sexta-feira, abril 11, 2008

Mars Volta :: The Bedlam in Goliath


Mars Volta é responsável por uma das mais originais sonoridades da primeira década do século XXI. Em 2001, o seu primeiro álbum, "Delaused in Cromatorium", trouxe uma surpreendente mistura de rock progressivo e psicadélico com punk e influências latinas. No segundo álbum, "Frances the Mute" (provavelmente, o melhor) continuaram num som mais progressivo, quase abandonando as raízes punk, transparecendo um trabalho mais maduro. Embora o terceiro, "Amphutecture", fosse considerado por muitos um passo atrás, The Bedlam in Goliath trouxe de volta a veia criativa da banda, cada vez mais progressiva e experimental. Por outro lado, a voz de Cedric é cada vez mais peculiar e nos registos mais altos (e novamente com muitas experimentações estranhas), o que pode irritar muitos ouvintes. E assim se pode dizer sobre a atitude da banda em relação à música e composição, cada vez mais desligada das apreciações externas, em especial os fãs (que, não nego que não possa resultar no mais positivo dos actos).

Este feeling é enfatizado no opener "Aberinkula", ainda assim uma das faixas menos surpreendentes do álbum, começando-o com um refrão e batida explosivos, sem avisos, apresentações ou preparações. Esta visão da música ou, devo dizer, da arte, resulta em pormenores tão pouco convencionais como este - eles não poderiam ralar-se menos. As faixas são normalmente desenvolvidas em duas partes, com uma abordagem muito dinâmica e energética, quase sem espaço momentos com mais substância. Mesmo assim, quando existem, estes são realmente sentidos. "Metatron" retrata muito bem estas características, sem dúvida, um dos mais brilhantes standouts do álbum. A orquestração dos instrumentos é tão complexa que dificilmente poderíamos imaginar o sucesso de tal combinação numa faixa de música relativamente compreensível - às vezes entrecruzam-se três (!) solos de guitarra diferentes, para não falar de tudo o resto (que inclue saxofone, flauta e clarinete). Sem surpresa, o álbum é de uma técnica prodigiosa: o novo baterista, Thomas Prigden's, acrescenta um estilo fast-tempo que é impressionante por si só, por vezes fazendo-nos duvidar se um Ser Humano é realmente capaz de tal feito; enquanto que as várias guitarras estão combinados de todas as maneiras e tonalidades, desde riffs complexos, pesados e em stacatto até solos e efeitos arrebatadores. "Ilyena" e "Wax Simulacra" são os singles possíveis, sendo o primeiro particularmente eficaz embora conservando os ingredientes distintivos. "Golias" combina um riff de Rage Against the Machine com um explosivo jam final, a la hard-core. De facto, este álbum é o mais pesado do catálogo da banda, com "Ouboros" começando com um pesado e pontuado riff de guitarra que certamente não desfeitiaria qualquer música death-metal, após uma breve introdução a la Prefab Sprout. "Cavalettas" mostra algumas experiências interessantes de guitarra e "Askepios" é a mais pomposa e spacey de todas as faixas, lembrando o majestoso rock dos King Crimson e o ambiente dark e intrigante dos Tool. Esta faixa começa um magnífico trio com "Ouroboros" e "Soothsayer", esta última o corolário de toda a complexa orquestração inerente, com uma fusão de um motivo de fundo latino com efeitos sonoros espaciais, arranjos de violino a la música clássica, e trabalho de guitarra desde o psicadélico ao heavy-rock, numa extraordinária e novamente surpreendente mistura de combinações impensáveis.

O álbum pode exigir várias escutas atentas para ser compreensível e se perceber as suas conspícuas variações, devido à sua alta complexidade. Mars Volta pode perder algo com a atitude algo egocêntrica dos seus membros, e certamente a eles pode um dia merecer ser apontado o dedo (se realmente esse dia vier), mas sem dúvida que este não é o momento - é, respeitosamente, uma obra de génios, o melhor álbum do ano para já.

Vídeoclip de Ilyena


Rating: 8 em 10

1-4 - a evitar; 5 - vulgar; 6 - decente; 7 - bom; 8 - muito bom; 9 - impressionante; 10 - masterpiece a todos os níveis

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2 comentários:

Amendoim do Ricky disse...

A qualidade aliada a originalidade devia ser sempre premiada.

Hercules disse...

Embora tentando ser inovador, já não é pioneiro (cada vez mais o tema é abordado, não deixando no entanto de o ser...Muito ruidoso..embora seja esse o objectivo...Boa mensagem, boa caracterização...musica vulgar....

My fucking veredicto: 6