terça-feira, dezembro 28, 2004

Mais um natal que passou mais uma comemoração da vinda ao mundo do filho do nosso Deus é seguida de um desastre natural apocalíptico. Mais uma vez milhares de homens, mulheres e crianças morrem nesta quadra por razão nenhuma. Mas para dizer a verdade a morte ocasional por acidente geológico choca-me menos que a morte anual de pessoas por acidentes rodoviários, a morte de mulheres pelas mãos dos maridos, a morte de milhares de inocentes pela disputa por um pedaço de terra, por interesses económicos camuflados na lógica de uma paz e de uma segurança imposta por alguns que se julgam donos de tudo e que se auto intitulam o bem. Esta lógica de superioridade do homem perante o próximo, deveria ser reflectida nesta época e em todas as épocas para que a nossa história não conte sempre o mesmo. Talvez Deus um dia do seu computador limpe o homem dos seus pecados e de sentimentos tão absurdos como são o racismo, a inveja, a ganância se tiver que ser com água que seja.

A divindade carregada de bondade e omnipotência e outros predicados inatingíveis dona de uma justiça divina não existe e é confrontada nestes dias com a imagem do pai que atravessa a rua inundada carregando o corpo do seu filho, uma criança que brincava inocentemente indiferente ao nascimento de um Jesus, que um dia acordou para ser engolida por um oceano tresloucado. Perante isto somos reduzidos à nossa insignificância, rezar não nos serve de nada senão nos mexermos para melhor o mundo, o país, a nossa cidade, a nossa rua nem que sejam aqueles que mais precisam de nós e muitas vezes estão à porta da nossa casa. Fartos de homens que invocam Deus para os seus pontos de vista para justificar uma guerra e matar pessoas já deveríamos estar nós fartos para o pouco que serve o natal a não ser reunir parte da família e gastar dinheiro em bens supérfluos que sirva também para colocarmos a mão na consciência enquanto assistimos pela televisão à imagem de uma catástrofe natural.

Até para o ano e boas entradas.

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