quinta-feira, maio 28, 2009

Um país, dois sistemasThe People's Liberation Army is the University for Mao Tse Tung Thought!

A China tem um dos mais execráveis sistemas políticos. Para pior, só alguns fanáticos africanos e do sudoeste asiático que se ainda acham na era medieval. Chamaram-lhe República Popular da China, mas de república nada tem e de popular cada vez menos. Consegue juntar duas súmulas, à primeira vista, intoleravelmente miscíveis - os piores aspecto do capitalismo selvagem e os piores aspectos do socialismo que tudo centra à volta de um estado ubíquo, só ao alcance de um regime totalitário, repressor e unipartidário. Crescem a dois dígitos por ano, e são o exemplo para os tempos modernos da prosperidade económica. Uma prosperidade mefítica, indigna, violadora dos mais elementares direitos humanos, castradora da individualidade, camuflada por uma pertença igualdade polarizada. A China cresce, os chineses enriquecem ao mesmo ritmo que a miséria prolifera e o êxodo rural para a grande cidade transforma milhões de seres humanos em meras labutas ao serviço do grande sistema, privados de uma biografia onde entre a palavra dignidade.

Estranha sensação de prosperidade essa.

A hipocrisia internacional tem que continuar, o isolamento nunca poderá ser a melhor solução. Entretanto, o barril enche-se, a pólvora acumula-se, e a explosão social apressa-se - o homem é de natureza inquieta e sonhadora, aqui ou na China.

Em Portugal, continua a existir um partido timidamente defensor do regime chinês. Chama-se Partido Comunista Português. Esse mesmo, o dona da superioridade moral perante a defesa do proletariado em Portugal, sempre contra os malvados do patrões que exploram os coitadinhos, os mesmos que defendem um Tibete Chinês, apesar dos direitos irrevogáveis à autodeterminação e independência de uma nação secular.

Se não chegassem os tiques atávicos do Partido Comunista Português, só por si um motivo para não ser comunista, o Tibete devia ser, por força das evidências, uma razão essencial para não ser comunista em Portugal.

Já ouviram o que os principais dirigentes comunistas portugueses têm a dizer da Primavera de Praga? Não queiram. Perguntem-lhes do Belmiro.

terça-feira, maio 26, 2009

Ler, mais que ver 389x152

 Viagem ao Fim do Império de Martz Inura (2008)


O segundo romance do escritor português Martz Inura transporta-nos ao pesado passado do final da guerra colonial. Apesar de tão marcante para a história de Portugal, este é, efectivamente, um tema ainda pouco explorado, talvez por se constituir ainda como ferida bem viva e sangrante na alma de muitos portugueses, como reconhece o próprio autor. Inspirando-se nos títulos de Júlio Verne, a história do livro coloca-nos ao lado de Ivo Soares, um capitão miliciano, "feito à pressa", "em laboratório", para comandar um grupo operacional nos recônditos do enclave de Cabinda. 

Cidade de Cabinda
São estes dois anos, desterrado num isolamento profundo e num cenário de guerra em que à partida não acredita, o ponto de partida para o drama deste capitão inexperiente: a vida promissora que deixou na "metrópole", o peso esmagador das decisões, a responsabilidade pela vida de milhares de homens, os seus medos, pesadelos e conflitos interiores. Pode-se extrapolar do livro este sentimento global do que foi servir Portugal na guerra colonial, desde a desmotivação, as dificuldades, privações até aos receios e perigos que estes homens foram forçados para servir, o melhor que puderam, os interesses do país e durante tanto tempo. Provêm de todos os pontos do país, são mestres de variadíssimos ofícios, donos de personalidades e traquejos diferentes, mas juntos, formam esta massa caracterizadora da simplicidade do povo português, ali bem retratada no livro. Alguns aprenderam lá a ler, outros até a "comer de faca e garfo", retrato paradigma da situação de miséria do país. Apesar de tudo, apreende-se que a guerra abriu os horizontes a muitos daqueles homens, contribuindo para o grande êxodo emigracional. A obra, não obstante o pesado tema, é longe de ser lúgrube. O humor está bem presente ao longo da narrativa, surgindo de várias expressões engraçadas, episódios sórdidos, brincadeiras caricatas, ou até do português "arranhado" de alguns autócnes. A relação destes com os portugueses era, de resto, salvo excepções, plenamente harmoniosa, mesmo de sincera amizade. Muito do sucesso da missão deve-se, sabe bem Ivo Soares, ao estabelecer de amistosas relações com os habitantes locais, retratatos genuidade e filosofia de vida invejáveis. Efectivamente, a obra ressalva bem o facto de, verdadeiramente, não se ter vivido lá uma situação de guerra, mas sim de guerrilha (aquilo que hoje se designaria facilmente de terrorismo).


É um livro de guerra e de amor, um amor inevitável e inebriante, perigoso, pincelado até por certos indícios de tragédia. No entanto, mais que esta dualidade cativante, o autor percorre os mais importantes factos históricos e enriquece-os com uma dimensão psico-social. É notória a intenção de Martz Inura em vincar ali o "desmoronar de uma certa ideia de Portugal" com mais de 500 anos de existência, e o início de uma nova página para o país. Termina o romance de forma surpreendente e precisamente no eclodir e euforia do 25 de Abril de 1974. É um livro fictício, embora se saiba que muitos dos episódios ali relatados aconteceram mesmo, memórias vivas da experiência de Martz Inura nessa mesma guerra, e que aumentam sobremaneira a tensão da leitura. Não se sabe, até que ponto, este não será um livro auto-biográfico do autor. 

Todos estes atributos tornam "Viagem ao Fim do Império" uma jornada enriquecedora, sendo possível retirar dela interessantes ilações e, até, lições, a vários níveis, desse ainda período-tabu da história portuguesa. Contextualiza-o, dissecando-o sob várias dimensões humanas. Não terá o fulgor ou originalidade literária da obra anterior "Um Sonho Secular", o próprio autor reconhece que esta obra "pouco ou nada acrescenta à literatura portuguesa", mas contém o talento desta escrita fluída, cativante e sonoramente rica, imagens de marca de Martz Inura, e que lhe valeram, com esta obra, o prémio literário João da Silva Correia.

segunda-feira, maio 25, 2009

joao benard da costa Parece mais um lugar comum, mas João Bénard da Costa foi um exemplo, alguém que inspirou escrevendo o gosto pelo cinema. Morreu a semana passada, soube hoje.

“... um clima cada vez maior, que é a rejeição de um passado. Como a pessoa que, quando eu digo que vi um filme óptimo, me pergunta: «Mas onde está esse filme?», «Passou na Cinemateca. É um filme de 1940.», «Que horror, filmes antigos. É a preto e branco? Não vou ver.» Isso não acontece em nenhuma outra arte (…). Ninguém considera Bach muito antigo. Ou Dante, Homero. Porque é que no cinema se cria uma mentalidade desse género, ligado às modas: «Um filme com mais de cinco ou dez anos já não interessa, isso é do tempo da Maria Cachucha»? Isso é que é a aberração, não tenho nada contra o que se faz hoje, o bom que se continua a fazer."

domingo, maio 24, 2009

“A felicidade é uma pequena cidade”

clown A expressão, ou uma parecida com ela, conta-se que é da autoria de um insigne filósofo e leva-nos até à principal encruzilhada do homem moderno – a busca pela felicidade. A expressão é mais recente do que se julga, e, talvez tenha sido a última grande utopia criada pelo homem. Inventada após o fervor da Revolução Francesa, etimologicamente significa nivelar por baixo e, é por isso, um dos maiores engodos a que todos os homens se sujeitam pacificamente.

A felicidade não existe. Existem, isso sim, pequenas doses de fortuna, que num momento ou outro nos enchem a maneira. Essa maneira pequenina, ínfima e mesquinha, própria de seres minúsculos, como nós.

Felizes podem ser os coelhinhos e os passarinhos, pelo menos, até levarem um balázio de um senhor caçador, feliz depois por levar um cadáver como troféu para casa, feliz quando saí à rua para festejar uma vitória do Porto, feliz até bater na mulher, feliz ao comprar um Mercedes, feliz por passar o resto da vida a pagá-lo, feliz por se achar feliz, feliz apenas por parecer feliz.

Felizmente, a vida está muito dependente de nós próprios, principalmente para alguns infelizes felizardos, como nós, que ao contrário da generalidade das pessoas, têm nas mãos essa grande força propulsora da vida: a mudança, a única constante da vida.

sábado, maio 23, 2009

Na sequência do já referido em post de Março de 2008...


Cavácu Trek Chronicles

Um grande mentor e líder. Um país sedento da glória das Descobertas. Uma jornada épica rumo ao espaço alienígena, em busca de novas rotas comerciais…


Parte I – A irmandade do Cavácu

Episódio 1 – O primeiro irmão

Nos inícios do século XXI, Portugal inicia uma agonizante recessão económica que parece não ter fim! Múltiplas estratégias são realizadas para reverter o ciclo vicioso. Vende-se património do estado em leilões. Pede-se mais dinheiro à União Europeia. Fecham-se maternidades em capitais de distrito. Faz-se Magalhães e novas auto-estradas Lisboa-Porto. Mas, incrivelmente, nada parece resultar!

É neste estado depressivo crónico que o presidente da nação Portuguesa se recorda do período áureo nacional: “Oh, Descobrimentos… eeerh… eeerh… como era tão bom!” e lhe vem à mente uma ideia fenomenal: “Sim! Esta é a altura de Portugal se voltar a impor, abrindo novos mundos ao mundo! Os novos Descobrimentos! Parte 2! Sequela! Faremos uma nave espacial, tal qual uma nau do século XV, e navegaremos até à estrela mais próxima! (Ah essa é o Sol!... Pronto, a outra a seguir!) Brilhante!”

E desenvolvendo o projecto secretamente ao longo de meses, para o qual criou vários gabinetes e sub-secretariados com pessoal administrativo desmotivado e burocrático, boys, secretárias morenas loiras e ruivas, capangas e seguranças, desviando uma importante soma de fundos económicos nacionais (a tarefa mais fácil da missão), tinha finalmente chegado o momento decisivo de recrutar pessoal qualificado e de confiança para a viagem.

É nestes moldes que, em total descrição, o presidente vai pessoalmente deambular pelo país, procurando, em locais escolhidos a dedo, por todos nós aqueles que considera mais aptos para tão importante projecto para Portugal.

Estava a vaguear por uma praia da Costa da Caparica, quando se depara com o moçoilo Angélico de tanguinha, cativando o seu interesse.


Cavácu: Como está querido cidadão lusitano?
Vendo surgir do nada uma figura tão aperaltada, de traje tão desagradável e iniciando uma conversa tão inconveniente, Angélico expressou um semblante com parecenças à de um homem extremamente doente.
Angélico: Cá estamos…
E, sem mais rodeios, já tremendo em transe, Cavácu foi directo ao assunto.
Cavácu: Eu procuro jovens dinâmicos, empreendedores e inteligentes eeerh… eeerh… para um projecto sério para Portugal, que…
Angélico: Pois! Compreendo por que me procura! – Interrompeu briosamente – além do quê, projectos sérios é cá comigo - E, dito isto, virou-se, começando a meter creme solar na região glútea, aparentemente indiferente a este aparato que sabe lá ele de onde terá surgido – e prosseguiu, jocoso – você leva a questão da exposição solar muito a sério homem! Eh Eh! Que valente fatiota, hein? Guarde essa modorra para o Carnaval.
Cavácu: Você é de facto um jovem empreendedor. Asseguro-lhe que este é o projecto mais importante para Portugal em séculos!! Capaz de colocar o país de novo no topo, tal qual a prosperidade áurea do século XVI! – e descarregou estas palavras com esmero e comoção tais que, desencadeando um vigoroso acesso de tosse, um pedaço da expectoração repelente acabou por se pousar na viseira, para de lá já não sair mais.
Angélico: Pois, séculos, séculos… ah, pois sim é isso! Nasceu o Jesus Cristo em Belém! É aquela cena do antes Cristo e depois Cristo. É o que sei de séculos.
Cavácu: Não, foi a época gloriosa dos descobrimentos.
Angélico: Pois. Você por acaso não viu a Rita Pereira por aí?
Cavácu: Não. De qualquer modo, jovem Angélico… eeerh… eeerh… estava a pensar recrutar jovens com o perfil como o seu para este projecto ambicioso… eeerh… eeerh… rumo ao espaço sideral, à procura de novos contactos e oportunidades de negócio para Portugal… eeerh… eeerh… no fundo, novas rotas comerciais… eeerh… eeerh… fora do Sistema Solar, abrindo eeerh… eeerh… novos mundos ao mundo!
Angélico: Soa bem. Isso é onde, na Lua?
Cavácu: A Lua é, digamos, o cabo da boa esperança, o cabo das tormentas, onde gigantes ciclópicos sopram ventos ácidos e demolidores!! Onde só as perigosas ninfas sedutoras nos livrarão de grandes amarguras!!! – Novamente incendiou-se com uma nova crise de tosse, enchendo o vidro do globo espacial com múltiplas gotículas e outras repugnâncias inenarráveis.
Ao vrociferar a expressão "perigosas ninfas sedutoras" os olhos de Angélico brilhavam.
Angélico: Calma homem. Faça lá os seus “eeerh… eeerh…” e tenha modos. Fosga-se, que espectáculo horrível. Não se agite! Você está infectado ou quê?
Cavácu: Eeerh… eeerh…
Angélico: Pronto pronto, deixe lá isso… Olhe conte comigo, não sei bem para o que serve esta coisa que disse que se vai fazer, mas eu também como procuro a Rita Pereira... Aproveito a boleia e pode ser que a encontre para esses lados. Ah… certas noites olho o céu, suspiro para a lua cheia e penso em contos de fadas…
Cavácu: É assim que se fala jovem Angélico! Esteja alerta… eeerh… eeerh… quando for caso disso será abordado… eeerh.. eeerh… Evite falar disto com outras pessoas… É um projecto ultra-secreto, do género daqueles que se fazem em teses de mestrado universitárias… eeerh… eeerh…
Angélico: Pois.
Cavácu: Olhe, é mais ou menos isto que se pretende.
E entregou-lhe a foto de uma nave espacial com a insígnia "Cavácu Trek" e ostentando a bandeira portuguesa, a contornar uma estrela. Dois minutos após, a foto autodestruiu-se numa labareda tóxica.
Angélico: Pois.

E, posto isto, sem mais demoras (pois a vida de um homem é curta para um sonho tão edificante) Cavácu prosseguiu em busca de mais ilustres individualidades com apetências inatas para esta muy nobre causa. “Ah, como o brioso Infante D. Henrique se haveria de orgulhar desta aventura”, pensou Cavácu, olhando, já de noite, o negrume do céu preenchido de trémulas e inquietas estrelas, que imaginava serem fonte de inúmeras civilizações e milhares de novos produtos a preços mais acessíveis que Portugal iria novamente aproveitar antes de todos os outros (para depois, como bem sabemos, viver faustinamente durante meia dúzia de anos e se enterrar de novo no fosso). E, envolto por estes pensamentos idílicos, adormeceu, ansioso por conhecer um novo jovem empreendedor, dinâmico e inteligente para representar Portugal pelo Universo fora...

sexta-feira, maio 22, 2009

bann2
Animal Collective ::: Merriweather Post Pavilion
Género: Rock / Electrónica

A capa do álbum é uma ilusão óptica criada pelo psicólogo japonês Akiyoshi Kitaoka

O primeiro candidato a melhor álbum de 2009 saiu em Janeiro e é o 8º trabalho dos Animal Collective, os senhores da música electrónica experimental. Considerado pela banda como o seu melhor álbum, este efectivamente tem vindo a ser unanimemente aplaudido pela crítica.

A banda explora muito bem (cada vez melhor) a dicotomia electrónica / vocalizações harmónicas pop, cada vez mais trabalhadas e reminescentes dos Beach Boys. As melodias são todas elas, sem excepção, bastante bem conseguidas, especialmente os refrões, traduzindo o talento nato songwriter de Noah Lennox (o ilustre Panda Bear que a nossa estilista Fernanda Pereira roubou de Nova Iorque...). Nota-se de resto muitas similaridades entre este trabalho e o último a solo de Lennox (Parson Pitch, já revisto neste blog). A banda, ao fim destes anos, continua bastante inspirada na parte electrónica, conseguindo interessantes padrões que servem de base para as bonitas melodias e cascatas vocais. Daily Routine, por exemplo, utiliza um interessante rendilhado de órgão estridente, e My Girls uma atmosfera bizarra surgida de milhares de pontuações parecendo vir de todas as direcções. São dois dos melhores exemplos do tipo de música que é apelidada como o "som do futuro". As líricas estão também bem conseguidas, simples e cativantes, com um certo ar poético por vezes.
 
Neste ano para já bastante desinteressante em termos musicais, os Animal Collective estão vivos e recomendam-se como criadores de uma arte facilmente compreensível por todos. 

7,5/10 (muito bom, original no género)

segunda-feira, maio 18, 2009

Notáveis 7ª arte

The Curious Case of Benjamin Button de David Fincher (2008)

Género: Drama / Fantasia

O som do tabaco a arder, o silêncio da noite e eu. O fumo envolve-me, teias de névoa deslizando pela suave brisa. E ponho-me em considerações como a vida é de facto bela, como sou afortunado, como tudo e todos à minha volta parecem finalmente tomar o seu rumo na felicidade idealizada. Como somos jovens, e como tudo existe à nossa frente. E mesmo que tudo corra mal, podemos recomeçar tudo de novo. E reinventar. E outra vez. Tudo é possível! O mundo aí está, cheio de infindáveis oportunidades, cidadãos do mundo! E porém, tudo acaba. Nada é eterno, penso. O que realmente importa, neste curto fôlego de vida, é a forma como a celebramos, como tiramos inteiro proveito dela. Ao ritmo das inspirações e expirações profundas sinto-me leve, quase despegado do mundo. 

E se nascessemos velhos e morressemos novos? Que diferenças implicaria na nossa visão da vida? É este axioma que O Caso Curioso de Benjamim Button utiliza, inspirando-se na pequena história com o mesmo nome de 1921 de Scott Fitzgerald. Benjamin nasce velho, na apoteose da noite do final da 1ª Guerra Mundial, surgido do romantismo idílico de um homem que, na esperança de ver de volta o filho roubado pela guerra, constrói um relógio com o movimento ao contrário. 

A vida de Benjamin é contada de início ao fim, lida do seu diário, e já no leito de morte de Daisy, a fiel conhecedora do seu segredo. Precocemente conhece-a, ambos nos extremos opostos da aparência, apesar da mesma idade. Logo desenvolvem um afecto mútuo que os marcará para toda a vida. Muitos mais personagens Benjamin vai encontrando na sua interessante vida. Gente que nasce, muita gente que morre, sobretudo muita gente esquisita... Todos, no entanto, sequentos de viver e rejubilando pela vida, mas transtornados por um ou outro motivo, nunca completando por completo o ciclo da felicidade. Benjamin passa por todos, retendo a sua impressão e aprendendo algo com cada um deles, desde o prazer, o amor, à amizade... É interessante observar o quão mais adulto, ponderado e reflexivo Benjamin se torna à medida que rejuvenesce. E de quando em vez a sua vida intercruza-se com a de Daisy, várias, muitas vezes, até ao ponto em que as suas vidas se atingem no momento em que aparentam a mesma idade... E nada será como dantes. Mas tudo acaba, nada é eterno. Ambos bem sabem.

O argumento do filme não desilude, está cheio de diálogos e citações marcantes, bem como as interpretações, ou não estivessemos a falar de dois actores consagrados. Os efeitos especiais surpreendem, vemos Brad Pitt passar de 90 para 15 anos com uma naturalidade fora do comum. A cinematografia também tem uma palavra a dizer, com utilização de interessantes efeitos sepia/animados em flashbacks.

Ao viver a vida de forma oposta ao comum, Benjamin aproveita-a o melhor que soube, vagueando pelo mundo saborando cada forma de vida, cada momento (até em plena 2ª Guerra Mundial), cada cultura, e em cada impressão sua é possível retirar interessantes ilações sobre a a forma como atingimos uma felicidade (sempre passageira) de diferentíssimas formas, e como geralmente desperdiçamos a vida na falsa segurança das rotinas. E, como tudo o que um dia é belo e cheio de força e energia, acaba por sucumbir ao efeito inexorável e demolidor do tempo. Daisy foi um dos poucos eixos, senão mesmo o único, que permaneceu do início ao fim da sua vida, e por isso mesmo o motivo maior da mágoa da sua existência.

Este é um daqueles filmes que, pelo conteúdo, mensagem ou teor, nos deixam uma impressão bonita e uma mensagem edificante, passível de ser interpretada de variadas formas. A meu ver, tem mais valor em relação a filmes como Quem Quer Ser Bilionário, também um bom filme, poderia ser um óptimo filme, mas cujo final fechado e obsoleto é completamente desapontante, ao alcance de qualquer telenovela do meio da tarde da TVI... Este é, sem dúvida, o melhor dos dois filmes, e deveria, a meu ver, ter ganho.

sábado, maio 16, 2009

Porcupine Tree regressam em 2009 a Portugal com novo álbum



Depois dos magníficos concertos de 2008, os incaracterizáveis Porcupine Tree preparam-se para regressar em Novembro ao nosso país, na tour de promoção ao novo álbum (ainda sem nome), a sair em Setembro. Segundo o pouco que se pode obter de Steven Wilson, o novo álbum poderá surpreender ao conter uma e apenas uma música de 55 minutos. "Poderá ser o maior erro de sempre, ou pelo contrário poderá ser um grande passo. Nada está ainda definido, vamos ver", adianta Wilson, que expressa assim a sua visão de como a música deve ser ouvida - como um todo, de início ao fim do álbum. "Penso que este é o momento ideal para se fazer uma coisa deste género. As pessoas começam a ficar saturadas dos hits de 3 minutos que aparecem e desaparecem de um momento para o outro, parece haver um movimento no sentido contrário". Este será o 13º álbum de originais da banda rock britânica.

Dois grandes concertos se avizinham, nos mesmos locais do ano passado.

20 de Novembro 2009 - Incrível Almadense (Almada)
21 de Novembro 2009 - Teatro Sá da Bandeira (Porto)


Baby leva-me o Magalhães!

Make the Girl Dance – Baby baby baby

quarta-feira, maio 13, 2009

Ler, mais que ver 389x152

Os Crimes da Rua Morgue (1841); O Mistério de Marie Rogêt (1842);

A Carta Roubada (1844), de Edgar Allan Poe

Os Crimes da rua morgue e outras historias

O nome de Edgar Allan Poe (1809 –1849), só não é sinónimo de engenho por má vontade de estilo, pela compreensível ignorância do restrito saber individual, e, porque a palavra engenho apareceu muito antes do conjunto das três primeiras identificarem o norte-americano responsável, não por um estilo, mas vários, transversais a dois séculos de literatura e a milhares de anos de existência de usança humana.

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Como todos nós, Poe experimentou o sentimento de perda, mas, ao contrário da maioria de nós, essa sensibilidade levou-o à aptidão pela ruína. O jogo e o álcool acabou por levá-lo num delírio que lhe consumiu a mente. Após a morte da mulher, o delírio sobejou-se à vida, morrendo em 1849, em loucura. O imaginário da sua obra poética é envolta pelo místico e pela procura da beleza – o único objectivo digno de esforço de um poeta, como defendia. Esta estética foi incompreendida pelos seus contemporâneos, mas acabou por ter, mais tarde, um grande eco na poesia francesa (Baudelaire, Mallarmé) e no nosso Fernando Pessoa. Como prosador criou uma série de contos de mistério e horror. Os três contos do título enquadram-se num outro grupo. Introduziram um novo género à literatura mundial: os policiais, ou as depois chamadas - histórias de detectives (até aí a palavra detective não existia). Os Crimes da Rua Morgue é a primeira obra policial conhecida, baseada num estilo literário assente na lógica rigorosa e na dedução intelectual.

Na altura em que Poe escreve os seus contos policiais, a violência e o crime urbano espalhavam-se por toda a América, e aumentavam de uma forma que as próprias forças policias sentiam-se impotentes para o travar e compreender. Os periódicos da altura, faziam sucesso a reportar e descrever os crimes de sangue durante semanas e meses, sem pejo de dar voz a todo o tipo de opinadores. Poe acabou por beber muita da sua influência neste tipo de relatos, com os quais se divertiu a desconstruir e a subverter as suas teorias, tanto pela lógica, aparentemente imediata e à distância de todos, apesar de encoberta por sofismas, como pela análise de detalhes físicos, à partida mal interpretados pelos investigadores e, pela sua própria e insofismável interpretação, do comportamento humano.

“… as coincidências constituem barreiras intransponíveis no caminho dos pensadores que foram educados para ignorar a teoria das probabilidades, à qual os objectivos mais gloriosos da investigação humana são devedores da sua não menos gloriosa descoberta.”

Monsieur C. Auguste Dupin é o cavalheiro (o tal primeiro detective por acaso, que nada tem a ver com as forças policiais), presente nos três contos, dono de uma peculiar perspicácia e de uma capacidade analítica fora do vulgar. São estas virtudes, na realidade, as de Poe, que o levam a desconstruir as charadas que se apresentam nos três contos, aparentemente, três crimes inexplicáveis. A partir daqui começa uma das reflexões de Poe – exteriores aos casos - sobre os assuntos fora dos limites das simples regras, nos quais a perícia do analista se revela em todo o seu fulgor, o que o distingue dos usuais investigadores policiais, muito agarrados ao método e com uma intervenção excessivamente processual. Porque nem sempre só no pormenor está a verdade, e, porque dois motivos, cada um com um dado valor, não têm, necessariamente, um valor, quando unidos, igual à soma das suas componentes isoladas. Daqui surge uma das conclusões finais do Crime da Rua Morgue: a sabedoria da maioria dos homens reconhecidamente inteligentes, não tem alicerces. Está toda na cabeça e não tem corpo, sendo demasiados astuciosos para serem profundos, o que leva à inevitável propensão humana para nier ce qui est et d’expliquer ce qui n’est pas (negar o que existe e explicar o que não existe).

Edgar Allan Poe's Illustrated Bio.

No Crime da Rua Morgue, duas mulheres, mãe e filha, são encontradas mortas em casa. Os vizinhos ouvindo uma sucessão de gritos horríveis ocorrem ao prédio e enquanto arrombam a porta da frente e sobem as escadas para atingir o quarto andar do apartamento das vítimas, ouvem duas vozes, alegadamente, dos assassinos - uma voz aguda que nenhuma das testemunhas unanimemente conseguiram identificar o dialecto e outra rouca, de um francês. O cenário com que se depararam, já mergulhado num silêncio sepulcral e trancado por dentro, era o que mais próximo se pode imaginar do inferno – na sala encontrava-se o corpo da filha preso de cabeça para baixo, na chaminé da lareira, duas ou três longas espessas madeixas de cabelos grisalhos, empapados no chão, em sangue ao lado de uma navalha de barba. No pátio das traseiras, jazia o cadáver da mãe, degolada de forma tão perfeita que a cabeça se separara do tronco. Dupin entra em cena depois de ler os relatos dos vários periódicos e da polícia acusar um indivíduo que Dupin acredita enfaticamente que é inocente.

mystery_of_marie_rogetNo Mistério de Marie Rogêt, baseado num assassínio de uma jovem, Mary Cecilia Rogers, assassinada nas proximidades de Nova Iorque, desaparecida durante vários dias e depois encontrada morta no rio, segue uma linha paralela entre a ficção e a realidade que, apesar de Poe desenvolver o seu texto e conclusões longe do teatro da atrocidade, recorrendo apenas aos meios de investigação que os jornais forneciam, muito depois da publicação, a maioria dos pormenores principais e a conclusão geral acabaram por se vir a confirmar. A isto não é indiferente o cuidado com o rigor da análise científica levada a cabo por Poe, como disso é exemplo a sua justificação do cadáver apenas ter feito a sua aparição à superfície uma semana depois, desfazendo teorias avançadas pela imprensa sensacionalista, mais preocupada em estabelecer um ponto de vista, do que defender a causa da verdade.

O último conto, “A Carta Roubada”, o único crime que não é de sangue, um ladrão, o ministro D…, apodera-se de um manuscrito de uma personagem da mais alta hierarquia política, à sua frente, sem que esta pudesse fazer o que fosse, o que faculta ao seu detentor um ascendente sobre a ilustre personagem cuja idoneidade e paz de espírito perigam seriamente. Neste caso, é o próprio inspector da polícia que procura Dupin, depois do sucesso das suas excêntricas investigações nos casos anteriores. Com a garantia de já ter movido todas as diligências, oficiosas e não oficiosas, de revista e estudo de toda a vida e todos os cantos onde o ministro D… pudesse ter guardado a carta furtada, sem sucesso de a encontrar, só Dupin parece ser capaz de a rever, da forma mais simples e depreendida que a complexidade do comum deixa olvidar.

Estes três contos são mais alguns pedaços da grande influência de Poe, o inventivo, o verdadeiro criador, tão humano como qualquer um de nós, mas pelo esmero da feitura singularmente habilidosa, mais perto da divindade do que muitos ícones orados. O homem agradece, a arte agradece.

sábado, maio 09, 2009

A Senhora Nathalie Lorichs!

O último post talvez tenha sido longo demais, o sumo da matéria assim o incutia, e a minha exaltação, por vezes, demora a acalmar-se. Hoje o assunto é bem mais leviano e breve – dois vídeos de recentes actuações de Opeth a promover o último álbum, Watershed. O primeiro apresenta a primeira incursão do nosso caro Akerfeldt em composições com uma voz feminina. É suavezinho, rejuvenescedor, já visto e agradável às mentes mais melindrosas de tímpano, não deixa de ser uma bela música, mas a segunda, Lotus Eater, é qualquer coisa; qualquer coisa que torna esta banda tão especial, não obstante as sensibilidades musicais de cada um.

Coil:

 

Lotus Eater:

segunda-feira, maio 04, 2009

“Il banchieri”

Massys, Quentin - 1514 The Moneylender and his Wife (Louvre)The Moneylender and his Wife de Massys, Quentin  (1514)

Dinheiro e poder sempre andaram de mãos dadas, hoje como no século XIV, dinheiro é poder, e poder é influência. Nos momentos de crise, como este, facilmente se identificam os culpados. São sem dúvida aqueles que enriqueceram, proporcionando conforto, sonhos e riquezas àqueles que tudo querem ter, sem para isso o poderem. Mas serão eles os únicos culpados? Claro que não. Serão os principais? Eu acho que não.

Se o neoliberalismo era visto como uma virtude acima de todas as discussões pelos governos mundiais, hoje, esses mesmos governos, admitem o erro de deixar um mercado especulativo entregue ao seu próprio destino. Mas que receios podiam ter, se foi esse mesmo sistema capitalista que criou os paradigmas civilizacionais, em que nos habituamos a viver? Todos. Soubessem os senhores governantes mais de história, tivessem menos interesses e fossem menos servis a quem tem mais dinheiro na mão, numa determinada altura, e, saberiam que quem por norma faz do dinheiro um negócio, está mais próximo genealogicamente dos mercenários da Idade Média, do que dos missionários da boa vontade. Para virtuosismos celestiais, já grupos de indivíduos válidos fecham-se em ascese, Deus criou “O África” e Dom Nuno Álvares Pereira salva velhinhas de óleos de fritar peixe. 

Convém não esquecer que o objectivo dos bancos é  ganhar dinheiro com o dinheiro dos outros, o que é perfeitamente aceitável, quando proporcionam oportunidades equilibradas aos seus clientes, que de outra forma não podiam criar o seu próprio valor. O problema é quando o negócio passa pela especulação financeira, se esquecem os mínimos valores morais, se faz do logro um instrumento, e alimenta-se a ganância à custa do desprezo social. O exemplo de John Law parece distante aos decisores políticos, quando permitem que alguns continuem a fazer do mundo o seu casino pessoal. Mas, nem sempre foi assim; antes de existir os bancos como os conhecemos hoje, antes de existir o mercado financeiro que a maioria de nós, inclusive eu, de pouco percebe - existiam os judeus.

Portrait of Two Figures from the Old Testament (The Jewish Bride), 1667 The Jewish Bride (1667) de Rembrandt Harmensz

Essa raça de homens, odiada por tantos, perseguida por muitos, rufias comensais da Palestina, sempre tiveram a fama da habilidade para o dinheiro e os negócios. Essa fama, não é de todo injusta. Foram os primeiros a experimentar a usura - o pecado esquecido -, nas suas bancas em Veneza. Foram os primeiros, mas não foram os únicos, nenhum deles, no entanto, como a família Medici.

Nenhuma outra família deixou tantas marcas numa época, como a família Medici durante a Renascença. Bastaria dizer, que dela saíram quatro papas (Leão X, Clemente VII, Pio IV e Leão XI), duas rainhas de França (Catarina e Maria), quatro duques (de Florença, Nemours, Urbino e da Toscânia). Deixaram um legado na arte e na ciência ímpar, senhores de Florença, são os responsáveis pelo esplendoroso legado arquitectónico da cidade (Villa Cafaggiolo, Convento di San Marco, Basílica de San Lorenzo, Palácio Vecchio, Galeria Uffizi, etc…), patronos de Michelangelo, Botticelli e Galileu.

Toda esta abundância e poder não apareceram do nada. Giovanni de Medici fundou  o primeiro grande banco - até aí os banqueiros não eram mais do que gangster, fazendo-se valer da violência para garantir os capitais do empréstimo. O facto destas estruturas serem monolíticas, tornava o negócio muito susceptível à ruína, sendo facilmente derrubados por um devedor. O sucesso dos Medici, a longo prazo, foi as suas múltiplas parcerias e filiais, remunerando os parceiros com a partilha dos proveitos, agindo como entidades independentes, sob alçada do banco central dos Medici. Mas a principal particularidade do sucesso dos Medici foi a criação de facturas de transacções (Cambium per Litteras), um sistema de registo metódico e cuidado (libro secreto), onde se registava de um lado os depósitos e reservas , e do outro os empréstimos e as facturas comerciais de cada cliente –  o primeiro grande registo de balanços conhecido. A diversificação dos seus empréstimos, diluiu os riscos, garantindo-lhes o sucesso e a fortuna; o negócio do câmbio, a absolvição do seu pecaminoso negócio; a agilização permitida aos seus clientes nas transacções, Portrait of a Man Holding a Medal of Cosimo de Mediciúnica – se um negociante que devesse a outro uma determinada soma que não pudesse pagar em dinheiro até ao final da transacção, o credor passava uma factura ao devedor, que a podia usar como meio de pagamento ou, para obter dinheiro em forma de desconto no banco, agindo o banqueiro como intermediário do negócio. Esta diversidade de empréstimos, e a proximidade com os clientes, levou à redução dos custos para os clientes e a proliferação do negócio.  Em 1402, com um capital de 20,000 florins e mais de 70 parceiros na folha de pagamento, fez um proveito de 151,820 florins, entre 1397 e 1420 – 6,326 florins por ano, uma taxa de retorno de 32%. É difícil imaginar um negócio mais rentável.

O poder foi crescendo e, após a morte do patriarca Giovanni de Medici, o seu filho Cosimo de Medici, ficou ao leme dos negócios, com a tarefa de manter a argúcia financeira da família. Cosimo, era já o homem mais poderoso daquela região, o soberano em todos os sentidos, menos no nome, com uma reputação como nenhum outro cidadão teve, desde a queda do Império Romano, até aos nossos dias. A adulação dos banqueiros foi feita como nunca antes imaginada. O último quadro em cima, de Botticelli, mostra um jovem bem parecido com uma moeda na mão, a face na moeda é de Cosimo de Medici, com a inscrição “pater patriae”, pai deste país. Outro exemplo, é o fresco “The Adoration of the Magi”, do mesmo Botticelli, que capta a transfiguração na finança que os Medici levaram a cabo, elevados à divindade. Num olhar atento, identificam-se grande parte das personagens como alguns membros da família Medici – por exemplo, a lavar os pés do Jesus, Cosimo o velho e de roupão azul à esquerda, Lourenço o Magnífico.

The Adoration of the Magi Botticelli   The Adoration of the Magi (1478/1482) de Botticelli

Foi já sob a liderança de Lourenço o Magnífico, que as conspirações contra a família, super-rica e de crescente poder, tiveram o seu maior eco. Lourenço, neto de Cosimo, mais preocupado com a política e a diplomacia, negligenciou o negócio, possibilitando que as suas muitas filiais, menos supervisionadas, ganhassem mais poder e cometessem negócios ruinosos, como o empréstimo da sucursal de Londres ao Rei Eduardo IV, nunca totalmente pago.

Apesar disso, a queda dos Medici acabou por se dever unicamente a circunstâncias que rodearam o próprio negócio. Em 1494, no meio das disputas cada vez mais acesas entre as diferentes regiões italianas, e com a invasão francesa, a família, apelidada de pagã e imoral por Savonarola, foi expulsa e a sua propriedade confiscada e muita dela liquidada. Só mais tarde, a sua importância e mecenato foram reconhecidos, consagrando Cosmo I de Medici, como Duque de Florença e Grão-Duque da Toscânia, por aclamação.

A ascensão do negócio da família Medici constitui um exemplo da génese e do funcionamento das actividades bancárias. O seu projecto criou as estratégias de um negócio que deixava de ter como principal instrumento a matéria-prima, o ouro, a moeda, para criar o valor em papel, e, após a sua derrocada, o seu exemplo foi seguido por muitos bancos do norte da Europa, com tanto ou mais sucesso para as suas gentes, comércio, artes e ciências, acabou por ser, a última alavanca civilizacional para o desenvolvimento humano, porque nem toda a riqueza é necessariamente má, principalmente, quando é distribuída.

GalileuLuneta  Telescópio construído por Galileu, protegido da família Medici. 

*Factos como este podem ser encontrados na série documental, The Ascent of Money, de Niall Fergunson, um relato da história da ascensão do sistema financeiro e, como a história da finança se repete de forma previsível.

sábado, maio 02, 2009

Dia Mau

one Nos finais da década de 90 existiu uma banda que marcou uma geração. Surpreendentemente, passada uma década, continua a deixar deliciados todos aqueles que a ouvem. Chamavam-se Ornatos Violeta. Acabaram no segundo e último álbum de originais - O Monstro Precisa de Amigos; a terceira faixa reza assim:

Não quis guardá-lo para mim
E com a dimensão da dor
Legitimar o fim
Eu dei
Mas foi para mostrar
Não havendo amor de volta
Nada impede a fonte de secar
Mas tanto pior
E quem sou eu para te ensinar agora
A ver o lado claro de um dia mau


Eu sei
A tua vida foi
Marcada pela dor de não saber aonde dói
Mas vê bem
Não houve à luz do dia
Quem não tenha provado
O travo amargo da melancolia
E então rapaz então porquê a raiva
Se a culpa não é minha
Serão efeitos secundários da poesia


Mas para quê gastar o meu tempo
A ver se aperto a tua mão
Eu tenho andado a pensar em nós
Já que os teus pés não descolam do chão
Dizes que eu dou só por gostar
Pois vou dar-te a provar
O travo amargo da solidão


É só mais um dia mau