Stalker de Andrei Tarkovsky (1979)
Género: Aventura / Mistério / Drama / Ficção Científica
Este é um daqueles filmes raros, geniais, capazes de elicitar em nós sensações nunca antes experienciadas. Muitos apelidam Tarkovsky de profético, por este idealizar os cenários fantasmagóricos e decrépitos da zona em redor do desastre de Chernobyl, 10 anos após o filme. O filme centra a sua narrativa na "Zone", tal como seria apelidada a área consumida pelo desastre nuclear, uma zona inóspita nos confins da União Soviética, maldita pelo Homem, encerrada por arame farpado e dispositivos militares, onde parecem ocorrer fenómenos fora do alcance de uma explicação lógica, após a suposta queda de um meteorito.
Dentro de todo o mistério e horror que a "Zone" encerra, existe o "Stalker", aquele que atingiu, inexplicavelmente, o notável feito de regressar da área maldita, após nela ter entrado por diversas vezes - o único homem que a "Zone" parece querer poupar. Para este, a Zona é seu derradeiro local na Terra de paz interior, bem distante da miséria e sofrimento que o atinge na cidade onde vive - verdadeiro aforismo às condições sub-humanas vividas pelo povo russo. Apesar da sua decadência e aspecto sinistro, a Zona é o seu paraíso metafórico. Tarkovsky fora absolutamente brilhante em traduzir ao espectador, visualmente, o impacto interior que os dois locais lhe provocam. O propósito da vida do Stalker transformou-se em revelar a sua descoberta interior a outros homens, escolhidos por ele. Os que sente que estão preparados para o sentir. Esta não é apenas uma viagem no seu sentido literal estrito, física. É bem mais que isso. É uma autêntica jornada interior, reflexiva, um local interiormente idílico que serve de base à sua filosofia fascinante - a evolução da condição Humana.
Por todo o lado corre a crença que quem o acompanha na sua regular viagem parece conseguir realizar um desejo. Desta feita, a sua escolha recai em dois personagens intelectuais: um famoso escritor, cínico, que alega ter perdido toda a sua inspiração; e um físico, pragmático, que parece dar mais valor à moxila que carrega do que à viagem em si. Ao longo da trama vai-se atingindo o verdadeiro propósito que os levou a encetar esta perigosa viagem, através de sucessivas discussões verdadeiramente inteligentes entre dois intelectuais de áreas tão distintas, bem como, no final do filme, se estarão mentalmente preparados para uma decisão esmagadora que os iria mudar para sempre.
"Que acreditem! Que riam das suas paixões.
Porque o que consideram paixão,
Na realidade não é energia espiritual
Mas sim fricção entre a alma e o mundo externo
(...)
Quando o Homem nasce, é fraco e flexível
Quando morre, é duro e insensível
Quando uma árvore cresce, é tenra e pliável
Mas, quando seca e dura, morre
Dureza e força são os companheiros da morte.
A flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser.
Por isso, quem endurece, nunca vencerá."
"Sim, sou um piolho.
Nada fiz neste mundo, nem nada posso fazer.
Nem à minha mulher dei nada.
Não tenho amigos. (...)
Privaram-me de tudo lá, além do arame farpado.
Tudo o que tenho está aqui! Compreende?
Aqui na Zona!
A felicidade, a liberdade, a dignidade, tudo está aqui!"
Veredicto: 10/10
8 comentários:
Estas "reviews" de filmes estão a tornar-se verdadeiramente míticas, quais bombons açucarados para a nossa curiosidade, tão talentosas como os clássicos que nos apresentam - indispensáveis.
Fico radiante de te ter podido transmitir um pouco do quanto o filme me tocou, meu querido Shihan.
Mais curiosidades do filme:
Os três principais actores do filme, apesar do filme não ser tão antigo quanto isso, já faleceram. Aleksandr Kaidanovsky, o Stalker, que veria ainda um filme seu (era também director) ser nomeado pelo Fantasporto em 1991 na categoria de melhor filme, faleceu em 1995 como consequência do seu incontrolado alcoolismo.
Um dos dois prémios internacionais do filme fora recebido em Portugal, no Fantasporto em 1983 (2ª edição do festival portuense). Pela impossibilidade de receber o prémio de melhor filme (dado o intervalo temporal) foi-lhe concedida uma menção honrosa por parte do juri. O outro fora recebido em 1980 no festival de Cannes (melhor filme). Parabéns Fantasporto.
Many people involved in the film production had untimely deaths. Many attribute this to the long and arduous shooting schedule of the film as well as toxins present at the shooting locations.
Francamente perturbador, e pode mesmo ser verdade.
O responsável pelo som no Stalker, Vladimir Sharun, dá os seus factos:
"Filmamos em Tallin numa área em redor de um pequeno rio, Pirita, com uma central hidroeléctrica a meio gás. Acima no rio estava uma central química que descarregava um líquido tóxico pelo rio abaixo. Há mesmo esta cena no Stalker: neve a cair na parte final do Verão e uma substância branca no rio. Era, de facto, um veneno horrível. Muitas mulheres da nossa equipa ficaram com reacções alérgicas na cara. Tarkovsky morreu de cancro nos brônquios. E Tolya Solonitsyn [o actor que faz de Escritor] também. Esta conexão ao local das filmagens tornou-se clara quando Larissa Tarkovskaya morreu da mesma doença em Paris."
Antes de mais, gostaria de salientar o bom gosto do Nimpo... Parabéns! não só conheço bem o filme como o tenho no meu pc. Muito há para dizer, mas julgo que terá mais propósito quando todos o virem de forma a criar um debate à sua volta.
Gostaria também de deixar o meu desagrado pela segregação manifestada pelo Nimpo em relação ao "o shihan". É notório que desde há uns tempos para cá o Nimpo só coloca análises de filmes que o "o shihan" não compreende ou jamais compreenderá, o que só não é maldade porque "o shihan" não chega a compreender que não compreende, o que é aliás compreensível face há flexibilidade mental com que este (O Shihan) nos presenteia a cada comentário. Peço portanto ao Nimpo um pouco mais de compreensão. Compreenderá concerteza o que falo, ainda que para outros seja incompreensível... Há desígnios da natureza que não se compreendem...
Está portanto compreendido, que aqueles que não compreendem jamais compreenderão a profundidade de uma incompreensão, e que por mais incompreensível que eventualmente pareça apenas o é face às limitações compreensíveis por parte daquele que não compreendem o inincompreensível...
O eucinéfilo, está de volta, e a cada comentário revela cada uma das suas particularidades que já conhecemos. Crítica os outros sem conhecimento de causa, quando não tem mais nada para criticar, demonstrando uma das características humanas mais desprezível, o sentido de hierarquias, usadas unicamente para exibir imaginadas superioridades sociais.
Acredito que seja divertido para alguém que tem passado os últimos tempos enfiados em casa vir para aqui mandar postas de pescada, elaborar grandes testemunhos só para picar quem se deixa picar. É por própria recreação, que defende aqui conceitos dos quais tenho a certeza que não são os seus. Acho piada, e nem me importava se este joguete fosse feito noutro sítio que não este.
Como o assunto é o filme e não a incompreensão de quem não o viu - só o eucinéfalo é que estaria à altura de compreender algo que ainda não teve oportunidade de compreender -, como há outras pessoas que vem cá e me perguntam que nabo é este? Modere o discurso e limite-se a comentar o que foi escrito, com educação e sem acometimentos, sob pena de não ter mais espaço por aqui a sua maledicência.
Ideia de última hora: Porque não abre um espaço próprio só para a crítica à minha pessoa? Olhe que me deixava tremendamente lisonjeado! Gosto da crítica e do insulto barato, não porque goste menos deles, mas, porque é divertido ouvir a retórica de alguém que não sabe do que fala. Tipo os ministros do PS. Faça-me esse favor, assim dá lugar à palavra do outros, em vez de perdermos tempo nestes comentários com esterco.
Ai, meu caro Eucinéfilo, que bom te-lo por cá. Mas que fixação essa pelo Shihan, devo-lhe dizer! Deve divertir-se muito com o humor do nosso ilustre, caso contrário não se ocuparia tanto em arreliá-lo. Sem dúvida nenhuma que todos apreciamos o humor satírico do Shihan, sobretudo quando estimulado, e por isso não o censuro. No entanto, deve ter mais em conta o peso e a medida das suas palavras, que desta vez atingiram níveis de injúria e calúnia sem precedentes. Procuremos continuar as nossas divagações existencialistas no mais alto dos níveis, na candura e dignidade de respeitosos cavalheiros que, presumo, todos nós somos.
Não querendo continuar a "Ode à compreesão", é quase incompreensível a reacção de "o shihan".
De todos aqueles que por aqui escrevem e comentam (que basicamente se resumem a dois), é o "o shihan" aquele que mais aprecio, caso contrário não teria advertido o Nimpo para as limitações do mesmo... Fi-lo por amor, fi-lo porque não sou justo, tenho preferências e o meu preferido é você "o shihan"! Não diga agora que pouco lhe interessa tal distinção, pois quem se chateia tanto com meras palavras de alguém que segundo você mesmo, é absolutamente desprezível, tem obrigatoriamente de sentir alguma necessidade de ser acarinhado pela pessoa que proferiu tais palavras.
Quanto às hierarquias sociais, serei provavelmente de um grau hierárquico mais baixo que aqueles que aqui comentam... A hierarquia intelectual nem sempre corresponde à hierarquia social.
Pelos visto conhece-me, ou pensa que me conhece... deduzo-o pelo comentário que faz referindo que passo o dia todo em casa.. Lamento desiludi-lo, mas todos os duas saio da minha humilde casa por volta das 8 horas e regresso apenas 12 horas depois... é a mais pura das verdades, talvez a mais pura de todas as que aqui disse.
Meu caro "o shihan", se deseja que eu não comente, diga-o que nunca mais lê um caracter meu. Faço os meus comentários não por auto-recreação mas por puro altruísmo..Se não deseja receber aquilo que tenho para dar, sairei da mesma forma que entrei...Se a minha evidente superioridade o incomoda, se esta fere de morte a sua auto-estima, o seu ego, desvanecerei...talvez um dia se esqueça que há alguém, por aí, tão superior..
Meu caro "o shihan". Comentarei tudo o que pedir que comente, como aliás já o fiz. Mas fa-lo-ei dentro de uma liberdade que por vezes será incompreensível para si. Comentarei da forma que desejar, sob pena de se não o fizer, deixar de ser o meu comentário...
Por fim, nunca iniciaria um espaço somente para o criticar.. gosto de si, mas não o suficiente para tal...
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