sábado, fevereiro 28, 2009
Publicada por Hélder Aguiar à(s) 28.2.09 5 comentários
Etiquetas: Ler: mais que ver, Literatura
terça-feira, fevereiro 24, 2009
Hotaru no Haka de Isao Takahata (1988)
Género: Animação, Drama
O meu conhecimento sobre filmes de animação japoneses é muito limitado; tirando não mais que meia dúzia de películas e três séries mundialmente famosas, pouco mais conheço. Ao pensar neste género de filmes, concebo logo algo com muita acção, violência a rodos, vilões hi-tech e monstros com super-poderes em cenários quase apocalípticos. Hotaru no Haka, ou, Túmulo dos Pirilampos, na versão portuguesa é a antítese desta fórmula de sucesso (ou talvez ideia preconcebida minha?!).
Construído a partir de uma pequena história - baseada em experiências reais vividas por um autor japonês durante a segunda guerra mundial -, relata-se os dias de um adolescente e a sua irmãzinha, após perderem a mãe num bombardeamento à sua cidade e sem notícias do seu pai ao serviço da marinha japonesa. Acolhidos primeiro pela sua tia, e depois rapidamente desprezados por constituírem um estorvo numa altura de racionamento de alimentos, entregam-se à sua sorte, numa luta pela sobrevivência para a qual não estão preparados, apesar da bonomia com que enfrentam a sua situação, perante a apatia e o desprezo dos adultos.
Todo o filme é brutalmente simples, sem qualquer tipo de efeitos especiais. É devastadoramente realista, tocante, sem grandes melodramas, mas de uma grande elegância. Apesar da guerra ser o potenciador de toda a trama, não é sobre isso que reflecte. A guerra é mesmo encarada como uma situação secundária – quase não são referidos inimigos, nem se vê soldados –, tal como na Infância de Ivan é feita uma abordagem em contextos poucos comuns das consequências que esta traz na natureza humana. Este é antes um filme sobre o amor; o amor entre dois irmãos, o sentimento intimo, inexplicável entre dois seres humanos, esta sensibilidade que nos une verdadeiramente. O triunfo da simplicidade, da simplicidade que encerra a verdadeira beleza.
O título do filme, deixo para vossa descoberta, está presente metaforicamente num par cenas que unem o destino, a fome, a sobrevivência, a beleza e o amor num só.
9/10(Essencial)
Publicada por O Shihan à(s) 24.2.09 3 comentários
Etiquetas: Notáveis 7ª arte
segunda-feira, fevereiro 23, 2009
Os Óscares em 3 palavras e 1 letra:
Ele é tão gay.
Não simpatizo nada com o The Curious Case of Benjamin Button, é daquelas embirrações irracionais da qual não se sabe muito bem de onde vem, muito menos para onde vai. Dos principais filmes aos prémios, nenhum vi completamente, mas do que os pedacinhos de trailer mostram e de opiniões variadas, é precisamente o Milk que mais expectativas me suscita. Sean Penn é um belíssimo actor (o diabo até o sorriso mudou). O resto, a ver.
E como diria o fenomenal, profícuo e satírico Frank Zappa:
Publicada por O Shihan à(s) 23.2.09 6 comentários
Etiquetas: Musique, Recordar, Temos Ditu
domingo, fevereiro 22, 2009
Continuamos neste segundo mês do ano de vinte e zero nove, na nossa demanda iluminadora a todos (ou quase todos), principalmente, àqueles aqui chegados, das longínquas terras de Vera Cruz, após inquisitivas buscas no Google, que, por mero acaso cósmico, ou simples azar fortuito, se depararam com este sítio, sem que este seja capaz de responder aos seus anseios.
Cientes que estamos das nossas responsabilidades, e, porque também nós gostamos de contribuir para um mundo melhor, tal como o Rock in Rio, mas, no nosso caso, sem vos cobrar 55 euros por mais, lavamos todas as frustrações, que segundo credíveis estudos científicos na “Mais Interessante” e no número 126731653673 da revista “Mariana”, faz o cancúru e a próstata.
Pergunta de um dos visitantes de Paraiba: “Qual é o significado da palavra impto?”
Resposta: Da palavra impto desconhecemos, mas da palavra ímpeto é: movimento repentino; arrebatamento; furor; agitação; precipitação.
Para terminar e para que não fiquem dúvidas que nós sabemos mesmo mais do que uma dançarina de samba de 90 anos – parece que já há aí quem duvide disso, ousando mesmo dizer: Ah! Para responder a procuras de brothers brasileiros no Google, até um símio bem treinado com o novo dicionário do acordo ortográfico o faz. Pois bem seus pulhas, queria ver um símio a criar a nossa receita para fritar um bife de forma saudável e ultra delicioso:
- Comprar o(s) bife(s) de um/vários mamífero(s);
- Pagar o(s) bife(s) de um/vários mamífero(s);
- Ir para casa com o(s) bife(s) de um/vários mamífero(s);
- Abrir a porta com o(s) bife(s) de um/vários mamífero(s);
- Tirar o(s) bife(s) de um/vários mamífero(s) da embalagem/saco;
- Colocar o(s) bife(s) de um/vários mamífero(s) numa base perfeitamente asseada, nunca no chão;
- Obter um frigideira, de preferência com uma pequena quantidade de azeite de forma a apenas cobrir o fundo;
- Fritar ao de leve o(s) bife(s) de um/vários mamífero(s);
- Retirar o(s) bife(s) de um/vários mamífero(s) novamente para a base anteriormente designada como asseada;
- Temperar com sal marinho tradicional o(s) bife(s) de um/vários mamífero(s) já levemente fritos;
- Acrescentar azeite, alhos, vinho branco à frigideira onde se havia feito a leve fritura do(s) bife(s) de um/vários mamífero(s), deixando ferver um pouco;
- Reaquecer o(s) bife(s) de um/vários mamífero(s) com o sangue.
E voilá! Queria ver a fazerem isto ali no Centro Social! Era o fazias!
Sem mais a acrescentar,
as minhas cordiais felicidades.
Publicada por O Shihan à(s) 22.2.09 4 comentários
Etiquetas: Eu sei mais do que um idoso de 90 anos
sábado, fevereiro 21, 2009
Poema para Galileu
Reprodução do “Poema para Galileu”, de António Gedeão, um dos poucos poetas portugueses, que um bruto como eu consegue apreciar verdadeiramente.
Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileu! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios).
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria...
Eu sei... Eu sei...
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileu Galilei!
Olha. Sabes? Lá na Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileu,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate, Galileu!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileu?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.
Estava agora a lembrar-me, Galileu,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um guiso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando um perigo
para a Humanidade
e para a civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscava os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas - parece-me que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma
Ai, Galileu!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andava a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileu Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso, estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.
António Gedeão
Publicada por O Shihan à(s) 21.2.09 1 comentários
Etiquetas: Ciência, Literatura, Poesia
quinta-feira, fevereiro 19, 2009
Afinal a Terra não é o centro do Universo
A semana passada foi rica em efemeridades; primeiro os 200 anos de Darwin (12 de Fevereiro), depois os 400 anos das primeiras observações de Galileu, nascido a 15 de Fevereiro. Ambos foram responsáveis por profundas roturas nas sociedades em que viviam. Romperam com o conhecimento estipulado e abalaram de forma conclusiva verdades dogmáticas tidas como inabaláveis e sem discussão possível.
O caso particular de Galileu é a todos os níveis meritório, tanto pela época em que viveu, em plena época renascentista (século XVI e XVII), sob a terrível mão inquisidora da Igreja Católica (outros antes como o filósofo Giordano Bruno, haviam sido queimados por afirmar o mesmo), até às resistências da comunidade científica em abandonar os postulados cosmológicos de Aristóteles e Ptolomeu.
Galileu mudou a mentalidade e a concepção que a humanidade tinha do seu valor e importância no universo, apontou-nos o nosso lugar no Universo a partir da sua luneta - que o próprio construiu e aperfeiçoou –confirmando o modelo heliocêntrico de Copérnico e sustentando o que outros afirmavam, mas não provavam. Usou para isso o pioneiro método científico moderno, base da investigação científica actual: baseado na observação e experimentação, inspirando o trabalho de Kepler e Newton e a forma de como se faz ciência, até aos dias de hoje.
Galileu como todos os génios foi mais do que isso, desenvolveu a lei da inércia, da queda dos corpos, descobriu que as forças aceleram, criou os primeiros termómetros e promoveu avanços tecnológicos como nenhum outro o fez. Era um artista completo, descrevia e desenhava tudo o que observava, desde as luas de Júpiter, aos anéis de Saturno, as fases de Vénus (apresentava-se maior ou mais pequeno conforme estivesse mais ou menos perto da Terra), as manchas do sol, até as faces rugosas da Lua (em baixo).
O ano de 2009 é o Ano Internacional da Astronomia, uma excelente oportunidade com as várias iniciativas da Sociedade Portuguesa de Astronomia para redescobrirmos o nosso lugar no Universo e combatermos a analfabetização científica que por cá ainda reina (apesar de o séc. XVII já lá ir longe) daqueles que de astronomia parecem só saber o que se resume na frase título e pouco mais.
*Segunda imagem: Estátua de Galileu no museu Uffizi em Florença.
Publicada por O Shihan à(s) 19.2.09 1 comentários
sábado, fevereiro 14, 2009
Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
Saramago, o até agora, único Nobel da literatura portuguesa (1998), é hoje, na minha opinião, o maior contador de histórias português vivo, nome maior da literatura mundial.
Tenho uma admiração confessa pelo trabalho de Saramago, até aqui havia lido o Memorial do Convento e as Intermitências da Morte, foi levado até ao Ensaio sobre a Cegueira com uma grande de dose de expectativa, alimentada pela sua recente e mediática adaptação à tela pelo realizador Fernando Meireles (Blindness).
As expectativas não me saíram goradas, fiel ao seu estilo muito próprio (longas frases e pontuação pouco usual) é necessário ao início algum esforço para acompanhar descrições e diálogos misturados sem grandes referências. Já depois da inicial adaptação à sua particular escrita, é aproveitar a prosa única, o tom coloquial (como que chamando o próprio leitor para a história), as suas famosas alegorias e, no caso desta obra, a sua narrativa fortíssima, de tal forma arrebatadora que se torna difícil de desprender do livro até ao seu final.
Atingida por uma inexplicável epidemia de cegueira branca (propagando-se não se sabe como), várias pessoas que pouca ligação têm entre si, encetam uma viagem dramática e claustrofóbica na perda da sua dignidade humana. Apenas uma mulher, “a mulher do médico”, retêm a sua visão e torna-se os nossos olhos para o miserável quadro da natureza humana, que Saramago nos pinta. É na forma como o pinta que o talento de Saramago se revela; mestre na caracterização, observando cada personagem à medida que vão experienciando a sua cegueira, personagens sem nome, únicas, mas identificadas apenas como “o vizinho”, “o ladrão”, “o médico”, “a rapariga dos óculos escuros”, leva-nos a experimentar uma claustrofóbica familiaridade com as personagens e uma agonizante sensação de ruína.
Evito propositadamente dar muitos pormenores da história, esta vale por si só, e fazê-lo seria retirar muito do prazer que a surpresa costuma encerrar. Contem com um murro no estômago, algo inquietante, que explora da melhor forma o que de pior pode esconder o comportamento humano, de como facilmente nos tornámos bárbaros e nos deixámos guiar pelos mais básicos instintos, bastando para isso sentirmo-nos órfãos dos constrangimentos sociais a que estamos todos os dias afectos. Deixa no ar uma série de interrogações que complementam a prosa, genericamente, reflectindo no que significa isso de ser humano.
"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."
José Saramago
Publicada por O Shihan à(s) 14.2.09 2 comentários
Etiquetas: Ler: mais que ver, Literatura
Saint Valentine's Day
Nas primeiras horas deste dia tão especial:
Comunicado da Associação das famílias portuguesas violentas (AFPF)
**Não te esqueças de lhe acertar também hoje, mas desta vez, aconselha-se com bombons e flores.**
*Desde 1930, já somos mais de 10% das famílias portuguesas.
Publicada por O Shihan à(s) 14.2.09 4 comentários
Etiquetas: Experimente pensar, Temos Ditu
domingo, fevereiro 08, 2009
O primeiro álbum a solo do mentor dos Porcupine Tree é uma mescla de todas as variadíssimos géneros que o influenciam, desde ock progressivo, post-punk, música electrónica, clássica, trip-hop, noise rock, drone metal, post-rock, música ambiental, shoegaze, pop e dream rock. A belíssima balada de piano Insurgentes é uma das músicas do ano, de resto o álbum vai passeando por alguns momentos interessantes e até creativos, mas sem nunca se impor ao melhor que Wilson faz nos Porcupine Tree.
Publicada por Hélder Aguiar à(s) 8.2.09 1 comentários
Etiquetas: Top Rock Music 2008
sexta-feira, fevereiro 06, 2009
O vinho terá sido das primeiras bebidas fermentadas a ser produzidas pelo homem, desde a mais remota antiguidade (6000 a.C), até hoje é amplamente apreciado e alvo de um culto ímpar por todo o mundo. A preferência das civilizações antigas por esta bebida em detrimento da água é facilmente compreendida pelas suas características: mais segura; com efeitos psicotrópicos; muito mais nutritiva. Historiadores defendem mesmo que foi uma das principais causas do desenvolvimento das sociedades ocidentais, promovendo indivíduos mais saudáveis (apesar de ébrios durante algum tempo), com maior esperança média de vida, maior sucesso reprodutivo, além do papel sociais, económico, comercial, facilitando um sem número de interacções culturais, e claro, a sua importância religiosa (cristãos, judeus, islâmicos o consagram), como dizia Benjamim Franklin: “O vinho é a prova constante que Deus nos ama e deseja ver-nos felizes.”
Produto fermentado que é, depende da qualidade e especificidade da sua matéria-prima, a uva, mas também da acção de organismos vivos, leveduras e bactérias para a sua produção.
Portugal, fruto dessa ocidentalização e características topológicas únicas, é um país de grande tradição vinícola, como se atesta pela sua área de vinha cultivada ( 250 mil hectares, a 4ª maior na Europa dos 27), e consumo per capita.
A revista DECO Proteste, publicou o passado mês, o guia dos melhores vinhos 2009, analisando uma totalidade de 260 vinhos. A novidade em relação a outras publicações do género está na análise da qualidade química, além da habitual análise sensorial por degustação. Alguns dos resultados deixaram-me surpreendido, principalmente nos vinhos brancos. Muitos deles obterão a classificação de medíocre, não pela prova, mas pela composição em valor de conservantes, sulfitos.
Apesar de todos os vinhos analisados estarem dentro estipulados pela UE (falamos de valores da ordem dos ppm, parte por milhão), e portanto, salvaguardada a saúde pública - podem ser agentes alergénicos e sabe-se lá mais o quê, fazer o cancúru - desde há muito que o seu uso se tem restringido a quantidades marginais, por força do crescente desenvolvimento da tecnologia vinícola.
Os sulfitos (SO2), aparecem nas garrafas com a anotação de E220 e E202, são amplamente usados como conservantes na indústria alimentar, no vinho, protegem os compostos da oxidação, mantendo a integridade organoléptica (por exemplo, evitando a perda de cor), suprimem o crescimento de microrganismos indesejáveis - já que por ordem da mãe Natureza, ou do nosso senhor, os microrganismos que interessam até são bem resistentes a estes malvados –, ligam-se ao acetaldeído (substância de sabor azedo, formada durante o processo de fermentação alcoólica, predecessor do vantajoso etanol), por considerações químicas que para aqui não são chamadas, resultando uma substância inodora, promovedora da felicidade de produtores e consumidores.
A revista custa 20€, amigo como sou, revelo aqui sem qualquer custo para o utilizador, alguns dos melhores por ela considerada, contribuindo para o opróbrio dos piores com a mesma lânguida satisfação, que promovo os melhores.
A beber:
Paço dos Falcões Grande Escolha 2004 – Tinto, Ribatejano.
Quinta da Bacalhôa 2006 – Branco, Terras do Sado.
Catarina 2007 – Branco, Terras do Sado.
Casal da Coelheira 2007 – Branco, Ribatejo.
Dos piores classificados:
3 Marias – Branco, vinho de mesa.
Gazela – Branco, vinho de mesa.
Casal Garcia – Branco, vinho de mesa.
A pior apreciação, na sua generalidade, dos vinhos brancos neste guia salta à vista, explicando-se pela necessidade de maiores doses de conservantes para vinhos deste tipo, devido ao seu mais baixo teor alcoólico. Curioso é também constatar que muitos dos melhores vinhos até nem são assim tão caros, corroborando a teoria que nem sempre preço acompanha a qualidade. Mais não divulgarei, porque a minha memória assim não o permite, é que mesmo para sócios da DECO ,o guia continua a custar 17€.
Saúde.
Publicada por O Shihan à(s) 6.2.09 1 comentários
terça-feira, fevereiro 03, 2009
O Navegador da Passagem (2008)
de Deana Barroqueiro
“Aos heróis anónimos portugueses, do passado e do presente que a nossa história não consagrou;”
Ler: mais que ver, é uma das etiquetas deste post, neste caso particular, podemos também dizer que é aprender e conhecer, poderíamos acrescentar uns quantos outros adjectivos a esta expressão (por exemplo: entreter), mas estes penso que sejam suficientes e cabalmente definidores da obra em que nos deteremos nas próximas linhas.
Descobri este livro por acaso, chamou-me à atenção não por um acaso, mas por no seu interior tratar de um período da história que por norma nos orgulha e enche de vaidade - os Descobrimentos. Deana Barroqueiro (Prémio Máxima de Literatura 2007 – Prémio Especial do Júri.), tem aqui o seu segundo livro, depois de “D.Sebastião e o Vidente”, do género romance histórico. Desta vez, recorreu a uma personagem da história de Portugal poucas vezes referida e por muitos esquecida, mesmo pelos seus contemporâneos, apesar dos sucessos que logrou conseguir em nome de uma nação: O Capitão do Fim, como lhe chamou Fernando Pessoa, Bartolomeu Dias de seu nome.
Bartolomeu Dias o Capitão do Fim.
Bartolomeu Dias é narrador e personagem principal nesta história romanceada, eximiamente bibliografada pela autora como se de um artigo científico se tratasse. Uma das suas principais virtudes é esta, a precisão histórica, até ao ponto que esta era possível com os parcos registos da vida do navegador, muita dela recriada da imaginação da autora.
A acção viaja entre dois tempos: o recordar da viagem sob desígnio de D. João II, que o levou a desbravar grande parte da costa ocidental africana desconhecida, estabelecendo os primeiros contactos com muitos povos da região e, por fim dobrar a última barreira moral atlântica, em 1488, o Cabo da Boa Esperança, possibilitando, mais tarde, a derrota de Vasco da Gama para a Índia, em 1497, no qual também participou; e a viagem na armada de Pedro Álvares Cabral à Índia em 1500, já com D.Manuel I no trono, que num acaso levou à descoberta da “Ilha de Vera de Cruz”, assim denominado então o que a hoje chamámos Brasil. Foi no retomar da rota mapeada pelo próprio Bartolomeu, que a efemeridade do visionamento de um cometa se lhe torna como presságio do seu padecimento. Ironicamente, padecimento que viria a acontecer às mãos do cabo que havia sido o primeiro a domar.
Rota das três expedições marítimas levadas a cabo por Bartolomeu Dias.
Do romance podemos retirar ainda a descrição de várias personagens ilustres daquele tempo: D.João II “O Príncipe Perfeito”, cruel, visionário de um império português marítimo, tão amado como odiado, obstinado por um ideal; D.Manuel I “O Venturoso” que colheu os frutos do projecto do seu antecessor; Diogo Cão, o primeiro navegador a chegar à foz e a subir o actual rio Congo; o judeu Abraão Zacut, astrónomo, braço direito de D.João II, graças aos seus estudos possibilitou a orientação das caravelas em alto-mar e um sistema eficaz de cálculos e registos nas expedições marítimas; o interesseiro, venenoso e trapaçeiro Cristovão Colombo, entre muitos outros.Do romance, são as descrições da vida a bordo das caravelas portuguesas, das agruras de tão tumultuosas viagens, das intrigas que se movimentavam na corte, as relações entre reinos e a situação do malogrado povo judeu que mais eficazmente são relatados no romance. Não estamos perante mais uma ode à epopeia marítima portuguesa, nota-se um claro sentido de reconhecimento dos heróis esquecidos, homens que oferecendo a sua coragem e vida a uma causa (muitos deles, os chamados “matalotes”, desconhecendo-a), como Bartolomeu Dias contribuíram com o seu engenho e audácia para a abertura do mundo ocidental ao oriente, ousando ser maiores do que as fronteiras seu pequeno país os deixava ser, numa época de ouro da história de um país, que só alguns consagrou.
“Jaz aqui, na pequena praia extrema,
O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,
O mar é o mesmo; já ninguém o tema!
Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.”
(Fernando Pessoa, “Epitáfio de Bartolomeu Dias”, in Mensagem)
Publicada por O Shihan à(s) 3.2.09 8 comentários
Etiquetas: Ler: mais que ver, Literatura