininterrupto manto do simbólico, é uma bela soberba que a nossa tradição cristã nos deixou.

Por muitas simpatias ou antipatias que possamos ter por este período, a demonstração de um aceno; seja embrulhado em papel, no formato de mensagem de telemóvel, de um telefonema de alvitre ou da simples presença daqueles (que como nós), se engolem na correria da vida, e vêem perdida a candura, subitamente reencontrada no festejo, é algo de nobre que a tradição nos traz.

É de uma combinação entre um género de naturalismo e místico,  de um aproximar dos corpos no espaço, que se desfruta deste procedimento natalício, bem mais regulamentar do que as linhas traçadas por Federico Barocci - pintor maneirista italiano do séc XVI e XVII, discípulo da escola de Tintoretto e Ticiano - no seu fresco “O Nascimento”, para o último duque de Urbino – Francesco Maria II della Rovere.

O fresco de cima compõem a cena original do estábulo, pela mão de Barocci, do menino Jesus nas palhas deitado, perante a contemplação da Virgem Maria e a incitação de José, perante o nascimento do messias. Apesar de seguidor da rígida escola veneziana, Barocci diferenciou-se pelo seu estilo peculiar na utilização da cor e da luz, e do destacado realismo que imprimiu às suas personagens. Foi por estes motivos considerado único, num tal de naturalismo místico, aproveitando a atmosfera poética que uma cena sagrada proporciona.

Efémera, desvirtuada, insuficiente, insignificante, dogmática, tudo se pode dizer sobre a atmosfera que rodeia o Natal. Mas da satisfação (por muito momentânea que seja), da reunião, da partilha, da alegria da criança, da recordação e do convívio genuíno, entre um naco de bacalhau e uma rabanada, continuará a rezar a história do Natal português, pela mão dos maneiristas do nosso tempo.

A tradição ainda é o que era, e oxalá continue a sê-lo.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

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“O homem antigamente procurava a alma, hoje procura as coisas, mas não percebe que o que importa é a alma das coisas.”

D. Manuel Clemente, bispo do Porto, foi o vencedor do prémio Pessoa 2009, um prémio concedido anualmente a personalidades de relevo da vida artística, literária ou científica do país.

Não perderia aqui o meu tempo a destacar uma notícia - mais do que publicitada em todos os órgãos de comunicação social -, não encerrasse ela, no premiado, o exemplo da inteligência, sabedoria e bom senso, que eu me tenho habituado a admirar no carácter humano.

Vivemos numa época em que a moda dita o rebate a tudo o que envolva fé e religião. A laicização das sociedades ocidentais permitiu-nos subir, em catadupa, uma série de degraus na dignidade individual; aproximou as pessoas nas suas diferenças, não obstante, a desumanidade, ganância, venalidade e exploração da “boa fé” dos outros, que parece ser transversal ao tempo e ao nosso ser, independentemente de como as diferentes sociedades se vêm organizam. 

A tolerância, mesmo nas sociedades ditas democráticas, que têm como mais inabalável baluarte a liberdade, é um bem raro, uma virtude frágil, nestes dias luminosos de hipócrita indulgência.

Abjecto fundamentalismos, sejam de que espécie for (talvez por isso sejam eles as minhas fontes favoritas ironia), religiosos ou anti-religiosos deturpam e fracturam as sociedades, e toldam de forma ignóbil os espíritos mais susceptíveis. Estas forças opostas à tolerância, que furiosamente excluem e têm a certeza que os outros estão sempre em erro,  proliferam entre laicos, ateus, agnósticos, crentes e presbíteros – comerciantes ou profissionais da ajuda em troca da fé, da alma, da consciência, do voto ou da moeda.

Ouvir e ler D. Manuel Clemente é um exercício de serenidade, contenção e de respeito pelos outros, de alguém que tenta compreender o que se passa em seu redor para se corrigir a si próprio. É no diálogo para fora da sua cátedra, que se tem distinguido, nestes tempos em que falar só para os seus parece ser um vício de várias profissões e ofícios, resguardando o restrito círculo privilegiado da sua influência, sobrevalorizando-se aos demais e explorando os incautos. O supracitado tem-se oposto a tudo isto, demonstrando que para lá de ideologias políticas ou teológicas, “o critério é sempre a pessoa humana”, como referiu num dos seus textos.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

O tempo é espaço

A porta, o tempo e o espaço Qualquer evento que tenha lugar à nossa volta ocorre num determinado lugar e num determinado instante. O lugar pode ser descrito, por exemplo, por coordenadas geográficas, enquanto o instante pode ser descrito pelo dia e pela hora a que ocorreu. Temos sempre duas informações distintas, uma espacial (o local onde ocorreu) e outra temporal (o momento em que ocorreu). Newton postulou a independência destes dois conceitos, defendendo o espaço absoluto e o tempo absoluto.

Mais tarde, em 1734, Martinho de Mendonça Pina e Proença, fidalgo da corte de D.João  V, defendeu o espaço como a ordem dos corpos coexistentes, e o tempo, a ordem das coisas sucessivas. Já na passagem do século XIX para o século XX, uma série de matemáticos e físicos interligaram os dois conceitos: em certas circunstâncias, se dois observadores, Toné e Mánu, medirem as coordenadas de um
mesmo evento ou o momento em que ocorreu, poderão obter resultados diferentes, mesmo que façam as respectivas medições com toda a precisão possível. Para se calcular as coordenadas espaciais obtidas por Toné, não basta saber as coordenadas espaciais que Mánu mediu; é preciso também saber o momento em que, segundo Mánu, o evento teve lugar. E, analogamente, para calcular o momento em que o evento teve lugar quando medido por Toné, é preciso saber não só quando é que ele teve lugar do ponto de vista de Mánu, mas também onde, segundo ela, teve lugar. O espaço e o tempo estão então interligados.

Hermann Minkowski, professor de Einstein, foi o primeiro a demonstrar matematicamente a importância de se ter em conta a relação entre o espaço e o tempo, e desenvolveu um abordagem geométrica da Relatividade, sem a qual Einstein, como o próprio reconheceu, não teria conseguido elaborar com sucesso a sua Teoria Geral da Relatividade.

187 - Einstein é tao credível que até óculos de sol vende Einstein é tão credível que até óculos vende. Imagem captada em Madrid, na legenda anuncia-se: “Donde los genios compran sus gafas.”

Permitam-me agora relativizar estes conceitos matemáticos, que trouxeram o triunfo do intelecto sobre o Universo e que me dão grandes cefaleias de ignorância, abordando este conceito de uma forma bem mais prosaica, explorando de uma forma bem interessante uma forma de olhar para o tempo, no espaço, com a história.

Estima-se em 100 mil milhões a quantidade de seres humanos que já passaram por este planeta, ocupando cada século quatro gerações.***

Imaginemos agora uma longa e densa fila em que cada geração ocupa um espaço, de pé, encontrando-se separada da seguinte, por um metro de distância. Ao percorrer essa fila, em sentido inverso, como quem passa revista à história, 4 metros atrás de nós estaria Einstein a elaborar a lei da relatividade; a 13 metros Napoleão em Waterloo, 16 metros mais encontraríamos no Renascimento com Lourenço de Médici, Leonardo Da Vinci e Galileu; a 80 metros Jesus de Nazaré, e a 100 metros Sócrates na ágora e muito perto Buda debaixo da figueira, um pouco mais além far-nos-iam sinais com a mão os faraós, e logo atrás viria um grande espaço morto, terra de ninguém, e teríamos de começar a contar não em séculos mas em milhões de anos. Teríamos de percorrer mais 400 metros para chegar ao Neolítico. Depois a fila perder-se-ia no horizonte e a 4 quilómetros descobriríamos o Homo sapiens, a 20 quilómetros veríamos o primeiro primata a manejar pela primeira vez o fogo, a 32 quilómetros estaríamos em Atapuerca, e a 320 quilómetros chegaríamos ao reino comum que compartilhámos com os gorilas e chimpanzés.   

Curioso de como nessa imensa fila, de 100 mil milhões de seres, só brilhou a inteligência no ínfimo pedaço final; o resto não passou de um abismo, antes que lentamente, sob essa insondável escuridão, começasse a clarear a consciência. Assombros da vida.

***No El Pais, o articulista Manuel Vicente, apresentou esta ideia com preeminência.

sábado, novembro 28, 2009

Para memória futura!

Boys on the Beach (1910) Young Boys on the Beach – Joaquín Sorolla (1910)

O espanhol Joaquín Sorolla é conhecido por ter captado cenas de praia; explora a luz e os contrastes das suas cores, como poucos. O efeito pictórico dos seus quadros traz-nos à recordação lembranças comuns a todos nós, guardadas nos espaços mais remotos da nossa memória, dos tempos de inocência.

A minha memória ainda é o que era, e é hoje mais do que antes foi. E sublinho hoje porque o amanhã desconheço.

Percebo agora que o título deste texto não faz sentido - mas como é bonito vou deixar ficar na mesma -, não existe isso da memória futura, porque não podemos ter memória do que ainda não aconteceu e, pensando bem, tudo o que fazemos poderá ser passível de memória futura. Uma recente série americana (altamente aconselhável) explora este conceito que na realidade não passa de um vazio retórico.

O tempo acaba por apagar muitas das recordações, persistindo aquelas que resistem à força da passagem do tempo e a esse complexo mecanismo psicológico de arquivo a que recorremos sempre que necessitamos - a chamada memória presente, a única que realmente existe.

Da mesma forma que de um único lugar temos apenas uma perspectiva, e só vemos a partir desse sítio, até onde a nossa vista alcança, o presente é o lugar de onde se observa e de onde se imagina o futuro e se lê o passado, em função das emoções do momento, que nos faz ter a multiplicidade de sentimentos vividos no presente.

A nossa capacidade de regeneração e crescimento é admirável. Sou diferente de ontem mas igual a amanhã, no fundo, sou o que sou hoje sem prejuízo para a minha memória, e enquanto isso acontecer, descanso na lembrança.

quinta-feira, novembro 19, 2009

A “Brasileirinha Perigosa”

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S. João da Madeira tem mais uma razão para ser a melhor cidade do Norte do país para se viver (estudo UBI 2009)! Desta vez, aos habitantes do centro de São João da Madeira tem sido oferecidos filmes pornográficos de uma certa "brasileirinha perigosa".

Regininha Poltergeist é o nome da artista de variedades que tem deixado um rasto de comiseração nos habitantes de São João da Madeira ainda não contemplados com a  bondade do filantrópico anónimo que tem distribuído,  gratuitamente, pelas caixas do correio, filmes com pornografia gostosa, onde a “brasileirinha” (que fala muito pouco) e os “seus inseparáveis companheiros” empreendem uma série de aventuras fantásticas de concúbito e promiscuidade inenarráveis.

A dona Ana Maria já recebeu 6 DVDs diferentes e teme que algum dos seus filhos descubra. Minha cara amiga, se está a ler Os Amendoins do Ricky, nada tema, os seus filhos na casa dos 30, já visitaram – isto com uma probabilidade a roçar os 90% –, o NightStars em Bustelo, ou o Felina, ali a 300 metros da Nossa Senhora dos Milagres. Acredito, por isso, que não será nenhum milagre que os seus filhos, largadotes já da papa maizena, vai para uns anitos, tenham já entrado em contacto com a natureza extravagante do sexo feminino.

O assunto está rotulado de delicado e sensível pelas autoridades e ”vítimas” deste “mundo estranho”. Concordo completamente, a insatisfação de uns pelo realizar do sonho de outros, faz-nos perceber o quão desfigurada pode ser a escala de valores e de importância das pessoas, reforçando a acepção da palavra ingratidão.

Não obstante, e imbuídos por este anónimo benfazejo de entrega à sua comunidade, apresentamos, em baixo, uma foto da querida Brasileirinha Perigosa, pronta para justificar o seu nome – Poltergeist, em posição de indelével talento e de compenetrado esmero pelo seu ofício.

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 Etiquetas Extra: São João da Madeira; Qualidade de vida; Filantropia; Qualidade de vida; Brasileirinha; São João da Madeira; Qualidade de vida; Dona Ana Maria; Qualidade de vida; Papa Maizena; São João da Madeira; Qualidade de vida; Homens de 30 anos que não sabem o que é um clítoris; São João da Madeira; Qualidade de vida; Sexo Gostoso; Qualidade de vida; Castro de Almeida; São João da Madeira; Qualidade de vida; Oliva Porno Factory; São João da Madeira; Qualidade de vida; Perigosas; Paços da Cultura de São João da Madeira; São João da Madeira; Qualidade de vida; CTT; Grátis; São João da Madeira; Qualidade de vida; Dica da Semana; A PSP tem mesmo muito que fazer; São João da Madeira; Qualidade de vida;

quinta-feira, novembro 12, 2009

O Cão Meio Submerso

half-submerged dogPerro semihundido  (1821 – 1823) de Goya. 

A vida é um grande enigma, uma roleta russa de acasos, um sortido de escolhas, sortes e azares. Os caminhos que se trilham nem sempre são perceptíveis, e as rasteiras pelo caminho tem a virtude de nos expor às nossas indubitáveis fragilidades.

Um cão afundado num terreno, com a cabeça de fora, atrás de um declive, a olhar para cima e com um olhar quase humano, expõe o paralelo entre a fragilidade e o enigma.

É impossível de determinar o genuíno propósito de Goya com esta pintura, possivelmente inacabada e retirada da sua “Quinta del Sordo” no conjunto de quadro negros, já aqui abordados.

O vasto espaço vazio que ocupa grande parte da pintura, acima de uma pequena cabeça isolada de um cão, e a fitar algo que parece estar fora da pintura, potenciada pela escassez de adornos, ajuda a  transmitir uma sensação de desassossego e ansiedade, que se tornou uma das maiores fontes de inspiração para muitos artistas contemporâneos, em vários domínios da arte.

O seu minimalismo e a sua completa falta de organização formal constituiu um precedente na pintura abstracta, mas também um precedente no olhar compadecido pelo sentir da vida.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Saturno devora um dos seus filhos.

Saturn devouring one of his sonsSaturn devouring one of his sons (1821-1823) de Goya

O dia 1 de Novembro é, como que democraticamente, o dia de todos os santos. Na noite anterior celebra-se um género de festa da cultura kitsch, implementada não se sabe bem porquê e para quê - o Halloween. Quem me conhece sabe que nunca gostei de fantasias. Não gosto de me cruzar com indivíduos vestidos de palhaços no Carnaval, e pela mesma ordem de razão, não gosto do Halloween pelas bruxas e pelos macacos fantasmagóricos que por vezes se passeiam com elas, nessa noite.

Os apreciadores dizem que é giro pintar a cara, usar chapéus, vassouras, roupa preta, máscaras que metam medo ao susto e afugentem assim os espíritos que no dia seguinte se irão velar. Trick or treating e temos mais uma oportunidade de nos embebedarmos e esquecermo-nos momentaneamente dos nossos medos, aqueles do nosso mundo, o real.

A sensatez, apesar de não nos acompanhar a maioria das vezes, anda de braço dado com aquela nossa necessidade de sobrevivência. E é com ela que temos medo. O medo do desconhecido, do maior desconhecido de todos - a morte.

É este tipo de tormento que me assusta. Um tormento que leva alguém, como Goya, a reinventar-se num rebate sem ordem e sentido. Na depressão do seu caos o espanhol adornou as paredes de sua casa com as pinturas que mais tarde viriam a constituir os seus últimos trabalhos, os chamados quadros negros (representações de ódio, terror e mal).

O mais impressionante e elucidativo, deste conjunto, é a reprodução da cena mitológica em que um decrépito Saturno, deus romano do tempo, devora um dos seus filhos recém-nascido, por medo que este tome o seu lugar. Esta lúgubre e horrífica cena, centrada no monstro esgazeado do deus Saturno, corresponde às preocupações particulares de um Goya isolado, já no final da sua vida, e angustiado pela perda do poder e da dissolução da força do indivíduo, à medida que se aproxima do fim da sua vida.

Eis o verdadeiro Halloween! O sumir das forças, o definhar da vida, com a passagem dos anos - a velhice e o ocaso, que faz com que tudo o resto não tenha importância nenhuma, e para o qual, não há trick-or-treating que nos redima.

sexta-feira, setembro 04, 2009

Expialidocious (docious como chocolate)


Eu sempre fui da opinião de que se um indivíduo gosta de chocolate e lhe apetece chocolate, deve manifestar desejo por chocolate e não por morangos.
O que pode acontecer é os morangos beneficiarem da sua cativante fragrância e seduzirem com o seu vermelho luxuriante. Será a eloquência do chocolate capaz de travar outra doce tentação?
Um doce que respira amargo continua a parecer doce. E a textura de um castanho rebelde tem de se mostrar superior. Porque o é. É-o sempre.
Preto. Branco. Castanho. Pequeno. Grande. Médio. Com amêndoa. Com bolacha. Com caramelo. Simples ou com sabor a morango.
Ironia? Nem por isso. O chocolate não pode saber a morango, é mentira. Não existe o 'ou' naquela frase. Não pode o sucedâneo servir de contento, não sacia. Porque a sede é rebelde, como ele.
E se o seu segredo é a sua provocação, o mistério do seu sabor é o seu capricho.
Doce fiel e descomprometido. Porque o é. É-o sempre.
Chocolate agora e depois… delicado e delicioso como expialidocious*.





*Expialidocious por Pogo, artista australiano que se distinguiu na música electrónica. Conhecido por criar música utilizando pequenos trechos de filme. Destacou-se pela composição de sons a partir de filmes da Disney, tais como "Alice no País das Maravilhas", "Harry Potter" ou "Mary Poppins", no caso.

quarta-feira, agosto 26, 2009

Viente, con cuatro

flag São os nossos vizinhos mais próximos, constituem connosco uma península considerada geneticamente uma grande monotonia, mas, as diferenças sociais são flagrantes.

O que mais admiro – talvez até inveje –, é o orgulho no que é seu: na língua, na música pirosa, no flamenco larilas, na altercação fácil, no rococó dos hábitos, no Cervantes, no Lorca, no Velásquez, no Goya, no Dali, no Picasso, nos touros e na Rainha Sofia, no Nadal e no Cristovão Colombo, no Banderas e no Júlio Iglesias, no Almodóvar e na Macarena, nas tapas, na fiesta e até no TGV.

Os espanhóis sabem como ninguém abraçar a sua cultura e promovê-la, sem provincianismos mesquinhos, e por muito que nos custe, neste particular, ainda temos muito a aprender com os nossos vecinitos.

quinta-feira, julho 30, 2009

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"Se não há Deus e a alma é mortal, então, tudo é permitido"

Ivan Karamazov, por Dostoievski

quinta-feira, julho 23, 2009

Porque deixar por minutos um objecto num local é sinónimo de ser roubado?

Porquê?

Paremos com isto!

Em que tipo de animais nos estamos a transformar?
Sem qualquer pingo de respeito pelos outros.

Sejamos cívicos! Sejamos dignos!

Sejamos mais gente. Sejamos humanos.
Custará assim tanto sermos correctos?

Basta!

quinta-feira, julho 09, 2009

O outro na minha cabeça

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Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Natália Correia

 

 

Há qualquer coisa que nunca bate certo na nossa identidade corporal. A imagem do corpo é, e será sempre, qualquer coisa sobre a qual poisará um sentimento ambíguo de que algo não está certo.

O desplante, a arrogância, a ousadia de desafiar os deuses e ser aquilo que não se é, de vencer a sua própria condição, por parte do tipo da foto – o gajo mais falado na última semana, a par de CR9 –, é arrepiante. A força do inconsciente da alma, de ser aquilo que se quer, do preto que foi branco, o velho que queria ser jovem, o homem que deixou de o ser e que acabou por transformar o sujeito no grotesco, é a forma mais próxima de frankensteinianismo que a realidade nos pode oferecer.

terça-feira, junho 30, 2009

A cigarra de La Fontaine

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Com o fim do Verão e o início do Inverno, a cigarra ao sentir o frio pressentiu a morte, até que, subitamente, o calor voltou e a revitalizou até ao ponto de a fazer novamente cantar. O que a cigarra não sabia, é que o seu mundo era uma vacaria. No final do Verão, esta tinha sido limpa, depois, foram as fezes de uma vaca que lhe caíram em cima que lhe deu o calor enganador, quando o dono da vacaria levou as fezes, a cigarra, naturalmente, morreu.

La Fontaine inventou a fábula, dando a animais características e vivências humanas. A moralidade desta curta estória resume-se a uma engraçada máxima: nem toda a gente que te manda à M te quer mal; nem toda a gente que te tira da M te quer bem, mas quando estiveres na M, evita cantar.

Legenda: M = caca, cocó.

sábado, junho 27, 2009

A história repete-se!

Iran-elections-Woman-stan-005 Bem a propósito das recentes investidas aqui feitas sobre a China “popular”, nas últimas semanas, um dos principais bastiões de países que se julgam ainda no séc. XVI enfrenta uma revolução para os livros. A razão, como sempre, acaba de pender para o lado daqueles que acreditam na liberdade e igualdade como um direito inelutável, transversal a todos homens, independente de culturas, religiões, ou de regimes oligarcas, condenados, mais cedo ou mais tarde, a perecer sob o mesmo miasma daqueles que sonegam, sejam eles brancos, negros, amarelos, ricos, pobres, muçulmanos, cristãos, homens ou mulheres.

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*No ano de 2009, 70% da população iraniana tem menos de 30 anos, acede regularmente à grande aldeia mundial e, homens e mulheres continuam com deveres e direitos diferentes. As eleições de 2009, deram 80% de votos para um candidato, não muito diferente de um outro que as reclamou por fraude. O pretexto foi lançado para grandes manifestações de rua pedindo liberdade e democracia. A repressão foi rápida mas, o ponto a que se chegou, pode já não ter grande retorno. Os aitolas que se cuidem.

quarta-feira, junho 10, 2009

Mundo de oportunidades? Onde?



Aposto que naquela altura da tua vida te deparaste com essa interrogaçao e a ignoraste como se estivesse longe de te mostrar a realidade. É mais fácil, mais confortável para o teu pensamento.

Experimenta desafiar a descontinuidade da questão, talvez te surpreendas com o teu mundo.


O desafio depende de ti. É altura de te renderes ao valor cuja dimensão subtrai o seu alcance todos os dias.

Tu, uma folha de papel e um lápis. Agora cria. Faz-te visionário de momento.

Agora estás tu, a tua criação e o desejo. Se transpirares nele o teu querer vais-te perder de verdade.

É o risco da oportunidade na linha que oferece o parágrafo da tua folha de papel.

Se levares contigo a folha, levas também a certeza de uma interrogação resolvida.


Post Scriptum: para os mais tecnológicos, o txt serve.



Imagem retirada de http://olhares.aeiou.pt/. © Olhares.com - Todos os direitos reservados.


terça-feira, junho 09, 2009

4,63%

boletim de voto europeias 2009

Cerca de 164.870 votos em branco. Um número estranhamente omitido por todos os meios de comunicação social, que tive oportunidade de acompanhar. E, no entanto, dificilmente existirá uma forma mais significativa de protesto, do que esta. Alguém que se dá ao trabalho de se deslocar propositadamente, ao seu local de voto, com a intenção de não votar em nenhum partido, motivando-se a si próprio a exercer um direito seu, mostrando que se interessa pela “coisa pública”, mas, que não se identifica com nenhuma força política, deveria ter o direito, também, que essa posição ficasse bem clara.

Não se pode confundir o número avassalador da abstenção, e a sua possível leitura, com este. Por isso, sou um defensor que todos os brancos correspondessem a lugares vazios. Seria uma forma segura de rejuvenescer a democracia, obrigaria os participante políticos a empenhar-se ainda mais e, condicionaria todos os insatisfeitos a pensarem duas vezes antes de diluírem-se na abstenção, a pior forma de exercer o protesto em democracia.

quinta-feira, maio 28, 2009

Um país, dois sistemasThe People's Liberation Army is the University for Mao Tse Tung Thought!

A China tem um dos mais execráveis sistemas políticos. Para pior, só alguns fanáticos africanos e do sudoeste asiático que se ainda acham na era medieval. Chamaram-lhe República Popular da China, mas de república nada tem e de popular cada vez menos. Consegue juntar duas súmulas, à primeira vista, intoleravelmente miscíveis - os piores aspecto do capitalismo selvagem e os piores aspectos do socialismo que tudo centra à volta de um estado ubíquo, só ao alcance de um regime totalitário, repressor e unipartidário. Crescem a dois dígitos por ano, e são o exemplo para os tempos modernos da prosperidade económica. Uma prosperidade mefítica, indigna, violadora dos mais elementares direitos humanos, castradora da individualidade, camuflada por uma pertença igualdade polarizada. A China cresce, os chineses enriquecem ao mesmo ritmo que a miséria prolifera e o êxodo rural para a grande cidade transforma milhões de seres humanos em meras labutas ao serviço do grande sistema, privados de uma biografia onde entre a palavra dignidade.

Estranha sensação de prosperidade essa.

A hipocrisia internacional tem que continuar, o isolamento nunca poderá ser a melhor solução. Entretanto, o barril enche-se, a pólvora acumula-se, e a explosão social apressa-se - o homem é de natureza inquieta e sonhadora, aqui ou na China.

Em Portugal, continua a existir um partido timidamente defensor do regime chinês. Chama-se Partido Comunista Português. Esse mesmo, o dona da superioridade moral perante a defesa do proletariado em Portugal, sempre contra os malvados do patrões que exploram os coitadinhos, os mesmos que defendem um Tibete Chinês, apesar dos direitos irrevogáveis à autodeterminação e independência de uma nação secular.

Se não chegassem os tiques atávicos do Partido Comunista Português, só por si um motivo para não ser comunista, o Tibete devia ser, por força das evidências, uma razão essencial para não ser comunista em Portugal.

Já ouviram o que os principais dirigentes comunistas portugueses têm a dizer da Primavera de Praga? Não queiram. Perguntem-lhes do Belmiro.

domingo, maio 24, 2009

“A felicidade é uma pequena cidade”

clown A expressão, ou uma parecida com ela, conta-se que é da autoria de um insigne filósofo e leva-nos até à principal encruzilhada do homem moderno – a busca pela felicidade. A expressão é mais recente do que se julga, e, talvez tenha sido a última grande utopia criada pelo homem. Inventada após o fervor da Revolução Francesa, etimologicamente significa nivelar por baixo e, é por isso, um dos maiores engodos a que todos os homens se sujeitam pacificamente.

A felicidade não existe. Existem, isso sim, pequenas doses de fortuna, que num momento ou outro nos enchem a maneira. Essa maneira pequenina, ínfima e mesquinha, própria de seres minúsculos, como nós.

Felizes podem ser os coelhinhos e os passarinhos, pelo menos, até levarem um balázio de um senhor caçador, feliz depois por levar um cadáver como troféu para casa, feliz quando saí à rua para festejar uma vitória do Porto, feliz até bater na mulher, feliz ao comprar um Mercedes, feliz por passar o resto da vida a pagá-lo, feliz por se achar feliz, feliz apenas por parecer feliz.

Felizmente, a vida está muito dependente de nós próprios, principalmente para alguns infelizes felizardos, como nós, que ao contrário da generalidade das pessoas, têm nas mãos essa grande força propulsora da vida: a mudança, a única constante da vida.

sexta-feira, abril 24, 2009

Diz que houve uma revolução.tanque25

Está preste a começar, já começou, ou realizou-se, conforme o dia em que o visitante estiver a ler estas linhas, os rituais anuais do estado português de comemoração da Revolução de 25 de Abril, repetindo-se por todas as vozes a palavra liberdade nascida naquela dia. Eu, como a maioria daqueles que não eram nascidos àquela data ou, por serem jovens de mais em idade no momento, temos a “vantagem/desvantagem” de olhar para a data de forma menos apaixonada dos que tem mais de 45 anos e se orgulham de colocar um cravo na lapela.

Convém recordar, apesar do preconceito que isso representa para a maioria da sociedade portuguesa, que a revolução levada a cabo pelos militares teve como origem o desgaste de uma guerra colonial absurda e consequente desterro da juventude portuguesa nas províncias ultra-marinhas. A insatisfação de algumas chefias militares motivaram a revolução de Abril, aproveitada, e bem, pelos opositores ao regime e intelectuais, alguns no exílio, para inserirem a palavra liberdade na boca das pessoas, uma inconstante lógica no acto, facilmente difundida por entre todos, letrados e iletrados. Tanto é assim que só depois de 25 de Novembro de 1975, ficamos “livres” de cair novamente numa ditadura, dessa vez comunista. Graças a homens moderados e heróis como Vasco Lourenço, podemos falar hoje de liberdade, sem que isso nos tenha custado uma guerra civil com desfecho imprevisível.

Conseguidos os propósitos de quem pensou ser possível uma democracia em Portugal, vivemos até hoje com o estigma daqueles que se dizem os libertadores e responsáveis do 25 de Abril, que com a complacência do poder político, santificaram-se, vivendo à sombra de um estatuto conseguido em 1974. Otelo Saraiva de Carvalho é um desses casos. Líder operacional da organização terrorista FP-25 de Abril, julgado, provado e depois ilibado em tribunal por prescrição e amnistia, da morte vil de 17 pessoas, em pleno estado de direito, após a revolução e com a boca cheia da palavra liberdade, foi promovido este ano, para ajudar à festa das comemorações, a coronel pelo ministério da defesa e das finanças. Esta vergonhosa notícia é bem reveladora da visão sectária, facciosa e do tabu social imposto pelo poder político, que ludibria a opinião pública portuguesa a seu belo prazer.

portugal democracia de sucesso Este poder político, é o mesmo poder político que resultou do falhanço que foi partidarização em Portugal. Hoje a política é uma profissão de onde se servem milhares de portugueses que chegam com pouco e saem com muito, a prova essencial que a palavra liberdade e democracia não é tudo.

Argumentemos que trinta e cinco anos de democracia é muito pouco tempo. É-o de facto. É pouco tempo para nos resignarmos tão facilmente com as soluções que nos fazem parecer como inevitáveis, e mesmo que não fosse, nunca seria motivo para nos resignarmos à falta de valores e às desigualdades a que hoje assistimos. Nada está perdido, porque hoje temos na boca mais do que a palavra liberdade que se berrou no 25 de Abril. Justiça e igualdade foram conquistas que surgiram depois, muito para lá do que muitos supunham em 74, por isso, bem mais importante do que festejar o 25 de Abril e as suas conquistas, principalmente para quem a ele não assistiu, é lembrar o que ainda há para conquistar, mas isso, a minoria dos partidários dos partidos recusam tomar parte, bajulando o passado, esquecendo o futuro e festejando o 25 de Abril.