O admirável mundo louco em que vivemos
Que me perdoe Hemingway por tão rude golpe ao seu conhecidíssimo livro! Mas talvez me conceda, no final de contas, esta pequena graça. Falo-vos das segundas eleições democráticas na história de Angola, país da África sub-Sahariana, cerca de 16 milhões de habitantes, "apenas" o 7º maior produtor mundial de petróleo (1,7 milhões de barris por dia, fundamentalmente por Cabinda, a província despegada do país que deseja ser independente...) e 4º maior produtor mundial de diamantes, para além de produtor de outros indindáveis recursos minerais, dos quais destaco o ouro, e de inúmeros produtos agrícolas (4º maior produtor mundial de café) fruto de um extensíssimo território.
Apesar da proibição da entrada no país de inúmeros jornalistas, das declaradas irregularidades nos cadernos eleitorais, e mesmo de coacção psicológica pela presença de militares, de membros do actual governo e de várias oferendas distribuídas nos locais de eleição, a UE declarou-as como válidas, Portugal seguindo o mesmo exemplo (ou não fossemos o 2º maior exportador para o país...). À volta de 80% dos eleitores do país pronunciaram-se pelo MPLA, o partido que governa o país. OsAmendoisdoRicky desejam felicitar os dirigentes Angolanos por tão saudável e pacífico ambiente democrático que, sem dúvida, reflecte os seus desejos de "transparência" e de "exemplo para o continente Africano".
Perante a pujança de tal escrutínio, revelando uma confiança inexcedível por parte do povo Angolano, outra coisa não esperaremos senão um progresso geral e social condizente com a riqueza exportada e com o crescimento anual de 21.1%. Não vemos como tal prosperidade não se possa traduzir num abatimento efectivo da corrupção e das mordazes desigualdades sociais, acessível ao simples clique do google maps (se quiserem, experimentem vós próprios em Luanda):
vs
Por último, esperemos todos que, pelo outro lado do Atlântico, se saiba dignificar o valor do intelecto e do raciocínio, da lógica e dos ideais. Não que duvide, afinal de contas trata-se de um povo tão instruído, seres humanos dotados de liberdade para reflectir individualmente... fundamentalmente, invocar todos os erros, todas as mortes inocentes e consequências catastróficas que se sucederam no regime em vigor. Óbvio que não vão transformar uma disputa eleitoral num confronto de raças, credos ou conquistas individuais, ou num confronto de personagens de telenovela. Por mil cruzes, que receio tão disparatado e infundado : )
"Introduce a little anarchy... upset the established order... and everything becomes chaos" by Joker, The Dark Knight
Edit de 21/09/2008: E que Huxley me perdoe por chamá-lo de Hemingway! Ah, por mil Harrisons. Obrigado Jonie Bats : D