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quinta-feira, dezembro 17, 2009

manuel_clemente01

“O homem antigamente procurava a alma, hoje procura as coisas, mas não percebe que o que importa é a alma das coisas.”

D. Manuel Clemente, bispo do Porto, foi o vencedor do prémio Pessoa 2009, um prémio concedido anualmente a personalidades de relevo da vida artística, literária ou científica do país.

Não perderia aqui o meu tempo a destacar uma notícia - mais do que publicitada em todos os órgãos de comunicação social -, não encerrasse ela, no premiado, o exemplo da inteligência, sabedoria e bom senso, que eu me tenho habituado a admirar no carácter humano.

Vivemos numa época em que a moda dita o rebate a tudo o que envolva fé e religião. A laicização das sociedades ocidentais permitiu-nos subir, em catadupa, uma série de degraus na dignidade individual; aproximou as pessoas nas suas diferenças, não obstante, a desumanidade, ganância, venalidade e exploração da “boa fé” dos outros, que parece ser transversal ao tempo e ao nosso ser, independentemente de como as diferentes sociedades se vêm organizam. 

A tolerância, mesmo nas sociedades ditas democráticas, que têm como mais inabalável baluarte a liberdade, é um bem raro, uma virtude frágil, nestes dias luminosos de hipócrita indulgência.

Abjecto fundamentalismos, sejam de que espécie for (talvez por isso sejam eles as minhas fontes favoritas ironia), religiosos ou anti-religiosos deturpam e fracturam as sociedades, e toldam de forma ignóbil os espíritos mais susceptíveis. Estas forças opostas à tolerância, que furiosamente excluem e têm a certeza que os outros estão sempre em erro,  proliferam entre laicos, ateus, agnósticos, crentes e presbíteros – comerciantes ou profissionais da ajuda em troca da fé, da alma, da consciência, do voto ou da moeda.

Ouvir e ler D. Manuel Clemente é um exercício de serenidade, contenção e de respeito pelos outros, de alguém que tenta compreender o que se passa em seu redor para se corrigir a si próprio. É no diálogo para fora da sua cátedra, que se tem distinguido, nestes tempos em que falar só para os seus parece ser um vício de várias profissões e ofícios, resguardando o restrito círculo privilegiado da sua influência, sobrevalorizando-se aos demais e explorando os incautos. O supracitado tem-se oposto a tudo isto, demonstrando que para lá de ideologias políticas ou teológicas, “o critério é sempre a pessoa humana”, como referiu num dos seus textos.

quinta-feira, setembro 03, 2009

JESUS É IMPLACÁVEL, O MISTER.wdiag

O jornal ABola é para a grande maioria dos portugueses o equivalente, em formato diário, à bíblia. Ambos são amplamente lidos todos os dias por milhares de pessoas, ambos contam histórias mais ou menos mirabolantes, sorvidas por quem os lê como as últimas verdades insofismáveis do Universo, ambos levam algumas dessas tantas milhares de pessoas a reflexões diárias e esperançosas.

Não tive oportunidade de ler, não consegui adquirir nenhuma cópia - com muita pena minha, um pedaço de história deste merecia ser encaixilhado e colocado na zona mais nobre de qualquer habitação…, humana –, da edição de 2 de Setembro de 2009, que trouxe como estampa a capa que podem contemplar em cima.

Avé filhos de Abraão. Avé ao quadrado senhores responsáveis pelas capas do jornal ABola, anunciantes da chegada do JESUS, o EXTREMINADOR IMPLACÁVEL que não quer sofrer mais de sete golos em todo o campeonato, mensageiros do Setembro quente e do Reparil, o alívio imediato da dor.

Puxa, este é mesmo o maior jornal do mundo.

terça-feira, junho 23, 2009

O simbólico.

The last supperL'Ultima Cena de Leonardo da Vinci (finais do séc.XV)

Durante dezoito anos, no século XVI, uma série de cardeais e outras hierarquias da Igreja reuniram-se em Trento, no concílio que havia de ficar com o seu nome, para discutir uma reestruturação da Igreja, de forma a responder à recente Reforma Protestante.

Pasmem-se que, dos muitos dos temas ali discutidos exaustivamente, um levou a um acesso debate prolongado por longos meses. Se era ponto assente que Cristo comia e bebia, assim estava “confirmado” nos evangelhos e no magnífico quadro de Leonardo da VInci, uma dúvida subsistia na cúria: será que Cristo defecava?

Sobre este assunto estiveram debruçados as maiores e mais importante cabeças da igreja, até chegarem à luminosa conclusão que Cristo não defecava. Nenhuma santidade, principalmente o filho de Deus na Terra, poderia estar sujeito a uma necessidade tão mundana e terrena, oferecida aos mortais por Deus, sem se saber bem porquê.

Ainda hoje o dogma subsiste na Igreja Católica. O tema é tabu e, é sempre interessante ouvir o que um teólogo cristão tem a dizer sobre este assunto. Tem lugar o simbólico. Cristo acabou assim por ser mais do que o messias, foi o primeiro “homem” a comer e a não defecar, sem que isso lhe trouxesse problemas de saúde, ou será que defecava?

sábado, abril 11, 2009

A Fé de Todos Emile Nolde (1867-1956) - Crucifixion 1912 Crucifixion de Emile Nolde (1912)

Há coisas que só a fé salva, a fé, a teimosia, a ignorância e a estupidez, por isso se edifica estruturas burocráticas e administrativas para reger a fé. Falo de fé religiosa, claro está, a fé atávica da crença e das crendices, do dogma trazido e escrito por aqueles que vêem aquilo que escolhem ver, dos que fazem da fé uma carreira, não por ser apenas sua, mas dos outros.

Visto-me de roxo, por ao roxo pertencer a mortificação, de branco, por ao branco pertencer a paz, liberte-me o corpo do senhor deste mal. Não posso mais.

A estupidez tem limites.

Poderia ter, não existisse a fé, não tivesse o nosso pensamento ancorado à perversidade do medo e do sofrimento, ao fanatismo do porque sim, à condenação da crença e da descrença, não se assenhoreasse de um dos mais altos valores humanidade, tão frequentemente violado, o respeito pelo outro. Há algo mais absurdo do que as guerras entre religiões? A luta da estupidez, da batalha e da morte pelo mesmo Deus, sim, porque se Deus existe é igual para todos, mudem os ícones e os ritos, mas não se contradigam.

Não sei se Deus existe, sou um agnóstico educado na religião católica apostólica romana, não posso negar nem afirmar aquilo que não sei. Acho que só um estúpido não seria crente se a existência de Deus fosse aritmeticamente, matematicamente, filosoficamente demonstrada. Mas isso é impossível. No dia em que se chegar a Deus pela razão, espero não estar cá, seria mais um louco. À fé, já o homem chega pela razão, em raros casos, pela “iluminação interior?!?”, essa fé dos crentes, aparentemente tão divergente da dos descrentes ateus, mas ao mesmo tempo tão parecida, a redundância dos opostos, dos que discordam da fé dos crentes, usando precisamente o mesmo argumento, o de uma espécie de fé, a fé da certeza absoluta que Deus não existe.

Neste ano podemos lembrar-nos de como um lord protestante ferrenho, demoliu o criacionismo, há 150 anos. Charles Darwin demonstrou que o homem e todos os outros seres vivos sofreram um processo evolutivo, tendo em comum, a mesma origem. Lá se foi o ensinamento da bíblia que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, deixando a nu a crua realidade que não somos assim tão importantes e especiais como os animais que temos presos em casa e pagamos para ver no jardim zoológico. O que Darwin não respondeu, nem nunca ninguém irá responder é à génese das géneses e a essa, a razão que comanda o homem, nunca se irá sobrepor.