Cavácu Trek Chronicles
Um grande mentor e líder. Um país sedento da glória das Descobertas. Uma jornada épica rumo ao espaço alienígena, em busca de novas rotas comerciais…
Parte I – A irmandade do Cavácu
Episódio 1 – O primeiro irmão
Nos inícios do século XXI, Portugal inicia uma agonizante recessão económica que parece não ter fim! Múltiplas estratégias são realizadas para reverter o ciclo vicioso. Vende-se património do estado em leilões. Pede-se mais dinheiro à União Europeia. Fecham-se maternidades em capitais de distrito. Faz-se Magalhães e novas auto-estradas Lisboa-Porto. Mas, incrivelmente, nada parece resultar!
É neste estado depressivo crónico que o presidente da nação Portuguesa se recorda do período áureo nacional: “Oh, Descobrimentos… eeerh… eeerh… como era tão bom!” e lhe vem à mente uma ideia fenomenal: “Sim! Esta é a altura de Portugal se voltar a impor, abrindo novos mundos ao mundo! Os novos Descobrimentos! Parte 2! Sequela! Faremos uma nave espacial, tal qual uma nau do século XV, e navegaremos até à estrela mais próxima! (Ah essa é o Sol!... Pronto, a outra a seguir!) Brilhante!”
E desenvolvendo o projecto secretamente ao longo de meses, para o qual criou vários gabinetes e sub-secretariados com pessoal administrativo desmotivado e burocrático, boys, secretárias morenas loiras e ruivas, capangas e seguranças, desviando uma importante soma de fundos económicos nacionais (a tarefa mais fácil da missão), tinha finalmente chegado o momento decisivo de recrutar pessoal qualificado e de confiança para a viagem.
É nestes moldes que, em total descrição, o presidente vai pessoalmente deambular pelo país, procurando, em locais escolhidos a dedo, por todos nós aqueles que considera mais aptos para tão importante projecto para Portugal.
Estava a vaguear por uma praia da Costa da Caparica, quando se depara com o moçoilo Angélico de tanguinha, cativando o seu interesse.
Cavácu: Como está querido cidadão lusitano?
Vendo surgir do nada uma figura tão aperaltada, de traje tão desagradável e iniciando uma conversa tão inconveniente, Angélico expressou um semblante com parecenças à de um homem extremamente doente.
Angélico: Cá estamos…
E, sem mais rodeios, já tremendo em transe, Cavácu foi directo ao assunto.
Cavácu: Eu procuro jovens dinâmicos, empreendedores e inteligentes eeerh… eeerh… para um projecto sério para Portugal, que…
Angélico: Pois! Compreendo por que me procura! – Interrompeu briosamente – além do quê, projectos sérios é cá comigo - E, dito isto, virou-se, começando a meter creme solar na região glútea, aparentemente indiferente a este aparato que sabe lá ele de onde terá surgido – e prosseguiu, jocoso – você leva a questão da exposição solar muito a sério homem! Eh Eh! Que valente fatiota, hein? Guarde essa modorra para o Carnaval.
Cavácu: Você é de facto um jovem empreendedor. Asseguro-lhe que este é o projecto mais importante para Portugal em séculos!! Capaz de colocar o país de novo no topo, tal qual a prosperidade áurea do século XVI! – e descarregou estas palavras com esmero e comoção tais que, desencadeando um vigoroso acesso de tosse, um pedaço da expectoração repelente acabou por se pousar na viseira, para de lá já não sair mais.
Angélico: Pois, séculos, séculos… ah, pois sim é isso! Nasceu o Jesus Cristo em Belém! É aquela cena do antes Cristo e depois Cristo. É o que sei de séculos.
Cavácu: Não, foi a época gloriosa dos descobrimentos.
Angélico: Pois. Você por acaso não viu a Rita Pereira por aí?
Cavácu: Não. De qualquer modo, jovem Angélico… eeerh… eeerh… estava a pensar recrutar jovens com o perfil como o seu para este projecto ambicioso… eeerh… eeerh… rumo ao espaço sideral, à procura de novos contactos e oportunidades de negócio para Portugal… eeerh… eeerh… no fundo, novas rotas comerciais… eeerh… eeerh… fora do Sistema Solar, abrindo eeerh… eeerh… novos mundos ao mundo!
Angélico: Soa bem. Isso é onde, na Lua?
Cavácu: A Lua é, digamos, o cabo da boa esperança, o cabo das tormentas, onde gigantes ciclópicos sopram ventos ácidos e demolidores!! Onde só as perigosas ninfas sedutoras nos livrarão de grandes amarguras!!! – Novamente incendiou-se com uma nova crise de tosse, enchendo o vidro do globo espacial com múltiplas gotículas e outras repugnâncias inenarráveis.
Ao vrociferar a expressão "perigosas ninfas sedutoras" os olhos de Angélico brilhavam.
Angélico: Calma homem. Faça lá os seus “eeerh… eeerh…” e tenha modos. Fosga-se, que espectáculo horrível. Não se agite! Você está infectado ou quê?
Cavácu: Eeerh… eeerh…
Angélico: Pronto pronto, deixe lá isso… Olhe conte comigo, não sei bem para o que serve esta coisa que disse que se vai fazer, mas eu também como procuro a Rita Pereira... Aproveito a boleia e pode ser que a encontre para esses lados. Ah… certas noites olho o céu, suspiro para a lua cheia e penso em contos de fadas…
Cavácu: É assim que se fala jovem Angélico! Esteja alerta… eeerh… eeerh… quando for caso disso será abordado… eeerh.. eeerh… Evite falar disto com outras pessoas… É um projecto ultra-secreto, do género daqueles que se fazem em teses de mestrado universitárias… eeerh… eeerh…
Angélico: Pois.
Cavácu: Olhe, é mais ou menos isto que se pretende.
E entregou-lhe a foto de uma nave espacial com a insígnia "Cavácu Trek" e ostentando a bandeira portuguesa, a contornar uma estrela. Dois minutos após, a foto autodestruiu-se numa labareda tóxica.
Angélico: Pois.
E, posto isto, sem mais demoras (pois a vida de um homem é curta para um sonho tão edificante) Cavácu prosseguiu em busca de mais ilustres individualidades com apetências inatas para esta muy nobre causa. “Ah, como o brioso Infante D. Henrique se haveria de orgulhar desta aventura”, pensou Cavácu, olhando, já de noite, o negrume do céu preenchido de trémulas e inquietas estrelas, que imaginava serem fonte de inúmeras civilizações e milhares de novos produtos a preços mais acessíveis que Portugal iria novamente aproveitar antes de todos os outros (para depois, como bem sabemos, viver faustinamente durante meia dúzia de anos e se enterrar de novo no fosso). E, envolto por estes pensamentos idílicos, adormeceu, ansioso por conhecer um novo jovem empreendedor, dinâmico e inteligente para representar Portugal pelo Universo fora...
2 comentários:
LOLOL Cavácu o nosso novo D. João II, com mais seguranças e menos sal, o visionário de uma aventura épica de contornos imprevisíveis. O sucesso está ao alcance dos destemidos e com a nata da nossa juventude, como disso é o exemplo do querido e oleoso Angélico, responsável por tantas apoplexias em moçoilas entre 13 e 16 anos, estaremos, certamente, preparados para enfrentar qualquer ninfa ou espécie alienígena mais sensível ao seu estrogénio.
P.S: Já reparam que o Angélico consegue parecer ao mesmo tempo o Rambo desarmado e um qualquer Tarzan da Disney? Lol Não sei se isto também é relevante, para a expedição, mas que é fófinho é.
LOL Que riqueza =P
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