sábado, agosto 16, 2008

Agosto, verão, praia, maçãs, olímpicos, guerra e Soljenitsine

Agosto sempre foi sinónimo de verão, e este de bom tempo. Bom tempo para o Homo sapiens moderno pressupõe Sol, calor e no mínimo ausência de nuvens no máximo ausência de precipitação. Parece ser a altura ideal para empregar a palavra férias que para um país como o nosso com 1230km de costa significa praia. Mas o anticiclone dos Açores já não é o mesmo e esse bom tempo parece só aparecer de forma intermitente como se de um capricho se tratasse.


Apenas a zona mais a sul de Portugal Continental parece seguir a lógica que o "antigamente" ditava, sendo que aquelas terras mais parecem já pertencer ao Magrebe do que à Europa, a distribuição da temperatura e a cor da terra assim o parecem dizer.


Nesta altura do ano para além das habituais noticias de famosos a tomar banho com as maminhas ao sol ou as novas contratações do Benfica, detivemo-nos com a história de um autoritarismo zeloso e anedótico de um tal comandante da zona marítima sul que proíbe massagens e distribuição de maçãs na praia em nome do decoro e das regras sadias da concorrência publicitária agressiva na areia. (A maçã nacional estava já a pôr em causa a venda de marcas internacionais de refrigerantes e a ofuscar campanhas publicitárias de operadores de telemóveis que prestam um serviço público aos cidadãos brindando-os com os mais variados brindes para esta época estival.)
Foi giro.


Lá por fora decorrem uns tais de Jogos Olímpicos numa tal de China um país de dois sistemas e milhentas desigualdades. Curioso apesar de tudo que uma ideia de nobres europeus - para homens ricos, brancos e civilizados se tenham tornado no maior evento desportivo do Planeta.

“Nos Jogos Olímpicos de St. Louis, em 1904, ao lado das provas olímpicas realizaram-se, durante dois dias, jornadas antropológicas. Índios sioux, mexicanos cocopas, pigmeus da África Central, ainos do Japão, sírios” – lembra a revista francesa L’Histoire dedicada aos Jogos Olímpicos. Tudo quanto dava a ideia de selvagem para a mentalidade ocidental de então participa numa espécie de JO-Zoo. Em St. Louis só participaram seis países europeus, Alemanha, Hungria, Grã-Bretanha, Grécia, Suiça e Áustria, e três americanos, EUA, Canadá e Cuba – e esta, certamente, por ser amiguinha dos EUA, que acabava de fazer uma guerra com Espanha para a tornar independente.

Guerra que também começou no mesmo dia em que as atenções do mundo estavam viradas para a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2008. O palco foi (é) a Geórgia e as suas duas regiões separatistas Ossétia do Sul e Abcásia, o principal jogador a Rússia que aproveita a oportunidade para fazer uma demonstração de força às suas portas. Entretanto surgem os relatos de pilhagens, mutilações de homens, violações de mulheres e mortes, muitas mortes invariavelmente de quem tem menos a ganhar e tudo a perder.


A morte mais falada internacionalmente este verão é do também russo Alexander Soljenitsine, personalidade que desconhecia, mas prémio Nobel da literatura em 1970 com as obras O Arquipélago de Gulag, A Casa da Matriona e o Pavilhão dos Cancerosos. Opositor e denunciante do sistema de trabalho escravo na URSS de Estaline valeu-lhe a perseguição pelo seguidores de Lenine o que o levou à prisão de trabalhos forçados na Gulag e ao exílio durante duas décados nos EUA, expulso e sem nacionalidade, excomungado por Brejnev reconciliou-se com a Rússia de Putin. Defensor da consolidação da “democracia musculada”, parece só aparecer aos olhos do grande público do ocidente após a morte, permanecem as obras que serão olhadas agora por certo de uma forma diferente.

Brevemente considerações sobre a transferência do ano do desporto internacional.

Fui

1 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado por tão ecléctico e enriquecedor apanhado do melhor e pior do verão até agora =)