Chris Lavis e Maciek Szczerbowski (2007)
Madame Tutli-Putli é um pequeno filme de animação canadiano, em stop-motion, que recorre a uma técnica já experimentada em outros filmes do género, de forma a sobrepor imagens, recolhidas de actores reais, nos bonecos que servem de modelos às personagens do filme. Se outras tentativas, nomeadamente a sobreposição de bocas, careciam de sentido estético, a sobreposição de olhos, neste caso, revelou-se fascinante, imprimindo aos bonecos um ar extra de realismo e expressividade, dificilmente igualado por qualquer outra técnica.
Em termos de realce, os impressionantes efeitos visuais são a sua mais indistinta virtude, por obrigar o espectador a ler as emoções nos olhos das personagens, enquanto é presenteado por uma miríade de detalhes que compõem os acessórios que acompanham as personagens e ambientes de cada cena. O árduo e longo trabalho que os autores tiveram de empreender (4 anos), para os curtos 17 minutos de filme, não levou a que descuidassem nenhum pormenor, inclusivamente a banda sonora que cumpre perfeitamente o seu papel de acompanhamento da acção - inicialmente mais bonacheirona, e cada vez mais etérea à medida que se aproxima o final.
Se em termos técnicos Madame Tutli-Putli está irrepreensível, o argumento conquista pelo mistério, remetendo-nos para um universo muito David Lynch, que imprime a derradeira força a esta fábula, reclamando ao espectador a imaginação, antes do aplauso final que já lhe valeu vários prémios, incluindo a nomeação para o Óscar de melhor curta de animação, em 2007.
Madame Tutli-Putli é uma personagem triste e delicada (Tutli-Putli é uma palavra hindu que significa marioneta e mulher delicada), que embarca numa viagem de comboio, carregada de bagagens. Não se conhece a sua voz, nem a de nenhuma outra personagem, e isso também não seria necessário, porque a sua viagem e o seu destino partilham uma incontornável lição de vida – são as pequenas coisas que dão brilho à vida, por muito tralha que cegamente e teimosamente continuemos a arrastar desnecessariamente atrás de nós. Muitas vezes, só o sonho e a mais pueril fantasia conseguem baralhar a realidade.
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