A verdade de Velázquez
A verdade de uns nunca é a verdade para outros. Diz-se que só existe uma verdade, a tal verdade, “universal e absoluta”, ou lá o que isso é. A dúvida, nunca deixa lugar à verdade.
A altura que estamos a passar – de intensa rebaldaria política, pelo aproximar de eleições – é rica em verdades, meias-verdades e falsetes rocambolescos que entretêm o burgo e os burgueses a soldo.
O último delírio nacional parece ter sido o final do Jornal Nacional – o caso do momento, no país. Alguns tem a certeza que foi o PS e o seu secretário geral, José Sócrates, alvo principal dos shows de sexta-feira, a pressionar alguém que mandou a jornalista transformista às couves. Outros dizem que foi o PSD, da Manuelinha, o responsável, para prejudicar o dito engenheiro – bonita teoria também.
Há uma outra, bem mais plausível e na qual consigo acredito mais. Incúria, péssimo timing, défice de visão estratégica, por parte dos senhores que mandam lá naquilo. Apesar de tudo, ninguém os pode censurar por querer correr com aquela figura dos seus corredores.
No entanto, a primeira hipótese é a verdade aceite por um maior número de pessoas, apesar de estúpida e absurda – só Sócrates teve a perder com acaso, imaginar que o próprio, a tão poucas semanas das eleições, é o fiador desta história, é, repito, estúpido e absurdo. E como eu ainda acredito na espécie humana, ninguém é, sozinho, tão estúpido e absurdo, quando comparado com uma multidão que se abstém de ajuizar perante o aparentemente óbvio, referido vezes sem conta, até se tornar a mais insofismável das verdades.
Velázquez, dizia-se, era o pintor da verdade, o mais primoroso dos auto-retratistas conseguindo imprimir nos seus quadros, disposições dos seus modelos, como nenhuma avançada máquina fotográfica do nosso tempo, algum vez seria capaz. Na figura em cima, representado por Velázquez, está Esopo, escravo grego, do século VI a.C, a quem se atribuem as primeiras fábulas inventadas pelo homem.
Em Portugal, no século XXI, o país da fábula política, Esopo teria feito carreira, e as verdades de Velázquez, nunca chegariam a sê-lo.
2 comentários:
Bonita analogia : )
Falta acrescentar que o que hoje é verdade amanhã é mentira.
Bom post Shihan.
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