“O homem antigamente procurava a alma, hoje procura as coisas, mas não percebe que o que importa é a alma das coisas.”
D. Manuel Clemente, bispo do Porto, foi o vencedor do prémio Pessoa 2009, um prémio concedido anualmente a personalidades de relevo da vida artística, literária ou científica do país.
Não perderia aqui o meu tempo a destacar uma notícia - mais do que publicitada em todos os órgãos de comunicação social -, não encerrasse ela, no premiado, o exemplo da inteligência, sabedoria e bom senso, que eu me tenho habituado a admirar no carácter humano.
Vivemos numa época em que a moda dita o rebate a tudo o que envolva fé e religião. A laicização das sociedades ocidentais permitiu-nos subir, em catadupa, uma série de degraus na dignidade individual; aproximou as pessoas nas suas diferenças, não obstante, a desumanidade, ganância, venalidade e exploração da “boa fé” dos outros, que parece ser transversal ao tempo e ao nosso ser, independentemente de como as diferentes sociedades se vêm organizam.
A tolerância, mesmo nas sociedades ditas democráticas, que têm como mais inabalável baluarte a liberdade, é um bem raro, uma virtude frágil, nestes dias luminosos de hipócrita indulgência.
Abjecto fundamentalismos, sejam de que espécie for (talvez por isso sejam eles as minhas fontes favoritas ironia), religiosos ou anti-religiosos deturpam e fracturam as sociedades, e toldam de forma ignóbil os espíritos mais susceptíveis. Estas forças opostas à tolerância, que furiosamente excluem e têm a certeza que os outros estão sempre em erro, proliferam entre laicos, ateus, agnósticos, crentes e presbíteros – comerciantes ou profissionais da ajuda em troca da fé, da alma, da consciência, do voto ou da moeda.
Ouvir e ler D. Manuel Clemente é um exercício de serenidade, contenção e de respeito pelos outros, de alguém que tenta compreender o que se passa em seu redor para se corrigir a si próprio. É no diálogo para fora da sua cátedra, que se tem distinguido, nestes tempos em que falar só para os seus parece ser um vício de várias profissões e ofícios, resguardando o restrito círculo privilegiado da sua influência, sobrevalorizando-se aos demais e explorando os incautos. O supracitado tem-se oposto a tudo isto, demonstrando que para lá de ideologias políticas ou teológicas, “o critério é sempre a pessoa humana”, como referiu num dos seus textos.
3 comentários:
Não deveriam todos os diáconos serem assim?
Não devíamos todos, pelo menos, tentar ser assim?
Essa pergunta retórica merece a força incondicional de uma palavra. A resposta é sim =)
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