Opeth :: Watershed
Aqui vai a review, um pouco longa e descritiva, mas não encontrei outra maneira para o descrever de forma justa.
Watershed nasceu de um período conturbado para a formação dos Opeth. O veterano guitarrista Peter Lindgren abandonou a banda por razões pessoais, assim como o baterista latino Martin Lopez, devido ao crescente peso do seu problema de saúde. Foram substituídos pelos mais técnicos e aparentemente menos sentidos Fredrik Akesson (um guitarrista heavy-metal recrutado dos Arch Enemy) e por Martin Axenrot (um jovem baterista dos Bloodbath), podendo estas mudanças ter originado alterações profundas no som do conjunto.
No entanto, a essência da banda, o seu core emocional, manteve-se surpreendentemente preservado, revelando um peso substancial do compositor Mikael Akerfeldt na arquitectura e todos os aspectos da banda. Em Watershed, é notório o esforço de Akerfeldt em cada detalhe, cada riff, passagem acústica ou vocais, como que querendo provar isso mesmo. O resultado é um trabalho épico, remontante aos tempos de "Morningrise" ou até de "Still Life", dois dos seus melhores álbuns, enquanto emanando contornos sinistros como nunca dantes visto. Vozes limpas predominam, a nova paixão de Akerfeldt, começando pela primeira faixa, a acústica serenada "Coil", captando alguma da solenidade de Nick Drake, e usando também vocais femininos. Na verdade, apenas três faixas do álbum apresentam growls, e uma delas por apenas alguns momentos, facto que irá certamente desgostar muitos dos fãs apreciadores do seu lado mais extremo. Por outro lado, o álbum está repleto de alusões ao rock progressivo dos anos 70 (outra paixão de Akerfeldt), desde flautas solenes a la Camel até jams de guitarra a la Pink Floyd.
A conjugação de partes pesadas e brutais com outras mais doces e substanciadas está presente por todo o álbum, como seria de esperar, mas particularmente em "Heir Apparent", uma das composições death metal mais pesadas e bem conseguidas do repertório dos suecos. Começa com um imprevisível riff doom lânguido e poderoso, para logo se envolver numa respeitável pérola que faz como que um resumo, revisitando o que de melhor a banda já fez em toda a sua história: desde "Orchid" (os growls intensos e penosos, revelando uma dor e raiva excruciantes), "Morningrise" (o minimalismo clássico), "Blackwater Park" (os formidáveis e complexos riffs a duas guitarras, bem como o final da música), "Deliverance" (a sua força negra brutal) até Ghost Reveries (o seu compasso dinâmico a la Ghost of Perdition).
Depois desta faixa, o álbum embarca numa direcção diferente. "Heir Apparent" é a mais experimental, assentando sobretudo no psicadélico, desde a interessante mistura de black metal extremo com harmonizações vocais, até ao órgão sinistro (Per Wiberg neste álbum não é mero espectador como em Ghost Reveries) e a cruzada psicadélica antagónica das duas guitarras.
As próximas duas faixas são, provavelmente, as menos bem conseguidas do trabalho. "Burden" parece um pouco fora de lugar, quase comprometendo a fluidez do álbum na primeira secção, mas é salva pelo movimento de solos de guitarra a la "Confortably Numb" dos Pink Floyd, mas num diálogo apelativo de duas guitarras até à sua movedora união final. A parte final mostra uma interessante experimentação acústica, as guitarras progressivamente fora de tom à medida que o ambiente se torna mais perturbador e sinistro, enfatizado ainda pelo riso diabólico final que se torna progressivamente numa batida de relógio antigo sombria. "Porcelain Heart" é o single do álbum e a música mais gótica dos Opeth, finalizando com uma versão minor do riff final da "The Grand Conjuration" (talvez propositado).
Os níveis composicionais de Akerfeldt atingem um nível de subtileza intrigante, com violinos, guitarras acústicas e eléctricas, órgão, piano e flautas criando uma atmosfera imponente, quase ao nível da mais bela música clássica, na suite "Hessian Peel", a faixa maior e das melhores do álbum, com quase 12 minutos. Estes mais belos momentos (de natureza épica soando a "Still Life") originam esparsos outros de rudeza death metal, mais uma vez com inspirações psicadélicas nos riffs de guitarra. Por sua vez, a última composição, "Hex Omega" termina o álbum com contornos de espectacularidade épica nunca vistos na banda, sobretudo devido aos imponentes riffs de guitarra, misturados com momentos de uma natureza blues hipnótica.
Em suma, um álbum de uma riqueza composicional e musical assinalável. Acrescenta algo de novo ao repertório da banda, enquanto mantém toda a subtileza e substância que a caracteriza. É talvez o álbum mais variado dos Opeth, ainda mais que o anterior, Ghost Reveries, mas com uma direcção bem definida. Mikael Akerfeldt está de parabéns, mais uma obra digna do maior respeito.
Download aqui (só para pessoas com open mind : )
Rating: 8,5 (entre muito bom e impressionante)
No entanto, a essência da banda, o seu core emocional, manteve-se surpreendentemente preservado, revelando um peso substancial do compositor Mikael Akerfeldt na arquitectura e todos os aspectos da banda. Em Watershed, é notório o esforço de Akerfeldt em cada detalhe, cada riff, passagem acústica ou vocais, como que querendo provar isso mesmo. O resultado é um trabalho épico, remontante aos tempos de "Morningrise" ou até de "Still Life", dois dos seus melhores álbuns, enquanto emanando contornos sinistros como nunca dantes visto. Vozes limpas predominam, a nova paixão de Akerfeldt, começando pela primeira faixa, a acústica serenada "Coil", captando alguma da solenidade de Nick Drake, e usando também vocais femininos. Na verdade, apenas três faixas do álbum apresentam growls, e uma delas por apenas alguns momentos, facto que irá certamente desgostar muitos dos fãs apreciadores do seu lado mais extremo. Por outro lado, o álbum está repleto de alusões ao rock progressivo dos anos 70 (outra paixão de Akerfeldt), desde flautas solenes a la Camel até jams de guitarra a la Pink Floyd.
A conjugação de partes pesadas e brutais com outras mais doces e substanciadas está presente por todo o álbum, como seria de esperar, mas particularmente em "Heir Apparent", uma das composições death metal mais pesadas e bem conseguidas do repertório dos suecos. Começa com um imprevisível riff doom lânguido e poderoso, para logo se envolver numa respeitável pérola que faz como que um resumo, revisitando o que de melhor a banda já fez em toda a sua história: desde "Orchid" (os growls intensos e penosos, revelando uma dor e raiva excruciantes), "Morningrise" (o minimalismo clássico), "Blackwater Park" (os formidáveis e complexos riffs a duas guitarras, bem como o final da música), "Deliverance" (a sua força negra brutal) até Ghost Reveries (o seu compasso dinâmico a la Ghost of Perdition).
Depois desta faixa, o álbum embarca numa direcção diferente. "Heir Apparent" é a mais experimental, assentando sobretudo no psicadélico, desde a interessante mistura de black metal extremo com harmonizações vocais, até ao órgão sinistro (Per Wiberg neste álbum não é mero espectador como em Ghost Reveries) e a cruzada psicadélica antagónica das duas guitarras.
As próximas duas faixas são, provavelmente, as menos bem conseguidas do trabalho. "Burden" parece um pouco fora de lugar, quase comprometendo a fluidez do álbum na primeira secção, mas é salva pelo movimento de solos de guitarra a la "Confortably Numb" dos Pink Floyd, mas num diálogo apelativo de duas guitarras até à sua movedora união final. A parte final mostra uma interessante experimentação acústica, as guitarras progressivamente fora de tom à medida que o ambiente se torna mais perturbador e sinistro, enfatizado ainda pelo riso diabólico final que se torna progressivamente numa batida de relógio antigo sombria. "Porcelain Heart" é o single do álbum e a música mais gótica dos Opeth, finalizando com uma versão minor do riff final da "The Grand Conjuration" (talvez propositado).
Os níveis composicionais de Akerfeldt atingem um nível de subtileza intrigante, com violinos, guitarras acústicas e eléctricas, órgão, piano e flautas criando uma atmosfera imponente, quase ao nível da mais bela música clássica, na suite "Hessian Peel", a faixa maior e das melhores do álbum, com quase 12 minutos. Estes mais belos momentos (de natureza épica soando a "Still Life") originam esparsos outros de rudeza death metal, mais uma vez com inspirações psicadélicas nos riffs de guitarra. Por sua vez, a última composição, "Hex Omega" termina o álbum com contornos de espectacularidade épica nunca vistos na banda, sobretudo devido aos imponentes riffs de guitarra, misturados com momentos de uma natureza blues hipnótica.
Em suma, um álbum de uma riqueza composicional e musical assinalável. Acrescenta algo de novo ao repertório da banda, enquanto mantém toda a subtileza e substância que a caracteriza. É talvez o álbum mais variado dos Opeth, ainda mais que o anterior, Ghost Reveries, mas com uma direcção bem definida. Mikael Akerfeldt está de parabéns, mais uma obra digna do maior respeito.
Download aqui (só para pessoas com open mind : )
Rating: 8,5 (entre muito bom e impressionante)
1 comentários:
Muito boa review, era difícil descrever melhor o novo trabalho de Mikael Akerfeldt que conseguiu mais uma vez manter e em certos momentos incrementar a qualidade, originalidade e subtileza das suas músicas. Sem dúvida dos melhores trabalhos destes suecos. Watershed parece-me um híbrido entre um deliverance e um damnation, que depois deste é o álbum com mais clean voices.
Como diz o Nimpo estas masterpieces só para pessoas com open mind, paciência e predisposição para apreciar de forma descomprometida uma forma de arte que hoje em dia é consumida tipo fast food onde qualquer um com bom aparência consegue vender milhões.
De salientar por fim o crescente talento que o senhor Nimpo bem desenvolvendo para fazer reviews, principalmente de música.
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