quinta-feira, outubro 30, 2008

O ciclo da vida?


"Ainda me restam forças. Para partir. Morrer na terra que me viu nascer"


Milhares de anos de evolução. Durante milhares e milhares de anos fomos nómadas, mudando de local tão facilmente quanto as circunstâncias o justificassem. Um punhado de poucos milhares de homens bastou para alcançar a quase globalidade do planeta. Fosse este ainda maior!

Que sentimento é este? Porque é tão difícil partir, e tão imperioso voltar? Estará o Homem tão diferente?

Aproveitando para felicitar o brio e coragem daqueles que venceram este aforismo humano, entre os quais se encontram alguns dos mais notáveis amendoins deste blogue, aguardam-se comentários e opiniões.

terça-feira, outubro 28, 2008

Ainda no post-noite de 8 de Outubro...


A televisão online portuguesa HardSoundTv.com encontrou Steven Wilson após os marcantes concertos dos Porcupine Tree em Portugal e conduziu uma entrevista interessante onde foram abordados diversos temas, desde a paixão de Wilson pela música e pela produção, a relação intrínseca entre música e cinema, bem como os seus artistas favoritos. De fora ficou o seu cavalo de batalha predilecto, a massificação da faixa musical em detrimento do álbum.


"Eu não tenho vida (risos). Eu trabalho. Trabalho a toda a hora. Eu não tenho família"

"Em todos os aspectos a minha carreira é inspirada no cinema"

"Quando me perguntam que tipo de música eu mais gosto, eu respondo: música! Há muitos grandes discos em todos os estilos."

"Os artistas que sempre admirei são aqueles que sempre mudaram: David Bowie, Frank Zappa, Radiohead, Pink Floyd..."

domingo, outubro 26, 2008



Lost Highway de David Lynch (1997)
Género: Crime/Drama/Thriller/Horror
Poderá a psicose humana abrir portas a uma percepção para além do compreensível? Serão estes os mais aptos a estabelecer elos entre possíveis dimensões paralelas? Qual o limiar entre realidade e alucinação na mente perturbada de um psicopata?

São algumas das imúmeras questões que o filme nos invoca, este sonho bizarro, negro, surrealista. É mais na verdade, um pesadelo, perturbador e asfixiante. É, nitidamente, um filme David Lynch. Uma experiência sensorial complexa. Um filme que respeita verdadeiramente a inteligência do espectador. Em que todos os pormenores, mesmo os que à primeira vista não damos importância, têm um determinado propósito, muitas vezes muito para além do tempo que dispomos para os apreciar. Algumas das citações chave do filme:

"Gosto de recordar as coisas à minha maneira. Não necessariamente como aconteceram."

"Quando uma pessoa é sentenciada à morte, é enviada para um local onde não pode fugir..."

Esta é uma daquelas películas que podemos revisitar, vezes sem conta, tendo sempre algo para aprender, para descobrir. E assim se estabelece a diferença entre entretenimento e arte. É este o notável feito de Lynch - o de não fechar portas, conferir liberdade interpretativa ao espectador. No entanto, por muito que o vejamos, possivelmente nunca poderemos ousar alcançar uma conclusão irredutível. Os pormenores estão lá todos, para nos fazer reflectir.

"A mente humana é como uma encruzilhada de estradas e auto-estradas mas, perdendo-lhes o rumo, o fio condutor, cairá no abismo e fragmentar-se-á."

sábado, outubro 25, 2008

O que quero ser quando for grande?!

Ao longo destes últimos anos fomos definindo o nosso rumo. E na maioria das vezes nem nos deram tempo para pensar (no verdadeiro sentido da palavra) nos porquês e especialmente nos "para quê"! Vamos sendo como que empurrados pelo turbilhão de pessoas que nos rodeiam!!
Mas ao mesmo tempo vamos crescendo e de repente, deparamo-nos com mil e uma dúvidas!!
Ao longo do curso, especialmente neste último ano, em que lidei diariamente com o sofrimento das pessoas, inúmeras vezes me questionei: Será que tenho algo a dar aos meus doentes?
É difícil transmitir as más notícias, é difícil sentir-me impotente, é difícil admitir que errei, é difícil!
Mas também há momentos especiais que nos fazem perceber que as nossas decisões foram acertadas: um sorriso de um doente, um obrigado sentido, um olhar...
Às vezes é preciso alguém nos relembrar do quão bonita é a medicina. Por isso aqui deixo o meu obrigada a alguém que não conheço pessoalmente mas que já tocou a minha vida (Dr Nuno Lobo Antunes). Obrigada por me mostrar como é possível ser-se especial até nos piores momentos.


Um dia quando for grande quero ser como tu...

sexta-feira, outubro 24, 2008

Revelo aqui, o meu mais recente vício no que toca a websites donos de particulares interesses e curioxidades doutas:

Aqui, podemos encontrar uma série de mapas mundo redimensionados de acordo com a variável em estudo, que nos permite rapidamente perceber melhor o mundo em que vivemos, sendo estes um espelho das diferentes sociedades mundiais e como estas têm vinda a evoluir.
Tomemos então alguns exemplos práticos, como a distribuição da população mundial pelos vários continentes:

Como esta será em 2050:

Ou, para referirmos um tema muito em baila nos nossos dias, como se distribuí o consumo mundial de petróleo:

E como este tem aumentado, entre os anos 80 e o ano de 2001:

Um objecto de estudo interessantíssimo, a meu ver. Destes 4 exemplos que escolhi - dos mais de 600 disponíveis no site - podemos sobre muito cogitar. Dos dois primeiros, a constatação do óbvio, as grandes concentrações populacionais nos países emergentes, China e Índia, e o aumento populacional nos países de terceiro mundo, principalmente no continente africano e diminuição no ocidente, Europa e América, de uma forma mais ligeira do que o verificado para o crescimento no continente africano.
Os dois últimos mapas demonstram o monstro consumidor de combustíveis fósseis, que é a América do Norte e o crescimento brutal das novas economias emergentes neste aspecto, com o pormenor de Portugal ser um dos países europeus em que esse consumo foi mais incrementado nos 20 anos estudados. De aludir ao desaparecimento quase completo da América do Norte no último mapa, o que demonstra que os presumidos dos americanos há muito perceberam a necessidade de adoptar outro tipo de energias alternativas, para um caminho mais sustentável.

O Worldmapper é um sítio pensado e projectado por um grupo de investigadores da Universidade de Sheffield em colaboração com um investigador da Universidade de Michigan - responsável pelo algoritmo usado como base para a construção dos mapas - e que merece de todos nós pelo menos uma visitinha, já que comprar o livro recentemente lançado parece-me exagerado para as nossas pobres bolsas, tão necessitadas que estão de créditos de uma banca carente de crédito para si mesma.

terça-feira, outubro 21, 2008

Cacas dos cans
"As cacas dos cans e doutros animais domésticos emporcam as rúas e as prazas do noso pobo. Os donos dos cans tenem que levalos cagar a um sítio axeitado. As cacas no medio das rúas poden causar enfermidades e accidentes. (...) As cacas tenen que ir ao lixo, coas outras cacas."

Algures num letreiro da xunta da Galicia.
(08-08)

Sim aos cãozinhos, sim ao civismo.

Fui, à casa de banho

quarta-feira, outubro 15, 2008

A decadência das lontras ignorantes.

A nossa educação mais tarde ou mais cedo acaba por se reflectir nas escolhas e decisões que tomamos, assim como em tudo na vida. Hoje quando vou a uma qualquer grande superfície, não deixo de me admirar e repugnar com as preferências e escolhas inerentes a uma das necessidades mais antigas e intrínsecas do homem, a alimentação e a forma como esta é encara hoje em dia pela maioria da população.

Dou por mim muitas vezes a pensar: “ Mas será esta gente ignorante, estúpida? Não cabem na cadeira e estão a pedir batatas fritas, hambúrguer com molho, mas sem salada por favor. Sopa não quero, dê-me antes uma Coca-Cola light que o médico disse-me que tinha de perder peso.”

A ignorância e o desdém pelo bem-estar e saúde chega a um ponto que me levo a perguntar se estamos perante seres humanos dotados de capacidades intelectuais superiores aos demais animais, ou de meras bestas insaciáveis pelo prazer imediato. Podemos argumentar que se trata de um problema individual de cada um ao qual os outros nada ou pouco têm a ver com isso. Eu afirmo o contrário, o problema é tão deles como nosso. Estamos a instituir uma sociedade indivíduos obesos, hipertensos, insuficientes cardíacos, uma prole de inválidos a quem todos nós vamos ter de pagar a conta do hospital, da reabiltação, do tempo que poderiam ser úteis à sociedade mas não o podem devido ao seu estado debilmente lontroso.

Recuso-me ouvir as desculpas, dos que não podem porque não tem tempo, porque é difícil e custa (isto já é mais difícil de assumir), os que não tem tempo para caminhar 30 minutos, mas têm tempo para estar horas a fio no computador ocupados com futilidades, do vou começar para a semana porque hoje não me dá jeito, dos que até dizem que gostavam de se tratar melhor mas como é mais fácil e rápido assim deixa lá estar isso que amanhã não como.
Quanto tempo mais nos continuaremos a degradar? Até me dar uma pontada no peito e cair na cama de vez? Assim que não tiver forças para subir um lanço de escadas? Quanto tiver dificuldades em respirar ou dormir? Assim que não conseguir ver os meus genitais, a não ser ao espelho?
A escolha não está só entre morrer cedo ou tarde, está entre viver bem ou sofregamente, entre nos sentirmos bem connosco ou definhar lentamente assumindo-o como inevitável. Que imagem queremos nós deixar deste curto espaço de tempo desta existência? De meras bestas que mal sabem cuidar de si quanto mais do que o que os rodeia?
No meu mundo perfeito, as pessoas distinguem-se não pela aparência, dinheiro, valores materiais que ostentam, não pela eloquência das palavras ou da posição social, mas pelos actos que assumem e pela consciência que tem por si e pelos outros.


A terceira palavra que usei no início do texto foi educação, e é aqui a meu ver que reside a essência problema, não temos tido de quem chama a si a responsabilidade da educação a sensibilidade para este problema que começa em casa e acaba na escola. Por alguma coisa é que a maior prevalência de excesso de peso se encontra entre as classes sociais mais baixas, menos instruídas, com menos posses económicas e com mais dificuldades de acesso à informação.
A UE parece finalmente começar a despertar para este problema com as mais recentes recomendações nutricionais para crianças em idade escolar, e não antevejo muito tempo para este problema começar a ser encarado com a urgência que apresenta. A conta já começou a chegar aos estados e indirectamente ao bolso de todos nós. Em causa está a degradação da saúde pública, da qualidade de vida dos cidadãos, um problema muito mais gravoso do que o do tabagismo, é a americanização dos hábitos e cultura europeia com tudo o que de mau que isso acarreta.


Tenho a firme intenção de brevemente começar a colocar aqui uma série de considerações sobre nutrição e alimentos, partilhando com todos que quiserem ser alvo dessa partilha, os meus saberes adquiridos ao longo da minha formação e particular curiosidade que fui acumulando. Faço-o por própria diletância e sem qualquer pretensiosismo, porque ao contrário de muitos pseudo filósofos, intelectuais, considero que este assunto nada tem de prosaico, tomando como verossímel a máxima: Nós somos aquilo que comemos.

Fui

P.S: Assumo que me possa ter empolgado um bocado nas palavras, mas depois de ver uma jovem obesa que se viu obrigada a comer de pé, devido ao facto do seu rabo não entrar na cadeira, o seu hambúrguer e batatas fritas senti-me inconscientemente revoltado e repugnado com toda esta idiotice, que não passa de um terrível cúmulo de uma pequena parte da situação visível.

terça-feira, outubro 14, 2008

Num completo despropósito, de uma forma completamente áulica, faustosa e majestática, logo no segundo mês desta nova rubrica, não resisti a alterar as regras do jogo previamente estabelecidas por mim mesmo e tão calorosamente aclamadas por todos, para este cantinho de discussão com vocês, estimados leitores.
Sendo assim decidi que este mês de Outubro, pleno Outono, que marca a queda da folha, o desfolhar da espiga e a degustação da castanha, ignorar todas as vossas pertinentes questões que tão simpaticamente nos têm colocado para OsAmendoinsdoRicky@yahoo.com, e ser eu mesmo a colocar a questão do mês, com a respectiva resposta científica logo de imediata anexada ao "post", atropelando todas as minhas promessas de resposta para os comentários. De qualquer das formas, penso que a pergunta é uma curioxidade de particular interesse prático para todos, com a virtude de poder ser experimentada na prática hoje, amanhã ou quando vocês, digníssimos leitores deste blog acharem por bem.

A pergunta deste mês é a seguinte:

Porquê é que o leite congelado fica amarelo?


Resposta Verídica:

A cor amarela do leite vem da vitamina riboflavina (Vitamina B2), que deve o seu nome precisamente à sua cor amarela - flavus, do latim. A riboflavina é uma vitamina hidrossolúvel, o que é o mesmo que dizer que está dissolvida na fase aquosa do leite.

O leite é uma emulsão de gordura em água, possui pequenas partículas em suspensão de proteínas e gotas de gordura dispersas por uma fase aquosa. À temperatura ambiente, ou de refrigeração apresenta uma cor esbranquiçada e opaca.

Quando o leite é congelado a maioria da água cristaliza na forma de gelo antes das outras substâncias, ficando a antes diluída riboflavina mais concentrada na água que resta. O resultado é a tonalidade amarela que o leite toma à medida que se vão formando os cristais de gelo e a riboflavina diluída na água líquida que resta. A separação de fases, devido à congelação da água em primeiro lugar é a responsável pela alteração das propriedades sensorias do leite, e alteração da sua cor.

Pequeno apêndice à resposta dada:

Resposta a outras curioxidades como esta podem ser encontradas, por exemplo no livro - "Why Don't Penguins' Feet Freeze?", tradução literal para português, "Porque não congelam os pinguins?", da revista New Scientist, da sua famosa secção "The Last Word", onde se respondem a questões de ciência sobre as mais variadas matérias do nosso quotidiano. A adquirir.


Fui
, beber leitinho, mas achocolatado.

domingo, outubro 12, 2008

5 Anos!!

É com alegria e um misto de emoção…, que com estas palavras exactamente há 5 anos inaugurei este espaço. Como está descrito no nosso logo, foi numa noite chuvosa de sábado no recanto do El Lagar que o Palinhas apalpou os Amendoins do Ricky, e a partir daí partimos para este périplo, até hoje.

Quem perder tempo a ir ali até às velharias consegue de imediato, por comparação com o que mais recente se tem feito por aqui, discernir várias mudanças. Mudaram logo para começar muitos dos intervenientes do blog (graças à mais recente limpeza étnica, orquestrada pelo Nimpo a muitas carcaças que por aqui gravitavam), mudou a imagem (pela 3ª vez, apesar de o mesmo já não poder ser observado), para terem uma ideia, isto começou com uma aparência ataviada deste género:


Mudamos nós, os que há mais tempo aqui andam e evoluímos. Éramos umas crianças em Outubro de 2003, hoje somos uns homens já amplamente instruídos, experientes, sem a mesma inocência que tanto continuamos a querer preservar, e acima de tudo muito mais charmosos. O que não mudou foi o propósito deste espaço, um local onde pudéssemos partilhar as nossas opiniões, experiências e conhecimentos, ou coisas parecidas com isso, trate-se do nosso Benfica, do rabo do Fábio, do final do Universo ou sobre a pertinente temática dos protozoários arábicos eucariontes homolíticos de Xeia.

Assumo que este blog e muito do que foi dito aqui foi alvo de inúmeras controvérsias e até chatices desnecessárias. Tenho hoje a perfeita noção do quão pode ser difícil congregar tantas formas diferentes de pensar e diferentes concepções de abordar muitas das brincadeiras que por aqui se praticaram. Encaro este espaço como um hobby, uma oportunidade para reflectir mais profundamente sobre vários assuntos, um exercício saudável de juízo, contraditório, ponderação e recordações futuras. Por isso e por todas as manifestações de agrado que recebemos frequentemente continuaremos a alimentar este espaço, desde que o tempo, as ligações à internet e a saudinha assim o permita.

Notei agora que em cima falei na 1ª pessoa do plural, foi inconscientemente, tenho a perfeita noção da minha individualidade, mas seria injusto não pensar e\ou referir uma pessoa que tem estado sempre ao meu lado nesta batalha abandonada e enfrentada por 3 vezes. O Nimpo, impulsionador, profícuo, activista e inteligentíssima personalidade, dotado das mais egrégias qualidades e virtudes do foro cultural, ser pensante por natureza, sempre lutou por este espaço e transformou-o no local que ele é hoje.

A referência tinha que ser feita.

Obrigado à gerência e a todos vós que nos visitam e que para aqui contribuem activamente.

Parabéns Amendoins do Ricky,

E porque ainda estamos na ressaca de PT, aqui fica o nosso Steven com o Thank You mais famoso da história da música, penso eu...



Fui.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Foi um lindo sonho...
Um epítomo de emoções pueris



Esta dor que nos esmaga...
Por sentirmos a vida como a recitas



Não encontramos as palavras
Ícone dos nossos sonhos e esperanças...


(embraced with you, we melt inside, like a dream, or a fever...)


Perdoa-nos...


We know
You save music every day


Porcupine Tree 8th October, Porto, Portugal

segunda-feira, outubro 06, 2008

Está quase :')



É bom viver na certeza de um sonho que se vai realizar. E este sonho chama-se Porcupine Tree. Vêm a Portugal. Amanhã, dia 7, em Almada, no Incrível Almadense. Dia 8, no Porto, Teatro Sá da Bandeira.

O traço mais distintivo desta banda é a riqueza de sentimentos que conferem às suas músicas. Para a história do rock, será uma das bandas mais creativas e marcantes desta década em que nos encontramos. O historiador Piero Scaruffi viria a considerar Steven Wilson, o mentor da banda, um dos mais brilhantes discípulos de Pink Floyd. Os seus álbuns revelam uma inteligência e substância raras, todos saídos do génio de Wilson, um ávido coleccinador musical. Destaco os 3 últimos.

In Absentia (2002), um álbum replecto de pequenas pérolas, tão diferentes entre si, mas unidas nessa notável capacidade de aludir a sentimentos. Centrado na história de um criminoso, o psicopata Fred West, e o seu processo de reacção interior ao crime, como em "Crime e Castigo" de Dostoievski, In Absentia é pois bem mais que um simples álbum. Pleno de líndas metáforas, melodias marcantes num registo musical denso e rico, uma produção límpida e uma execusão primorosa, este é um álbum não só movedor como edificante.

Deadwing (2005), o manuscrito de um drama. A banda sonora de um filme ainda não realizado. Detém um sentimento melancólico e nostálgico raro, assumido sobretudo no maravilhoso épico de 12 minutos, Arriving Somewhere but Not Here, bem como em "The Start of Something Beautiful" com um interlúdio à base de piano comparável à da mais bela música clássica.

Fear of a Blank Planet, o último álbum, de 2007. Mais um álbum conceptual, sobre a progressiva deterioração de valores da sociedade ocidental. Retrata a nova geração dos tempos contemporânios, anárquica e vazia, completamente abandonada pela geração anterior. Esta, sobrecarrega-a com todo o tipo de distrações (TVs no quarto, ipods, consolas de jogos, telemóveis) como forma de desculpabilizar-se. Mas esta cultura do bem material apenas os torna mais alienados e desfasados da vida, arrastando-os para um processo penoso de violência, uma violência terrivelmente livre e gratuita contra eles próprios e a sociedade à sua volta, traduzida na perturbadora indiferença com que apontam uma arma. Ver videoclip. Todo o álbum é um autêntido processo psicoanalítico Freudiano vivido por um rapazito dos subúrbios londrinos, desde a constatação de vazio interior "Fear of a Blank Planet", depressão "My Ashes", revolta "Anesthetize", desejo de mudança "Way Out of Here" e libertação "Sleep Together".



"Hoje em dia assiste-se a um consumismo irreal na música. A cultura dos Ipods, de fazer zapping entre as faixas... Já se pode mesmo comprar músicas isoladas em vez de álbuns. Está a perder-se esta cultura do álbum, que destrói a apreciação da música como um todo, a arte musical. O álbum, como um filme para os ouvidos, uma forma de fazer arte que está a morrer para as massas. É um retrocesso cultural. Hoje em dia, o único grupo verdadeiramente inovador que consegue atingir um grande sucesso são os Radiohead, o que é revelador dos verdadeiros propósitos da índustria músical", by Steven Wilson, retirado de várias entrevistas recentes.


sábado, outubro 04, 2008

Mother Rússia

Seja pela distância cultural e proximidade geográfica, ou mais provavelmente pelas obras de Dostoievski, a sua história longa, complexa, repressiva e sangrenta tornam a Santa Mãe Rússia e a sua história uma enorme fonte de atracção para todos aqueles que gostam de perceber melhor os processos por qual o nosso mundo se rege.

Desde a Rússia imperalista dos czars, até à revolução Bolchevique de 1917 que levou à URSS, passando pela Rússia de Gorbatchev (o homem com a caganita de pássaro na cabeça), e a sua perestroika, esta sempre foi uma nação marcada pelo isolamento do mundo exterior. Profícua em poderes ultra centralizados, autoritários, marcados por uma cunha reaccionária que não tolera oposição, vive na angústia da sua vulnerabilidade histórica a ataques inimigos, resultante da sua imensidão e vastas fronteiras, incrustada em dois continentes.

Conhecendo a sua história não é difícil de perceber a sua obsessão por uma forte defesa militar e manias de uma actual dita democracia federal, sempre pronta a defender de forma intransigente a soberania e integridade russa, mesmo que isso tenha de custar a liberdade e a vida dos próprios cidadãos.

Nos tempos que correm apraz-me lembrar o hino elaborado como ode à União das Républicas Socialistas Soviéticas. Apesar de não perceber patavina do que dizem para lá suspeito que exulte as grandes vitórias militares e sociais contra o capitalismo, o poder privado, económico, e a centralização de tudo à volta do Estado soberano e senhor dos bens e mentalidades.



A Rússia de hoje é diferente. Vive na mesma e eterna dicotomia da aproximação ao mundo, entre uma Rússia mais europeísta, idealizada por Pedro O Grande e simbolizada pela racional, elegante e iluminada São Petersburgo, e a Rússia dos Bolcheviques mais auto-centrada em si, simbolizada por uma crispada, solitária e orgulhosa Moscovo, que após 17 anos da queda do regime Soviético continua como capital de um país com um incrível património de museus, palácios, catedrais e bibliotecas. Espólio a que esta Rússia nunca mostrou verdadeiro apreço.


Fui, tomar a minha pill anti-comuna.