terça-feira, janeiro 13, 2009


Quem já não ouviu falar das Aventuras de Tintin?



Hérge, seu pseudónimo, é na verdade George Remi que fez nascer em 1929 uma das mais célebres bandas desenhadas até então.
Tintin, herói de filmes, banda desenhas e séries de animação, acompanhou a minha infância e a imaginação de muitos até aos mais recentes dias. Sempre acompanhado do seu fiel amigo, fox terrier, Milú, encontra-se hoje um pouco descartado das aventuras de BD dos mais novos. Talvez pelo facto da oferta ser cada vez maior, juntando o facto da evolução contínua das novas tecnologias.
O que é certo é que Tintin fez recentemente 80 anos de histórias, futuristas para a época em que foi criado, impulsionando o humor, a sátira, os comentários sociais em torno de uma sociedade moderna.


Aventuras de Tintin seguiram a par e passo o “avanço da ciência”...

7 comentários:

O Shihan disse...

Ler Tintin é acompanhar a história do século XX. Eu, puto idiota, nunca dei grande importância a Tintin - só li dois livros -, sempre gostei mais das histórias dos irredutíveis gauleses, ou do cowboy mais rápido do que a própria sombra, mas parece claro que as aventuras de Tintin são mais do que simples histórias animadas de entretenimento, são as histórias da humanidade no último século com todas as suas dúvidas.

Anónimo disse...

O Tintin era também um tipo esperto.

:)

Anónimo disse...

Tintin...indeed

O Shihan disse...

Encontrei um pequeno revisitar do acompanhamento e antecipação de muitos progressos científicos do século passado por Hérge transpostos nas aventuras de Tintin:

«Tintin em África» (1931) é o primeiro álbum de Hergé a obter um sucesso alargado. Aí aparecem várias invenções na altura ainda pouco difundidas, como a câmara de filmar portátil e uma espécie de cinema falado apoiado num fonógrafo — o primeiro filme sonoro tinha aparecido quatro anos antes. Pouco depois, na «Ilha Negra», de 1938, Tintin descobre um aparelho de televisão numa ilha da Escócia — Londres tinha iniciado as primeiras emissões apenas dois anos antes e, para a maioria dos leitores da época, tratava-se de um aparelho desconhecido. Mais tarde, no «Tesouro de Rackam o Terrível» de 1944, aparece um submarino portátil, veículo desconhecido na época, apesar de se terem inventado submarinos há muitos anos e de eles estarem muito difundidos por altura da Grande Guerra. Auguste Picard, o inventor que inspirou a personagem de Tournesol, construiria o primeiro Batiscafo apenas em 1948. Mas a grande exploração da ciência e tecnologia seria feita nos álbuns da viagem de Tintin à Lua, de 1953 e 1954. O Radar que segue a viagem está magnificamente desenhado — a invenção data de 1935. E o reactor nuclear é de um grande realismo. É muito maior que o primeiro a ser construído, que entrou em funcionamento nos Estados Unidos em 1942, e é parecido com o construído na Bélgica, em Mol, por altura da concepção das aventuras de Tintin, mas que só entraria em funcionamento uns anos mais tarde, em 1956. Poucos anos depois, no álbum «Tintin no Tibete» de 1960, o capitão Haddock defronta-se com um transístor, uma invenção de 1948, mas que só nos fins dos anos 50 e princípios dos 60 começaria a ser comercializada em pequenos receptores.

Na Lua

A viagem de Tintin à Lua é um dos grandes feitos de Hergé. Hergé aconselhou-se junto de vários cientistas, entre os quais o professor Alexandre Ananoff, autor de uma conhecida obra de astronáutica editada em francês pela Fayard. Ao contrário das verdadeiras viagens tripuladas à Lua, que se realizariam 15 anos depois, o foguetão de Tournesol é movido a energia nuclear, pelo que tinha uma reserva energética imensa, que lhe dava a possibilidade de pousar sobre o nosso satélite e de vencer depois a atracção lunar. Como se sabe, apenas o módulo lunar americano pousou sobre a Lua, enquanto a nave principal se mantinha em órbita para aproveitar o combustível. O foguetão de Tintin é inspirado no V-2 alemão de von Braun. Entre outros pormenores realistas relatados na viagem, destaca-se a ausência de peso sentida pelos astronautas quando o motor pára, assim como o desenho do asteróide Adonis. De notar que, na altura, nunca se tinha visualizado um asteróide. Pelas imagens hoje conhecidas vê-se que o desenho é bastante realista. Menos realista é a ausência de movimento relativo entre o foguete e o asteróide. Enquanto este se mantém numa órbita que cruza a da Terra, a inércia do movimento da nave deveria afastá-la do asteróide.

Os sábios

Os sábios de Tintin correspondem a uma visão romântica dos homens de ciência. Tournesol não trabalha em nenhuma universidade nem centro de investigação. Tem um laboratório em casa e é auto-suficiente, o que já não fazia sentido em pleno século XX. É um cientista de múltiplas habilidades. Inventa submarinos individuais, máquinas de escovar roupa, aparelhos de produzir água gaseificada, armas de ultra-sons, foguetes espaciais e patins a motor. Dedica-se à botânica, à física nuclear e a múltiplas outras disciplinas. Os cientistas do século XX não podiam já dispersar-se em tantas actividades.

Os cientistas de Tintin são pessoas distraídas que ignoram a realidade prosaica da vida. O astrónomo principal da «Estrela Misteriosa» está contente por ser o primeiro a prever o fim do mundo. Diz que depois do cataclismo será famoso... Tintin é submergido pelos cálculos de que ousa duvidar.

No mesmo álbum, a expedição ao meteorito que caiu sobre o Árctico é financiada por um Fundo Europeu de Investigação Científica. Só décadas mais tarde foram criadas estruturas europeias com objectivos semelhantes. Na «Estrela Misteriosa», descreve-se uma expedição de cientistas de várias universidades europeias que vão procurar o meteorito. Entre eles vê-se «Pedro João dos Santos, um conhecido físico da Universidade de Coimbra». É a personagem no centro da cena de «Vitória!!», careca e de bigode escuro.

Os fenómenos naturais

Hergé explorou várias vezes fenómenos naturais relativamente raros e certamente nunca observados pela maioria dos seus leitores, daí o maior poder sedutor das cenas. Entre esses fenómenos surgem as miragens, provocadas pela reflexão da luz junto do solo quente dos desertos, onde o ar está mais aquecido. Essa reflexão é apenas o resultado da refracção da luz, que muda progressivamente de direcção ao atravessar camadas sucessivamente mais quentes de ar. Como consequência, o solo parece um espelho que reflecte o céu, daí a ilusão de um lençol de água, a que a mente ansiosa do viajante acrescenta umas palmeiras e uma visão de oásis.


O fogo-de-santelmo — no dizer de Camões «o lume vivo que a marítima gente tem por santo» (Lusíadas, V, 18) — aparece no «Tintin no Tibete». Tintin explica ao capitão Haddock tratar-se de um fenómeno meteorológico. Com efeito, o fenómeno consiste numa descarga eléctrica observada em torno de mastros de navios ou de outros objectos pontiagudos quando a atmosfera está carregada de electricidade estática, como acontece nas tempestades. Nessas condições, cria-se um campo eléctrico muito forte em torno do objecto saliente e produz-se uma descarga. Os electrões dos átomos da atmosfera circundante são arrancados das suas órbitas e regressam ao seu estado normal emitindo luz.

Nas aventuras de Tintin, Hergé também se engana. É o caso do arco-íris que aparece nas «Sete Bolas de Cristal». Aí, curiosamente, o autor desenha erradamente a sequência de cores. De fora aparecem o violeta e o azul e, no interior, o laranja e o vermelho. Na realidade, os arco-íris apresentam as cores em ordem inversa. Com efeito, o fenómeno deriva da desigual refracção das diversas componentes da luz do Sol nas gotículas de água das nuvens.

A luz com menor comprimento de onda (azul) é mais refractada; a de maior comprimento de onda (vermelho) é menos. Porque se terá Hergé enganado? Pode ser que o ilustrador se tenha inspirado em desenhos ou fotografias de um arco-íris duplo — nesse caso, raro, aparece um segundo arco colorido, exterior e concêntrico com o principal, com as cores invertidas. Mas no desenho aparece apenas um arco-íris simples, pelo que o erro é claro.

Os fenómenos naturais descritos por Hergé não ficariam completos sem um espectacular eclipse solar, que aparece em «Templo do Sol». É uma das cenas mais curiosas das aventuras de Tintin. Sabendo da previsão de um eclipse total, o nosso herói finge ter poderes de comandar o céu e apagar o astro-rei. Os desenhos mostram com grande realismo as diversas fases da ocultação da nossa estrela pela Lua e o efeito de pavor provocado nos Incas. A cena terá sido inspirada num episódio verídico passado com Cristóvão Colombo ou em episódios semelhantes, reais ou inventados, que abundam na literatura de viagens aventurosas. É uma das cenas inesquecíveis das aventuras de Tintin.

Anónimo disse...

tenho os livros todos!!! Hehehe

Hélder Aguiar disse...

Uma homenagem mais que merecida!

Anónimo disse...

Meus meninos toca a publicar posts....entao?

Nao deixem o blog morrer...